Histórias que o Bairro do Limoeiro Conta

O primeiro beijo

Cascão esperava encontrar tudo, menos uma Magali totalmente produzida, linda como uma bela manhã de Novembro. Ele apenas parou de olhos arregalados, diante da porta da casa dela, na hora exata em que a ex-comelona saia para fora. Ela usava uma blusa amarela com mangas curtinhas e estampa de coração, saia de cor goiaba até a canela e sapatilha da mesma cor. Tinha os cabelos molhados, provavelmente deixou assim devido o calor daquela noite.

-Uol! V-você está... L-linda. - disse por fim, saindo do "transe" e coçando a nuca, tentando não dar tanta bandeira assim.

-Own, obrigada Cas. Você também está muito fofo. Vamos? Estou faminta.

-Hehe, diga uma novidade. - disse ele, colocando-se ao lado dela. Sentia seu perfume entrando no cérebro. Aquele nostalgico aroma de melancia era inebriante.

-Seu bobo! Pelo menos você lembrou de tomar banho... - rebateu a garota, dando um pequeno peteleco no ombro do rapaz. Ele estava mesmo bonito, vestindo roupas leves, camiseta do Cosmo Guerreiro novinha e calça caqui com tênis cano alto. Levava consigo um casaco moletom. Nenhuma novidade, afinal para Cascão, sempre poderia chover de repente.

-Aff! Quantas vezes vou ter que dizer que agora... - calou-se com a atitude inesperada da garota. Magali pegou sua mão e entrelaçou seus dedos com os dela, chegando bem perto dele e apoiando a cabeça em seu ombro.

-Sabe Cas... Estou precisando esquecer de tanta coisa. Minha vida está uma bagunça. Até minhas notas da escola estão decaindo. - disse, fechando os olhos.

-Her... Eu entendo perfeitamente. Também não tá fácil pra mim. E com tudo que aconteceu depois da briga com a Cas... Bom, esquece! Estamos aqui pra esquecer não é? - ele apertou a mão da garota e olhou em seus olhos. -Vamos fazer isto certo então.

-Uhum. Ei! Olha! Uma barraca de churros! - ela puxou o ex-sujo pelo braço, com o maior dos sorrisos estampado no rosto.

-Eita! Parece até a Mônica! - bradou, sem opção a não ser ir junto. Era tão surreal. Estava sentindo algo tão forte por sua melhor amiga. Parecia errado, e ao mesmo tempo, era tão bom.

Magali pegou três churros, e enquanto Cascão pagava, o observou por um segundo, como tirasse uma foto na mente. Aquele sorriso torto e despreocupado, aquele cabelo antigamente encebado, agora cheirando a coco. Seu jeito despojado era único. Além de ser o garoto mais sensível que Magali conhecia, Cascão sempre esteve disposto a ajudar quem quer que fosse. Ele não entendia o significado da palavra egoísmo. Pensando em tudo isso, e olha que ela já vinha pensando no amigo a muitos dias, percebeu por fim que estava definitivamente atraída por ele. Para não dizer, completamente APAIXONADA.

-Bem... Vamos, Maga? - disse o rapaz, tirando Magali de seu devaneio.

-Ahm... Que tal pararmos um pouco na pracinha? Comemos os churros e depois vamos. - opnou, torcendo para que ele aceitasse. Ela precisava de tempo para assimilar o que estava sentindo e dizer da melhor forma possível.

-Ok. Parece que vai esfriar, mas hoje você tem a preferência, magricela.

Cascão faria qualquer coisa para agradar a garota. Seu único foco era tirar da mente de Magali os últimos acontecimentos ruins, para então, declarar seus sentimentos. Parecia que não seria uma tarefa tão difícil. A garota parecia estar disposta a mudanças. Isso era explêndido.

-Magali. - disse ele, assim que sentaram no banco da praça, abaixo de um pé de limão histórico e super alto.

-Hum? - Magali olhou nos olhos do amigo. Ali haviam minúsculos pontinhos dourados. Nunca havia percebido isso.

-Eu queria saber como você está se sentindo REALMENTE. Digo, depois de tudo que aconteceu com você e o Quim...

-Ah... Bem, pra ser sincera não sei exatamente. Eu sinto um carinho muito grande pelo Quim. Afinal, foram quase 15 anos de namoro.

-Naturalmente. Sobre isto eu acho que sou a pessoa que mais te compreende. Só queria saber se... Se você estaria disposta a... Cara, eu sou realmente péssimo nisso. - o rapaz olhava para os pés. Não tinha a mínima idéia de como expressar em palavras o que sentia.

-Cas. Olha pra mim... - disse Magali, erguendo a cabeça do rapaz pelo queixo com delicadeza. -Eu, bem, eu quero tentar isso. Eu aceito seus sentimentos. - aproximou-se com a delicadeza dos beija-flores, e ao mesmo tempo sentiu as mãos do rapaz em sua cintura e costas. Foi o beijo mais sincero de sua vida.

O tempo e o espaço pararam junto á respiração do garoto. Nem no episódio mais épico da última temporada de Cosmo Guerreiro, seu coração bateu tão acelerado assim. E mais estranho ainda... Em anos de namoro com Cascuda, jamais passou perto de sentir tamanha alegria.
Magali estava certa de sua escolha. Era o que queria. Desejava que tudo se esvaísse e sobrasse apenas aquele momento. E aqueles lábios.
O beijo dos dois foi para ambos um ponto de partida para suas novas vidas.