Francesinha á solta

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Cascão caminhava sonolento até o parque no centro. Havia ficado de pegar uma peça de PC emprestada com Titi, a pedido do Cebola. Um mês havia se passado após a tragédia ocorrida com o filho do padeiro. Mesmo assim havia um ar de luto em alguns dos nossos jovens. Foi uma barra para Magali se conformar com o ocorrido, e se não fosse a paciência e o carinho que Cascão a oferecia, dificilmente a comilona sairia de casa novamente.

Cascão havia acordado cedo para lavar o carro do pai (sua fonte de renda básica), e ainda bocejava ao se aproximar da pracinha. Titi não havia chegado ainda. Isso frustrou o ex sujinho profundamente. Então resolveu praticar algum esporte para passar o tempo e espantar o sono. A opção mais lógica para o momento foi o Parkour. Primeiramente era necessário um alongamento, para estender e preparar o músculos da pernas. O rapaz escolheu um dos degraus do centro da pracinha, onde havia uma espécie de "palco" para os pronunciamentos políticos e/ou eventos municipais. Agachado, Cascão esticou uma perna a sua frente, depois a outra. Uma pessoa parou bem á sua frente neste momento. Era uma garota, mas o sol atrapalhou a visão do rapaz, quando este olhou para cima, tentando identificar a estranha.

-Humm... Se magnific! Ulalá, quem diria que aquele moleque sujeirento um dia teria músculos, ah? - disse a garota, revelando um estranho sotaque anasalado.

-Quem... Quem é você moça? Desculpe mas... - Cascão coçava os olhos encandeados pela luz, e assim que se levantou, a face garota estava a centímetros do seu rosto. Ela era linda de doer. Morena, pele branca como leite, lábios volumosos e olhos frios como um iceberg. "Eu conheço estes olhos de algum lugar". Pensou.

-Ora, ora Cascon. Não se lembra meeesmo de mim. Vocês me temiam como o diabo foge da cruz... Acho que fiquei muuito tempo forra mesmo. - disse ela, passando uma mão descaradamente pelo abdômen do rapaz, e com a outra, brincava com a alça de sua regata. Cascão suou como se já houvesse treinado por horas.

-Pe... Penha? No-nossa... Você, ahm, eu lembrei que eu tenho que voltar pra casa. Muito bom te ver. Você ta linda, digo, ahm... Tchau! - o rapaz saiu correndo. Percebeu que se ficasse mais um segundo ali, seria um cara solteiro novamente. A garota observou a atitude quase desesperada do rapaz, com um sorriso malicioso na face.

-Humm... Parece que ainda funciona afinal. - disse para sí mesma, indo em direção de sua casa nova, uma mansão na parte mais rica do Limoeiro.

Tantos anos e aquela garota ainda era tão perigosa como na época deles pequenos. Pior. Agora sua beleza era arrebatadora. Os garotos que se cuidassem, afinal nem todos tinham o auto-controle do Cascão.

...

CASA DO DO CONTRA

-Estou estranhando esse sumiço da Carmem. Faz um mês e meio que ela não fala comigo e não aparece aqui em casa.

-Eu também acho estranho. Ela era minha arma secreta para aquele caso que te falei, da atual namorada do Cebolitos. Mas também não tenho contato com ela. Mas quer saber Maurício? Nem é grande perda, não é? Igual aquele gordo que eu... Digo, bom, tem muita gente inútil neste mundo. Quando uma desaparece não é problema.

-Aham. Porém ainda assim é estranho. Agora me diz Toni... Que gata aquela francesinha que tá por aí, heim? - diz Do Contra jogando sua revista de culinária cambojiana para o lado.

-É mesmo. Se brincar dá de dez a zero na Carmem. Só que aquela ali é osso duro. Lembra do boato de que ela passou um tempo num sanatório?

-Sei. Quê que tem?

-Eu soube que ela arrancou o olho de um ex-namorado que ela pegou espionando uma amiga dela pela fechadura. - disse, esfregando as mãos uma na outra. -Eu bem gosto de garotas assim, hehehe!

-Pois cuidado para não perder coisa pior do que um olho apenas.

-Quer dizer o quê com isso mano? - Toni encheu o peitoral, como para amedrontar o outro, mesmo sabendo que isso não funcionaria com Do Contra.

-Nada, relaxe. Estou apenas dizendo para não subestimar alguns tipos de mulheres.

-Aham, tô ligado nessas coisas camarada. - disse, lembrando-se das palavras que Denise lhe dirigiu naquele dia, e da ousadia em sua atitude. Levantou-se em seguida. -Bem... Vou nessa. Dê um beijo na Mônica por mim companheiro. Háháhaáhá...

-Maldito. Ainda arranco este sorriso da sua cara. - respondeu, porém estava de costas para o outro.

Histórias que o Bairro do Limoeiro ContaOnde histórias criam vida. Descubra agora