Histórias que o Bairro do Limoeiro Conta

Na casa do Cebola

- Pô careca! Me deixou ganhar de novo?! - reclamou Cascão após eliminar seu amigo no jogo de video-game pela décima vez seguida - Olha mano, sei que você está mal, mas ficar emburrado assim não resolve nada.

Cebola mal escutou as últimas palavras do amigo. Estava realmente se corroendo por dentro. A semana de provas, a situação financeira da família precária, as armações do Toni, e agora mais uma gigantesca mancada sem precedentes com a pessoa que ama. Tudo estava indo mal. Aliás, mal é pouco. Precisava retomar as rédeas de sua vida. Nem mesmo visitar sua amiga Irene ajudaria agora, pelo contrário até, se Mônica ousasse sonhar que ele foi até o bairro vizinho "passear", nunca mais teria uma única chance com sua amada.

Só havia uma pessoa que poderia ajuda-lo neste momento.
- Olha Cascão, não é por nada não, mas neste momento preciso de sossego. Preciso bolar um plano infalível... Cascão? - o outro já havia pulado a janela e saia pelo portão. - Bom, melhor assim. O Cascão é meu melhor amigo, mas quando envolve guardar segredo...

...

- Ok, tô fora destes planos infalíveis já faz anos, não é agora que vou querer me envolver e terminar de olho roxo, ou quem sabe coisa pior! - dizia, enquanto caminhava ao lado de Magali, que o encontrara a poucos minutos, saindo da casa de Cebola.

- Ai, ai, vou dizer uma coisa Cas, se aqueles dois não se acertarem logo, não teremos paz pelo próximo ano inteiro.

- Verdade. Ei Maga, você quer tomar um sorvete? Todo este moído de Cebola, Mônica e Toni estão acabando com minhas energias.

- Oh, sinto muito Cas, mas hoje eu vou sair com as meninas. A Dê conseguiu convencer aquela cabeça dura a passear no Shopping. Não posso dar bolo.

-Ah... Entendo. Tudo bem então. Vou passar lá no Franja, ver se ele consertou meu skate.

- Não fica triste, marcamos outra coisa ok? - diz, dando um rápido beijo em sua bochecha e entrando em casa.

- Ok, tchau Maga. - responde retribuindo o beijo.

Engraçado como desta vez sentiu ali um vazio muito estranho na região do abdômen. Não estava com fome e nem havia treinado parkour... Estranho.
Magali saiu caminhando para a sala e pensando no quanto tinha sorte por ter Cascão como amigo. Ele a fazia rir e sempre amenizava o estresse que era ter que aguentar o relacionamento bagunçado dos outros dois amigos. Cebola era legal, mas não era do tipo cativante, e Mônica era sua melhor amiga, porém estava sempre com algum problema cabeludo para ser resolvido. Cascão podia até ter seus problemas, além de ser um tanto quanto "viajado", mas estava sempre de bom humor.

- Ai ai, Cas, o que seria de mim sem você? - pensou alto, deu um suspiro e continuou rumo ao seu quarto. Nem viu sua mãe, parada na porta dos fundos.

- Huumm...