17- HENRIQUE

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HENRIQUE



Depois que liberei a entrada de Andréia ao meu apartamento, não consegui me concentrar em nada.


Eu não aguentava ficar perto de Andréia muito tempo, mas não poderia simplesmente, jogar ela porta a fora de meu apartamento, nossa relação de ódio mútuo não deveria ser notado por ninguém, isso fazia parte do acordo.


- Maldito acordo - soquei a mesa com tanta força que minha mão parecia pegar fogo pela intensidade da dor, mas nada se comparava a dor que eu sentia dentro de mim.


Fraco, apaixonado, imaturo, impulsivo, covarde, precipitado eram alguns dos adjetivos que eu me intitulava cada vez que o maldito contrato se fazia valer em minha vida.


Depois de algumas doses de uísque e alguns documentos urgentes resolvidos, resolvi encarar Andréia.


Durante todo o trajeto só pedia para Bruna não estar em casa, assim não precisava ser o marido perfeito.


Mesmo Bruna não concordando com meu casamento, nunca questionou minha decisão, em parte era um grande alívio, não queria ter que contar a minha irmã sobre o acordo e principalmente perder o olhar de admiração que ela tinha por mim.


- Olá querido, veio mais cedo para casa, saudades de sua esposa? - Andréia estava apenas de calcinha e sutiã, tomando uma dose de uísque. Sim, mesmo odiando-a, não poderia deixar de notar que ela estava linda como sempre. Seu cabelo, sua maquiagem e seu corpo, que ela sempre cuidou muito bem, era o conjunto perfeito.


- Gosta do que vê?- a vadia me pergunta isso dando uma volta ao redor do sofá e parando na minha frente.


- Não. Respondi seco e ela gargalhou se jogando ao sofá de uma forma sensual, se fosse anos atrás já estaria arrancando minhas roupas para me enroscar naquele corpo.


- Henrique, não seja tão injusto com você mesmo, sei que mesmo depois de acabar com a minha vida você ainda me ama, apenas me culpa por tudo, quando na verdade a culpa de tudo é só sua.


Andréia sempre me culpou por tudo e eu também, ela tinha razão, eu fui fraco e cego, e por ser assim eu estava nesse acordo de merda.


Não respondi, queria tomar um banho, e descansar. A paz que Rafaela me proporcionou mais cedo foi trocado por sentimentos muito escuros que me deixavam cansado.


Não consegui me controlar e fechei a porta do meu quarto com forca, quando encontrei o mesmo repleto do perfume enjoativo que Andréia usava, ele estava tão forte que provavelmente ela passou pelo ar de propósito.


Nunca imaginei que esse cheiro algum dia me trouxesse esse sentimento.


Lembro quando usei várias essências para chegar ao aroma ideal para presentear minha esposa no dia do nosso casamento. Eu queria marcar e ser marcado pela única mulher da minha vida. E no final foi exatamente isso que aconteceu.


Lembro-me do meu casamento como se fosse hoje.


Foi um dia mágico, eu estava apaixonado, feliz, o dia ensolarado me dizia que nada poderia dar errado. Nossas famílias estavam felizes com nossa união, minha mãe entrou comigo na igreja e eu não saberia dizer qual de nós dois era o mais emocionado, mas nenhuma palavra seria suficiente para descrever o sentimento que surgiu dentro de mim ao ver Andréia nos braços dados com seu pai, sorrindo em minha direção. Ali, assinei meu pior pesadelo e só fui descobrir, anos depois, que eu tinha cometido o maior erro da minha vida.


Levantei do chão e abri todas as janelas retirei toda a roupa de cama, jogando no cesto de roupa suja, peguei os travesseiros e almofadas que estavam impregnados daquele perfume e carreguei até a área aberta do apartamento.


Quando estava passando pela sala escutei a risada debochada de Andréia, que estava satisfeita com a minha atitude, ela sabia o quanto tinha me atingido.


Coloquei tudo dentro de uma lata de lixo, derramei álcool e ascendi o fogo, queria que tudo se queimasse ali, meu passado, minha dor, meu erro e principalmente a existência de Andréia da minha vida.


Quando tudo tinha queimado, voltei à sala sentindo meus nervos mais controlados para encarar a minha esposa.


- Andréia; não vamos tornar a situação pior do que ela já é. O acordo está acabando e vamos conseguir seguir nossas vidas. - Falei me servindo de um copo quase cheio de uísque.


- Seguir nossas vidas?- Andréia berrou, me olhando com muito ódio.


- Muito fácil falar não é meu querido? Você tirou minha vida, minha alma, meu amor, você me tirou tudo, e não pagou por nada disso. Por causa desse maldito acordo. Ninguém pensou em mim, nos meus sentimentos, não perguntaram nada, você e meu pai só pensaram em vocês. - ela começou a chorar abraçando seu corpo, e eu me despedacei mais uma vez, ela estava certa, ela quem mais sofreu.


- Não me olhe assim, seu monstro! Não quero sua pena, guarde-a para ter de si próprio. Esses últimos cinco meses que faltam para o acordo acabar serão os piores de sua vida. - falando isso Andréia limpou o rosto com a palma de sua mão, ergueu a cabeça e sumiu pelo corredor.


Eu estava perdido, mas merecia ser tratado assim. Eu era culpado.


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