No covil das víboras

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Já fazia quase 30 minutos que a festa havia começado e alguns dos amigos de Cebola começavam a perceber sua ausência. Algumas ligações para seu celular, mensagens de texto e WhatsApp's enviados e não visualisados ou mesmo recebidos, fizeram com que se formassem várias teorias. Porém a maioria imaginava apenas que o rapaz estava em casa ocupado com algum afazer.

-Ele deve ter tido algum probleminha em casa e logo estará lacrando ao meu lado! Meu boy é assim, imprevisível! -disse Denise, não tão convicta assim.

...

MATA DA MOITA - 8km do Bairro do Limoeiro

Cebola sentia gosto de sangue na boca. Já havia apanhado o bastante para uma vida. E mesmo assim o homem negro com um olho cego não pareceu satisfeito. Indo até a cela improvisada onde o ex troca letras se encontrava preso, atado ao teto por correntes que prendiam seus pulsos, o baita negão jogou um balde de água gelada e com certeza nada limpa sobre o rapaz, que apenas urrou de susto e frustração misturados á dor perfurante do frio repentino.
Neste momento uma segunda pessoa entra no pequeno casebre. Um homem de terno muito surrado e trejeitos de gigolô de esquina, sorri com dentes tortos para o rapaz naquela situação humilhante a sua frente.

-Mas este é um bom dia mesmo para pagar dívidas, não é mesmo meu caro Douglas? - diz, olhando para o negro fortão. Este, apenas sorri maliciosamente em concordância. -Pois bem! Olhe aqui, moleque... Você não sabe e nem precisa saber o motivo de estar sendo tratado assim. Só vim até aqui para dizer que o Toni manda lembranças. Que você não se incomode com sua namorada ou seus amigos, pois na sua ausência, todos terão muito com o quê se preocupar!
Cebola tremeu de raiva ao ouvir palavras tão absurdas e até onde ele podia conceber do motivo daquilo tudo, sem lógica alguma. Afinal... Qual seria o motivo de Toni odia-lo tanto?

-V-você e o Toni vão pagar por isso! Eu nunca fiz mal algum praquele doente! -disse, tomando bastante fôlego e mesmo assim tocindo, devido os socos recebidos no estômago a alguns minutos.

-Ora, ora... Você não acha que eu ligo, ou mesmo sei dos motivos do meu contratante, acha? Nossa, como estes jovens de hoje são alienados! Veja só meu caro... Eu apenas cumpro ordens. Me mandaram te dar um molho e dar um sacode na mexeriqueira da sua namoradinha. E é isso que vou fazer!

-DEIXEM A DENISE EM PAZ SEUS CANALHAS! VOU ACABAR COM VOCÊS! - Cebola rugiu com toda sua força, puxando as correntes e inclinando o corpo para a frente. Ele sabia muito bem que jamais teria chance contra aqueles homens, mas nem por isso deixaria de demonstrar sua perplexidade para com a ameaça á sua namorada, que nem ali estava.

-Humm... Você tem raça meu caro, isso é fato. Mas como não gostamos de discutir muito com nossas vítimas... - o sujeito olhou para o comparça de um olho só e acenou. - Você vai apanhar um pouco mais e depois será largado em algum lugar para refletir sobre sua vida e, ah! E é claro... Morrer.

...

NA FESTA

Denise sentava e levantava do puf em que estava a cada minuto. Aquilo já estava ficando ridículo. Onde seu namorado teria se enfurnado?

-Cê... Por favor amoreco, não faz isso comigo vai...

-Tudo bem Denise? - perguntou Magali, chegando perto do balcão dos quitutes, ao lado da ruiva. -Não vi o Cebola ainda. Aconteceu algum imprevisto?

-Espero que seja só isto, Magalinda... Espero que seja só um imprevisto básico. - concluiu falando baixo, como que mais para si mesma.
Denise não era de se deixar assustar, mas seu alarme interno soava horrores naquele momento. E apenas uma imagem lhe vinha á mente naquele momento: um loiro de aparência deslumbrante e coração negro como o espaço sideral.

-Toni, Toni... Se você fez algo ao meu Cedelícia... Pode encomendar seu funeral. - disse, pegando seu celular e discando um número que a tempos não discava. - Oi. Sou eu. Preciso cobrar AQUELE favor...

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