Não adiantava ficar enrolando na cama, eu precisava resolver a situação com ele; bravo ou não. Eu queria colocar tudo na mesa: minha vida e como eu sou, porque sou assim.
Se ele estava bravo, azar o dele, eu tinha muitos motivos para estar também.
Joguei o cobertor no chão e levantei da cama.
Acho que fiz isso rápido demais porque senti o quarto girar, mas respirei fundo e fui ao banheiro com o calor dos olhos de Henrique sobre mim.
Meu Deus! Onde estava meu cabelo? Parecia um ninho de ratos. Dormir com meus cabelos molhados era o fim, mas não dei bola para isso, não precisava estar linda, precisava ser eu assim, Rafaela, nua e crua.
Lavei o rosto, escovei os dentes e amarrei meu ninho em um coque frouxo. Respira Rafaela! Respira e encare a realidade.
Voltei para o quarto, abri as janelas e deixei o sol entrar, tentando tirar do ar o clima tenso. Foi inútil.
Sentei na cama e encarei Henrique com a mesma intensidade na qual ele me encarava.
Seus olhos eram de raiva, muita raiva, mas tinha ali um medo que não sabia a ,mas logo eu ia descobrir.
- Bom você quer conversar e eu estou a sua disposição. Qual assunto nós resolveremos primeiro?
Henrique suspirou, passou a mão pelos cabelos e fechou os olhos, tentando em vão se controlar, pois seu corpo tenso mostrava o quanto ele estava no limite.
- Quero saber sobre você e esse frouxo do Marcelo. Quero saber tudo! Por que antes de dormir você disse que eu tinha que entender que você também o amava? E não me enrole, já fui trouxa uma vez e não serei duas. -Henrique rosnou todas as palavras com o olhar pegando fogo e eu abri o meu melhor sorriso quando ele falou que eu amava o Marcelo, sim seu tonto o amo, mas não como imagina. O que me chamou atenção foi o fato dele dizer que já foi enganado. Como assim? Isso eu descobriria depois ou não me chamava Rafaela.
Levantei da cama e peguei na gaveta da cômoda uma caixa de fotos, ali tinha a minha vida e eu apresentaria tudo para Henrique, deixaria ele me conhecer por completo.
Uma versão resumida, mas que chegaria exatamente onde eu queria.
Quando retornei à cama com a caixa em minhas mãos Henrique me olhava com a testa enrugada, tão bonitinho, devia estar pensando que eu tinha um grande segredo aqui dentro.
Gargalhei internamente com esse pensamento.
- Bom Henrique; você quer saber do Marcelo então preciso te contar sobre minha vida, ele faz parte dela em praticamente tudo, e sim eu o amo. - vejo seu olhar ficar perdido. Ele se remexe na poltrona como se tivesse pegando fogo, mas quando tentou falar, levantei meu dedo, deixando claro que agora eu falaria e ele seria um bom ouvinte, coisa que não tinha sido comigo em nenhum momento.
Mesmo vendo a dor estampada em seu rosto por eu amar Marcelo, não me deixei abalar, era exatamente isso que eu queria: silêncio e dúvida. Ele tinha que saber que eu não deixaria barato o que aconteceu no restaurante.
Abri a caixa e peguei as fotos que queria que ele visse.
- Eu não conheci meu pai, só tenho essa foto, tenho os olhos iguais aos dele. -entreguei a foto do meu pai, lindo de farda, tão jovem, tão cheio de sonhos.
- Ele morreu em um acidente de carro, sei que pode parecer ridículo, mas meu pai era taxista, a farda foi apenas para a foto, minha mãe disse que ele era doido igual a mim.
Henrique sorriu de leve analisando a foto. Aposto que pensou que meu pai fosse do exército. Até eu pensava isso quando criança, cada vez que via essa foto.
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ESSÊNCIA DA PAIXÃO.
ChickLitRafaela uma mulher de 30 anos, que mora com sua mãe na sua pequena cidade natal. Ela não cria perspectiva para uma nova vida, sem faculdade ou emprego fixo, vive um dia de cada vez da melhor forma possível. Henrique um homem responsável de 38 anos...