32- RAFAELA

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Não adiantava ficar enrolando na cama, eu precisava resolver a situação com ele; bravo ou não. Eu queria colocar tudo na mesa: minha vida e como eu sou, porque sou assim.

Se ele estava bravo, azar o dele, eu tinha muitos motivos para estar também.

Joguei o cobertor no chão e levantei da cama.

Acho que fiz isso rápido demais porque senti o quarto girar, mas respirei fundo e fui ao banheiro com o calor dos olhos de Henrique sobre mim.

Meu Deus! Onde estava meu cabelo? Parecia um ninho de ratos. Dormir com meus cabelos molhados era o fim, mas não dei bola para isso, não precisava estar linda, precisava ser eu assim, Rafaela, nua e crua.

Lavei o rosto, escovei os dentes e amarrei meu ninho em um coque frouxo. Respira Rafaela! Respira e encare a realidade.

Voltei para o quarto, abri as janelas e deixei o sol entrar, tentando tirar do ar o clima tenso. Foi inútil.

Sentei na cama e encarei Henrique com a mesma intensidade na qual ele me encarava.

Seus olhos eram de raiva, muita raiva, mas tinha ali um medo que não sabia a ,mas logo eu ia descobrir.

- Bom você quer conversar e eu estou a sua disposição. Qual assunto nós resolveremos primeiro?

Henrique suspirou, passou a mão pelos cabelos e fechou os olhos, tentando em vão se controlar, pois seu corpo tenso mostrava o quanto ele estava no limite.

- Quero saber sobre você e esse frouxo do Marcelo. Quero saber tudo! Por que antes de dormir você disse que eu tinha que entender que você também o amava? E não me enrole, já fui trouxa uma vez e não serei duas. -Henrique rosnou todas as palavras com o olhar pegando fogo e eu abri o meu melhor sorriso quando ele falou que eu amava o Marcelo, sim seu tonto o amo, mas não como imagina. O que me chamou atenção foi o fato dele dizer que já foi enganado. Como assim? Isso eu descobriria depois ou não me chamava Rafaela.

Levantei da cama e peguei na gaveta da cômoda uma caixa de fotos, ali tinha a minha vida e eu apresentaria tudo para Henrique, deixaria ele me conhecer por completo.

Uma versão resumida, mas que chegaria exatamente onde eu queria.

Quando retornei à cama com a caixa em minhas mãos Henrique me olhava com a testa enrugada, tão bonitinho, devia estar pensando que eu tinha um grande segredo aqui dentro.

Gargalhei internamente com esse pensamento.

- Bom Henrique; você quer saber do Marcelo então preciso te contar sobre minha vida, ele faz parte dela em praticamente tudo, e sim eu o amo. - vejo seu olhar ficar perdido. Ele se remexe na poltrona como se tivesse pegando fogo, mas quando tentou falar, levantei meu dedo, deixando claro que agora eu falaria e ele seria um bom ouvinte, coisa que não tinha sido comigo em nenhum momento.

Mesmo vendo a dor estampada em seu rosto por eu amar Marcelo, não me deixei abalar, era exatamente isso que eu queria: silêncio e dúvida. Ele tinha que saber que eu não deixaria barato o que aconteceu no restaurante.

Abri a caixa e peguei as fotos que queria que ele visse.

- Eu não conheci meu pai, só tenho essa foto, tenho os olhos iguais aos dele. -entreguei a foto do meu pai, lindo de farda, tão jovem, tão cheio de sonhos.

- Ele morreu em um acidente de carro, sei que pode parecer ridículo, mas meu pai era taxista, a farda foi apenas para a foto, minha mãe disse que ele era doido igual a mim.

Henrique sorriu de leve analisando a foto. Aposto que pensou que meu pai fosse do exército. Até eu pensava isso quando criança, cada vez que via essa foto.

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