ESSÊNCIA DA PAIXÃO.

3- HENRIQUE

CAPÍTULO 3

Acabei as entrevistas quase duas da tarde. minha sala estava com mistura de todos os perfumes que se pode imaginar, abri as janelas para trocar o ar, estava ficando sufocante aqui dentro.

Não pensei que seria tão complicado encontrar profissionais para a fábrica, a ideia inicial de serem somente mulheres estava descartada, pois das mulheres entrevistadas, 90% não tinham a formação necessária para ocupar os cargos oferecidos. Teria que trazer gente de fora da cidade, coisa que me custaria bem mais que o planejado. Mas era o sonho de minha mãe, não poderia deixar de realizar.

Fechei os olhos e voltei ao tempo, nossa casa, meu pai, minha mãe, Bruna e eu, todos rindo felizes sentados à beira da piscina curtindo o domingo, pois eram sagrados os domingos em família. Mamãe não aceitava de outra forma. Pena que isso foi há muito tempo e depois que Andréia apareceu em minha vida tudo mudou. Não teve mais domingos de alegria, não teve mais sorrisos sinceros, não teve mais nada, apenas aparências e dúvidas.

Abri os olhos, e tratei de esquecer esse pensamento que volta e meia me atormentava.

Concentrei-me no serviço e com um sorriso sacana me lembrei de Bruna, aquela menina mulher ia ter que aprender a se virar, já tinha 26 anos, se formou aos trancos na faculdade de administração depois que nossos pais morreram. Só o que fez foi viajar e gastar dinheiro, mas agora tudo ia mudar, ela estava avisada.

E para ser sua secretária já tinha o nome em minha mente: Rafaela.

Quem nos dias de hoje com 30 anos não tinha uma profissão, um currículo cheio de cursos ou faculdade?

Era ela a secretária ideal, como ela não tinha experiência alguma Bruna teria que fazer a sua parte sem transferir suas obrigações para a secretária e ficar só assinando documentos dos quais não teve participação alguma, além de ser um perigo, isso estava descartado com Rafaela nesse cargo.

E quando eu perceber que ela está segura, isso aqui será apenas dela.

Precisava colocar juízo na cabeça de Bruna. A vida não era só flores e eu não poderia estar sempre contornando as coisas e livrando aquela peste de problemas.

Engraçado. Rafaela foi a única mulher que não deixou seu perfume marcante. Será que ela não usa perfume? Bom isso não era problema meu, nem sei por que pensei nisso.

A tarde passou voando, comi na fábrica mesmo, pois queria estar presente a cada caminhão que chegava com móveis, máquinas, embalagens.

- Fala Rodrigo -falei assim que atendi o telefone. Rodrigo é meu primo e sócio. Nós sempre nos demos muito bem, apenas na época que estava com Andréia que acabamos nos afastando, mas isso é passado.

- Como foram as entrevistas? Muita mulher gostosa pra contratar? Pena que só chego aí semana que vem, pois eu queria ter feito essa seleção. - revirei os olhos, pois Rodrigo era um galinha de primeira, mas não descartava a ideia de se apaixonar e ter a sua família, pena que assim como eu, suas escolhas não eram tão boas.

- Não começa Rodrigo, precisamos fazer isso dar certo. Jardim é uma cidade pequena e qualquer coisa errada, perderemos nossa credibilidade.

- Falou o todo certinho. Às vezes preciso concordar com a Bruninha, você precisa relaxar mais. Mas me conta, já chegaram todos os caminhões que enviei?

E assim passei mais de meia hora atualizando Rodrigo, por mais que ele fosse um galinha, era um ótimo sócio.

Perto das seis horas da tarde, meu telefone volta a tocar. Era Amanda, a corretora que iria me apresentar alguns apartamentos, pois não poderia deixar Bruna morando em um hotel e assim eu teria um lugar para ficar quando fosse necessária minha presença.

Marquei de encontrar Amanda no apartamento que queria visitar, pois já tínhamos trocados alguns e-mails e fiquei bem interessado nele.

Não conhecia Amanda pessoalmente, já trocamos e mails, nos falamos por telefone, mas quando cheguei ao endereço combinado me arrependi na mesma hora de ter contratado os seus serviços.

Acabei fechando o negócio bem rápido para me ver livre de suas investidas e de seu perfume forte doce que me deixou sem ar.

Mesmo sendo o mais prático, frio, e educado ela não parou de me tocar e para falar ela passava a língua em seus lábios como uma cobra pronta pra dar o bote.

Na hora da assinatura do contrato, pegou na minha mão quando passei a caneta pra ela. Achei que teria que retirar a sua mão a força de tanto que segurou a minha, esquecendo completamente a caneta.

Tirando isso o apartamento era o que eu esperava, amplo, com uma vista para o parque, arejado e ocupava todo o andar, me deixando com total privacidade. Tentei falar com a Bruna pelo celular para que ela começasse a decorar, mas ela não me atendeu e não retornou nenhuma das minhas chamadas. Se ela acha que vai me escapar está enganada.

Agora só queria descansar e o hotel ainda seria meu lar por uns dias.