O Funeral

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Aquele fim de semana não foi absolutamente nada do que nossa turma esperava. Até a hora que a agência funerária chegou e começaram a preparar a casa dos pais de Quim para o velório, quase ninguém acreditou que aquele fato estivesse realmente acontecendo.
Magali precisou ser levada a um posto de saúde no dia anterior, quando soube por Maria Melo a trágica notícia. Seu estado de saúde se estabilizou mas seus nervos não permitiam que ela pudesse presenciar o momento da chegada do esquife, que trazia o corpo inerte daquele que fora não só seu namorado, mas muito mais um amigo, por mais de dez anos de sua vida.
Francine também teve de ser hospitalizada, porém teve de ficar um dia em observação, devido o trauma resultante daquele episódio. Seu Joaquim chegou na tarde daquele mesmo dia. Uma irmã o trouxe de carro particular. Ninguém pode ter palavras para descrever a dor e o horror daquele pai. A cena de seu Joaquim agarrado ao pé da maca do filho no IML, não sairia da mente nem mesmo dos funcionários dali, já tão habituados a momentos como aquele.
Meio-dia seria o cortejo fúnebre. E todos os amigos, antigos ou atuais, de Quim estavam ali para dar-lhe o último adeus.

-Ele vai fazer muita falta. - disse Cebola, abraçado á Denise, que apesar das aparências, tinha o filho do padeiro em muita estima. Certa vez no ensino fundamental, o rapaz havia salvo a garota das marias chiquinhas de reprovar em ciências, a ensinando uma receita química para uma apresentação de fim de ano. Até hoje ela lembrava disso.

-Verdade amore. Não dá pra nem acreditar. Jamais me acostumarei com mortes.

-Não é só você, Denise. - disse Aninha, que estava por trás do casal. -O Quim ou qualquer dos nossos amigos, são como partes da gente. É como se arrancassem uma parte do nosso ser. - Aninha trabalhou um tempo na padaria do seu Joaquim, o suficiente para criar um forte laço de amizade com Quim.

-Eu não papeava muito com ele, mas posso dizer que era um sujeito único. Sempre disposto a se doar pela felicidade do pai pão duro... - falou DC, levando uma leve bronca de Mônica, em forma de um olhar severo. -Que foi? Menti?

-Seja mais sensível ao dar suas opiniões amor. Principalmente em situações assim, né?

-Ok. Vacilo.

Muitos outros amigos vieram prestar suas últimas homenagens ao jovem, e entre estes, uma garota cuja qual ninguém imaginava que conhecesse ou tivesse algum tipo de contato com Quim. Ela estava fora do país e poucos a reconheciam agora, apenas Mônica, Cebola, Denise e Do Contra se deram conta de quem se tratava.

-Mô, aquela não é a...

-Penha. É sim DC, mas além de ser estranho ela aqui, não lembrava dela ter algum contato com o Quim.

-Ela é prima dele. - disse Cebola, se aproximando dos dois e saindo em seguida, deixando uma Mônica perplexa. -Venha, Dê, preciso ligar pro Franja, ele não pôde vir e me pediu pra avisar que horas será o enterro.

E assim tudo aconteceu como tinha de ser. Um dia negro para a juventude do Bairro do Limoeiro.

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