6- RAFAELA- CAFÉ

6.7K 638 26
                                    

CAPÍTULO 6

Não sei para qual eu olhava, para o sorriso fácil do desconhecido ou para o misterioso do todo poderoso.

Meu sorriso estava tão aberto que parecia que ia sair pela boca. É Rafaela, hoje você vai se dar bem. Comemorei internamente com uma dancinha sensual.

- Para mim um cafezinho sem açúcar e duas panquecas doces. Falou o todo poderoso. E eu fiquei ali olhando aqueles lábios que tanto queria beijar, e o que é essa voz de molhar calcinha, me abana vou desmaiar.

Anotei o pedido quando sai das minhas fantasias, pois estava difícil me dirigir ao Senhor sorriso fácil, quando os olhos analisadores do todo poderoso não me abandonavam.

Merda, justo hoje que coloquei uma calça jeans simples e uma camiseta enorme com uma sapatilha aberta na frente que mostra meus dedos com minhas unhas não feitas. Nem depilada estava, como poderia pensar em sexo? Mas se eu tivesse uma chance com o senhor todo poderoso eu arrancava tudo a pinça em 5 minutos. Moça, Moça...

- Oi- merda sai novamente de órbita.

- E você vai querer o que?- a delícia em pessoa olhou o relógio, abriu um sorriso enorme e fez o pedido.

- Uma cerveja e bolinhos de arroz com queijo, pois hoje é sexta feira e já conto como final de semana.

- Beber a essa hora? Não vai voltar à fábrica? Se eu soubesse que iria curtir o final de semana poderia ter vindo na segunda-feira, pois preciso de você no serviço, não se divertindo.

Enquanto Henrique falava e falava para o desconhecido que só sorria e me olhava eu fiquei ali olhando aquela discussão dos dois. Mas quando Henrique parou de falar e ou dois ficaram me olhando, virei as costas e me sumi cozinha a dentro.

- O que foi Rafaela? Está da cor deste tomate!- Falou Matilde assim que entrei. Matilde era irmã de Dona Jurema e trabalhava nesse café há tempos como ajudante de cozinha, como dona Jurema dizia, mas na realidade Matilde fazia todos os quitutes deliciosos, pois dona Jurema falava de seu marido, mas não saia de trás da caixa registradora acompanhando todas as conversas que surgiam de seus clientes.

- Se eu te contar porque estou assim, você iria ficar da mesma cor. Aqui estão os pedidos.

Entreguei os pedidos e fui servir as bebidas dos gatos do dia.

Quando estava colocando tudo na bandeja, Bruna entrou feito um furacão, indo em direção à mesa do seu irmão. Só pedi em uma oração silenciosa que ela não me reconhecesse, não por vergonha de estar trabalhando no café e sim se ela falasse sobre o "pequeno" incidente.

Força Rafaela e não derrube nada. E repetindo essa frase como um mantra; direcionei-me a mesa.

- Resolveu aparecer mocinha? Acha que vai ser assim sempre? Essa fábrica será sua responsabilidade- nossa que homem. O que tem de lindo tem de chato.

Quando estava colocando o cardápio enfrente a Bruna sem dizer uma palavra ela resolve erguer a cabeça e me olhar. Não me reconheça, não, não, não. Tarde de mais.

- Rafaela! - levantou e me abraçou como se fosse minha amiga há anos- não foi chamada para a vaga que queria? Por isso está trabalhando aqui? Poxa Henrique, o currículo dela não foi aprovado? Rafaela é uma pessoa maravilhosa, me ajudou num momento muito delicado. Porque não a contratou?

Se antes eu era vermelha agora eu estava provavelmente roxa, pois ela segurava meu braço enquanto falava, e Henrique olhava diretamente dentro dos meus olhos de uma forma tão intensa que meu ar começou a faltar nos pulmões.

- Então vai trabalhar em nossa fábrica? Falou o senhor sorriso se levantando.

Prazer sou Rodrigo Jung, sou um dos sócios e primos desses dois, sendo que esse daí nem parece da família- Falou estendendo a mão em minha direção e numa rápida olhada vi Henrique me encarando, e no mesmo instante, tratei de olhar para o senhor Sorrisos de nome Rodrigo que estava bem a minha frente.

- Prazer, Rafaela Oliveira - deve ser coisa de rico dizer nome e sobrenome, só pode, mas não quis ser diferente e falei os dois, a que lindo que foi. Senti-me até importante. Rafaela Oliveira.

- Então Rafaela, vamos ser presenteados com sua beleza na fábrica? - pra variar não consegui responder.

- Rodrigo e Bruna vocês sabem que foram feitas apenas as entrevistas e só na segunda-feira começaremos a chamar.

E pra ajudar a complicar a minha situação dona Jurema resolve aparecer.

- Rafaela, eu sei que esta tentando ser o mais simpática possível com os teus futuros chefes, mas por enquanto eu sou a atual chefe e preciso que atenda as outras mesas- falando isso ela largou os acompanhamentos para os rapazes e saiu me puxando. Queria morrer, não morrer não, mas ir pra casa sim.

Atendi as outras mesas, e não direcionei nem um olhar para a mesa dos problemas, sim problemas e dos grandes.

Notei que estavam pagando a conta quando Bruna veio para o meu lado. Droga de novo não.

- Rafaela, tem algum lugar legal para dançar nessa cidade?

Quando abri a boca, Luciana, a maior vadia da cidade pulou na frente.

- Tem sim, abriu há um mês uma danceteria que está sendo o maior sucesso, vem gente das cidades vizinhas para curtir a noite, e hoje terá a festa da Tequila, tenho convites, se prometer levar aqueles dois gatos eles serão seus.

Vi Bruna estreitar os olhos dar um passo a frente e falar com a voz mais mansa e baixa do mundo.

- Como é seu nome fofa?- fofa??? Hahahah essa doeu.

- Luciana. Prazer- ai que pobre, cadê o sobrenome? E as gargalhadas interiores aumentaram.

- Pois bem Luciana, meus gatos não costumam sair com mulheres que querem compra-los com convites de festas, mas muito obrigada pela informação - falando isso ela virou de costas para Luciana me abraçou e falou que me pegava na minha casa às 11 horas. E saiu junto com seus gatos que estavam indo em direção à porta.

- Menina atrevida, se acha porque é dona daquela fábrica, e eles nem eram tão gatos assim.

E saiu pela mesma porta. Eu bufei de raiva, pois não estava conseguindo falar nada ultimamente, parece que todo mundo resolveu não me dar esse direito.

Quando me direcionei a cozinha dona Jurema me aguardava com um sorriso no rosto.

- Toma Rafaela o moço bonito da mesa deixou para você.

- Qual? Berrei, pegando os 150,00 reais que ela me estendia.

- O de terno com cara de mau. Então aproveite esse dinheiro e vá comprar uma roupa para a festa, pois amanhã será sua folga- obrigada, obrigada anjo protetor das solteironas, dinheiro e folga porque festa não ia rolar, Bruna falou só para provocar a Luciana, ela nem sabia onde eu morava.

ESSÊNCIA DA PAIXÃO.Onde histórias criam vida. Descubra agora