44-RAFAELA

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Quando bateram na porta do apartamento, eu imaginei que fosse Rodrigo querendo vir conferir se deu tudo certo, mas Henrique achou estranho pelo horário, pois o dia estava começando a nascer.

Enquanto Henrique foi atender a porta eu me enrolei no lençol, caso fosse realmente Rodrigo. Eu não duvidava nada que ele entrasse no quarto e não queria ser pega sem roupa.
Sorri desse meu pensamento, eu estava feliz, realizada, eu amava esse homem com todas as minhas forças, nos tínhamos muito para conversar, eu precisava deixar claro que iria esperar por ele, mas queria entender como tudo iria funcionar até o final desse acordo.

Comecei a escutar uma voz feminina e na hora imaginei ser a Bruna. Congelei no lugar. O que eu diria para minha chefe/amiga se ela me encontrasse nua na cama de seu irmão?

Olhei ao redor e não encontrei minhas roupas e quando eu ia levantar para me trancar no banheiro, a porta do quarto abriu com uma força imensa.

Tudo aconteceu em câmera lenta, a mulher que se apresentou como Andréia, a esposa de Henrique, me xingava e me arrastava nua pelo apartamento. Na hora, eu não tive reação alguma; principalmente quando olhei para Henrique em estado de choque, sem fazer um esforço para me defender, ele simplesmente me deixou ser jogada porta a fora nua, no corredor do hotel, onde qualquer um poderia me ver.

Entre lágrimas e pedido de socorro eu esmurrava a porta com toda a minha força, e Henrique nada fez, não abriu a porta, não me jogou uma toalha que fosse para eu me enrolar e não ficar nua no corredor.

Sem força alguma eu desmoronei, entre soluços e uma dor no peito que me deixou sem ar. Tudo estava acabado: meu romance, minha força de vontade, minha alegria, minha moral, tudo ficou ali trancado naquele quarto de hotel.

Então o milagre apareceu.

Como se fosse um carinho de mãe, o lençol deslizou em meu corpo me cobrindo. Eu rapidamente me agarrei a ele com vergonha de levantar meus olhos e ver quem seria o anjo que veio me ajudar.

- Venha Rafaela, vamos sair desse corredor, antes que apareça alguém.

O anjo sabia meu nome e ele tinha razão, eu precisava sair dali. Levantei meu corpo com a ajuda de suas mãos grandes e fortes; que me amparavam com força e ao mesmo tempo cuidado, mas isso não foi suficiente para me manter forte quando nossos olhos se encontraram. Meu anjo tinha nome e um olhar hipnotizante, Pedro era o meu salvador.

Minhas pernas fraquejaram e então ele me carregou no colo até o seu quarto sem dizer uma única palavra.

O quarto dele ficava no final do corredor. Não era tão sofisticado quando o de Henrique, mas era muito aconchegante. Pedro me colocou no sofá, me entregou uma dose de vodka e sumiu da minha visão. Não sei para onde ele foi, mas agradeci em silêncio por estar sozinha e não estar mais exposta.

Chorei por tudo que eu passei e principalmente por ter acreditado no amor de Henrique; um amor que não existia; pois foi Andréia aparecer e eu não ter valor algum para ele.

Quando a porta e vi que Henrique não se preocupou comigo, quando percebi que ele não viria me ajudar, que não faria absolutamente nada, percebi que era hora de me afastar. Eu não poderia passar toda minha vida assim, hoje eu tive uma prova do que pode me acontecer se continuasse me envolvendo com o Henrique.

- Oi, desculpe te deixar sozinha, mas achei que você precisava de um tempo para colocar as ideias em ordem.

Ah, meu pai eterno, ele tinha tomado banho e estava só de calça jeans, que corpo escultural! "Rafaela pelo amor de Deus olha o seu estado, tenha compostura!!!" Gritou minha voz interior só gritou mesmo; porque não tinha como não aproveitar a vista.

