ESSÊNCIA DA PAIXÃO.

38- RAFAELA

O final de semana passou voando, minha mãe desistiu de sair com suas amigas e ficou ao meu lado assistindo filme, comendo bobagens, e eu não me senti nem uma pouco culpada por estar atrapalhando os planos dela para o final de semana, eu precisava desse carinho que só mãe sabe dar.

Quando a noite de domingo chegou, eu comecei voltar à realidade. Precisava manter minha cabeça em ordem para não me perder no meio do caminho.

No decorrer da semana eu conversaria com o Henrique e deixaria claro que eu esperaria por ele, mas nesse meio tempo seríamos apenas colegas de serviço. Não poderia deixar meu tesão por ele falar mais alto e colocar tudo a perder. Não seria a outra JAMAIS.

Confesso que surgiu uma ponta de curiosidade para saber quem seria a tal da Andreia, se era loira, morena. Não se falava dela na fábrica, Bruna nunca mencionou o fato de seu irmão ser casado, muito pelo contrário, vivia convidando-o para sair.

Acordei e o sol estava a todo o vapor, seria um dia quente e lindo, um sinal que tudo daria certo.
Coloquei uma saia cintura alta, uma blusa vermelha sangue e pra completar o visual, meu sapato de liquidação que minha amiga e futura cunhada tanto amava.

Na maquiagem deixei tudo bem discreto, a blusa já chamava a atenção por si só.
Precisava comer algo antes de sair, mas meu estômago não queria receber nada naquele momento, ele parecia uma bomba relógio prestes a explodir, pelo meu nervosismo.

Quando cheguei à cozinha tinha apenas uma barrinha de cereal com um bilhete da minha mãe ao lado.

"Minha filha, sei que não vai conseguir comer nada, então leve essa barrinha na bolsa, para não passar a manhã toda em jejum. Não se esqueça, lá é seu local de trabalho. Te amo."

Sim lá era o meu local de trabalho; ela só esqueceu que era o de Henrique também, e a nossa química era muito explosiva, que Deus me proteja e que minhas pernas me obedeçam.

***

Quando atravessei os portões da fábrica meu coração quase saiu pela boca. Lá estava ele, descendo do seu carro, vestido em um terno que lhe caia tão bem. Ele era lindo demais e eu o queria só pra mim.

Diminuí o passo, queria passar o dia todo tendo aquela visão. Ele não me viu, e eu agradeci aos céus por isso, não queria ter a nossa conversa no meio do estacionamento.

A fábrica estava cheia, os novos funcionários estavam ocupando seus postos, deixando o ambiente cheio de vida.
Alguns dos contratados eu conhecia e esperava que a tal Michele que trabalharia ao meu lado não fosse uma bruxa.

Direcionei-me ao elevador lotado, mas a cada andar que parava ia diminuindo o número de pessoas, até que notei quando cheguei ao meu andar que tinha mais uma pessoa além de mim que se direcionou a mesa com a placa Michelle.

- Oi, você é a Michelle?

- Sim sou eu mesma, prazer, e você é a Senhorita Bruna? -HORA DO DESESPERO! Ela era linda, mulata, escultural, daquelas que tem tudo no lugar, do tamanho correto para enlouquecer qualquer homem e qualquer mulher desesperada iguais a mim, pois ela trabalharia diretamente com o MEU Henrique. Ciúmes nível máster, só voltei à realidade quando olhei para sua mão estendida em minha direção e vi que uma enorme aliança contemplava seus dedos longos, com suas unhas impecáveis.

- Hahaha! Não sou a Bruna. -de onde saiu essa gargalhada ridícula? Rafaela, foco, foco. -sou a Rafaela, trabalho naquela mesa ali ao lado hahahaha. - pronto a menina já começava a me olhar estranho, eu só ria de coisas que não tinha graça alguma, mas o alívio que senti quando vi aquela aliança me deixou tão feliz que as malditas gargalhadas não ficaram presas dentro de mim.