Felicidade?

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Magali caminhava pela calçada, em frente ao antigo teatro do Limoeiro. Havia ido ao mercado comprar alguns itens para o pique-nique que ela e Cascão estavam planejando fazer no dia seguinte. Subitamente deu de cara com um jovem que vinha na direção oposta.

-Ai! Me perdoa moço, eu... Quim?! - deu três passos para trás no susto, percebendo de quem se tratava.

-Oh, eu que peço desculpas Magali. Estava distraído. - o rapaz segurava um maço de sacolas com as duas mãos. Parecia estar mais magro. Talvez estivesse dormindo mal também, pois tinha olheiras profundas.

-Você... Você está bem? Parece cansado.
-Ahm, estou estudando muito. Agora tenho que me esforçar o dobro. - disse, sorrindo com dentes cerrados. Algo dentro da garota disse que ele não parecia estar feliz. -Bom, mas e você, como está? Não pude deixar de notar você e o Cássio juntos...

-Sobre isso... Eu pretendia te falar...

-Não se preocupe. - a interrompeu, colocando uma das mãos, agora livre, no ombro da morena. -Eu tenho plena certeza e confiança de que vocês dão certo juntos. E não me sinto mal por isso, afinal, eu quero que você seja muito feliz.

-Hum, obrigada Quim. Eu e o Cas assumimos o namoro, sabe.

-Sério? Fico ainda mais feliz. Apesar das diferenças entre nós no passado, tenho muita admiração pelo Cássio. Ele é muito leal e esforçado.

-Obrigada Joaquim, é importante ouvir isso de você. - disse, num sorriso largo. Você também merece toda felicidade. E vamos marcar de sair juntos qualquer dia, os quatro, que tal?

-Claro. Mas e o Cebola e a Mônica? Eles não estão mais juntos?

-Bem... Isso é uma história completamente bagunçada. Você viu o Cê com a Denise naquele dia, não viu? Pois bem, parece que os dois estão namorando sério.

-Minha nossa. Isso é realmente inesperado. Mas cada um tem o direito de ser livre para buscar a própria felicidade. E testar possibilidades diferentes.

-Verdade... - Magali não se sentiu mais tão a vontade com aquela conversa. Resolveu dar por encerrado o assunto e seguir seu rumo. Tudo estava muito recente ainda. -Bom, vou ter que ir agora. Foi ótimo te ver... Joaquim.

-Oh! Claro, estou apressado mesmo! Foi muito bom te ver também Magali. - respondeu meio sem jeito, já seguindo em frente e logo dobrando uma esquina.

...

Cascão estava enrolado com o que iria levar para o piquinique. Afinal, sempre deixou para o Cebola esta função, quando iam os quatro amigos acampar no parque municipal. Mas agora seria um encontro romantico, e não uma simples tarde com os amigos. Tinha que fazer tudo com perfeição. Quando estava para terminar o último sanduíche de pasta de amendoim, alguém tocou a campainha. Antes mesmo que visse quem era, a porta abriu.

-Hummm... Que cheiro bom meu sujinho! - disse a ex-comilona, entrando direto para a cozinha. Os pais de Cascão estavam em uma feira de carros usados em São Paulo. Magali correu para a pia, lavou as mãos e pediu permissão para o rapaz para cortar alguns legumes. Queria fazer uma salada.
Cascão observava a garota dançar pela cozinha. Ela havia acabado de cortar algumas batatas e já lavava um maço de repolho. Aquela era mesmo a Magali? Estavam mesmo namorando? A ficha parecia não ter caído totalmente para ele. Estava sentindo uma felicidade contínua, que só almentava, cada vez que vislumbrava aquele olhar meigo e aquele sorriso mágico que só Magali possuia.
Magali parecia estar caminhando em núvens. Mesmo após o encontro repentino com seu ex, absolutamente nada havia mudado em seu humor. Ela pensava em quantas poucas vezes em sua jovem vida sentiu esta liberdade em amar uma pessoa. Não era apenas liberdade física. Seu espírito estava livre. Parecia que Cascão liberou dentro dela um "peck", um conjunto de novas sensassões. E tudo apenas no pouco tempo em que estavam juntos oficialmente.

-Sabe que você fica muito fofo assim, de avental? Parece aquele rapaz do comercial de tempero. - disse ela, provocando o namorado, que por sua vez a olhava com cara de bobo.

-Ha ha ha! Engraçado. Pois saiba que você está que é a cara da Fátima Bernardes cozinhando. - respondeu ele, a abraçando por trás e mordendo uma cenoura que ela cortava.

-Ei! Ta me chamando de velha mal amada? - disse, batendo de brincadeira nele. Os dois se encararam por um minuto. -Você tá com cara de quem vai aprontar.

-Que nada. Só estou pensando naquele sofá solitário ali na sala. -disse, já pegando Magali no colo e se dirigindo á sala, ignorando os gritinhos de protesto da garota. -Ora, vamos apenas aproveitar nossos poucos minutos até o pai voltar da feira de carros.

-Hum... Ok. Mas cuidado viu. Ainda estamos só namorando. Este seu fogo de atleta não pode ser alimentado demais não... - sussurrou ela enquanto o abraçava, falando ao pé do ouvido.
Cascão sabia que ela confiava nele, e também tinha jurado para si mesmo respeitar o tempo certo das coisas. Se um dia os dois se casassem, daí sim dariam um passo maior. Felicidade para ele se resumia no mesmo que para Magali: viver cada momento.

Histórias que o Bairro do Limoeiro ContaOnde histórias criam vida. Descubra agora