- Tudo bem. Não sei nem como te agradecer por me socorrer. Eu sei que você deve estar pensando horrores de mim, mas eu não sou uma vadia ordinária que fica se deitando com qualquer um, eu estava tendo um relacionamento sim, ai tem essa coisa de acordo, e era para os dois estarem separados de corpos sabe? Não ela estar aqui reivindicando o seu marido, ou era, ai sei lá. Desculpa.

Parabéns Rafaela! Voltamos à estaca zero. Não consegue ficar com essa boca fechada? Ainda pra ajudar, o Henrique é perseguido pelo nome Pedro, pois olha aonde vim parar.

Então uma gargalhada saiu de dentro de mim tão forte que chegou a me levar as lágrimas, e Pedro ali me analisando como se eu fosse alguma aberração, mas não deveria estar muito diferente disso, descabelada, com o rosto inchado de chorar, nua, enrolada em um lençol e gargalhando.

- Ai desculpa Pedro, eu não estou bem emocionalmente e quando isso acontece, eu falo demais e fico assim rindo de qualquer coisa.

- Tudo bem, eu imagino que a situação deve ser um pouco engraçada mesmo, claro tirando a parte ruim.

Ai que sorriso tímido é esse? Ele quer me agradar... Ah, se eu te encontrasse em outra ocasião.

- Bom eu preciso pensar como buscar minha bolsa e minhas roupas.

- Eu posso pedir para alguém do hotel pegar para você.

- NÃO! A vadia da Angel ia ficar sabendo e espalharia a notícia toda errada e meu nome estaria na boca do povo, e pode apostar isso é horrível em cidade pequena.

-Está bem, mas vamos combinar assim: você toma um banho de banheira bem relaxante enquanto eu resolvo isso para você.

- Não, de forma alguma, eu vou tentar resolver isso e vou para casa, já abusei demais de você. -Falei já me levantando pensando em ligar para aminha mãe e ela vir me buscar, isso seria o mais correto a fazer.

- Não, eu quero te ajudar, depois você fica me devendo esse favor e pode me convidar pra jantar, assim fico conhecendo quem realmente é a Rafaela.

Como resistir a essa carinha linda e esses olhos penetrantes, cheios de mistérios? Afinal ele esta disposto a me ajudar não é? Então vou aceitar.

Pedro saiu do quarto para me dar mais privacidade, me garantindo que resolveria tudo, e eu acreditei.

Tomei um bom banho de banheira e coloquei a camisa e uma cueca que ele deixou separada para mim, achei tão fofo ele me avisar que a cueca era nova que não teria problema algum usar. Quando estava vestida com a camisa de Pedro, foi inevitável não lembrar que algumas horas atrás eu estava vestida com a camisa de Henrique. Sacudi a cabeça tentando não pensar em nada, apenas me deitei na cama e deixei o sono me consumir, acordando ao som do meu celular tocando ao meu lado e junto dele estavam minhas roupas e nem sinal de Pedro.

Atendi telefone no automático, sem verificar o número.

- Onde você se meteu?

NÃO! Era a Bruna, eu não queria dar explicações de nada, apenas esquecer tudo isso e principalmente o Henrique, que me deixou ser arrastada porta a fora como uma qualquer.

- Oi Bruna, eu estou bem, depois nos falamos ok?

- Mas Rafaela, você saiu... - não hoje e nem nunca mais eu iria ficar dando explicações da minha vida. Essa Rafaela sem atitude não pode prevalecer nesse corpinho.

Coloquei uma roupa e desci pelas escadas do hotel, onde não encontraria ninguém, e só voltei a respirar quando cheguei à calçada, mas foi apenas por um instante, pois logo a respiração voltou a falhar. Henrique estava carregando suas malas para o carro, provavelmente voltando para a esposa.

NÃÃOOO!!! Gritei internamente quando a primeira lágrima desceu rolando pela minha face, sem choro, sem lamentações, sem arrependimentos. Apenas não pensar e viver um dia de cada vez.

Gente...
Desculpa a demora... Amo vcs... Bjos
🌟

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