Capítulo 53

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— Não sabia que dirigia.
— Sei fazer coisas que você nem imagina, Kaila. Quer que eu lhe mostre mais tarde? — O diabo gracista me encarou pelo retrovisor.
— Larga mão de ser virgem, Lúcifer. Esse seu papinho não cola mais. Fui eu quem quebrou esse seu cabaço. CABAÇUDO!
— Que papo mais tosco — ele reclamou no mesmo momento em que começava a rir, e então rimos juntos. Mas logo fechei a cara ao lembrar do que ele havia feito na noite passada.
— Otario trouxa.
— Ué, o que eu fiz agora? Garota patética e surtada — Fizemos algumas curvas entre vários prédios.

— Não é da sua conta. E posso saber o porque tenho que ir no banco de trás?
— Na frente só vai os adultos.
— Claro — mostrei dedo pro retrovisor pois sabia que ele olharia.
— Menina mau criada.
— Sou uma orquídea meu querido. Bonita ao veneno e... espera, algo assim. Venenosa ao se ver e bonita ao tocar. Tem algo haver com isso, mas eu sou uma orquídea e pronto.
— Maluca — ele dedilhou o volante — não reconhece essas ruas, Kaila?
Olhei pela janela e fiquei surpresa ao ver onde estávamos. Era a mesma rua que levava até a lanchonete onde eu trabalhava. Mas que diabos estávamos fazendo ali?
— Por que me trouxe até aqui?
— Eu não disse que era aqui, perguntei se reconhecia. O nosso destino ainda está um pouco longe. Se acomode.

Passamos em frente a lanchonete mas não consegui ver quase nada mesmo estando com a cara colada ao vidro da janela.
— Não podemos parar? Queria ver minha colega de serviço.
— Quem sabe eu deixe você passar aí na volta. Não sei se é seguro você dar as caras agora.
— Você fala como se houvessem homens de preto me procurando. Não sou foragida nem nada do tipo, que mal tem em ver uma colega no seu antigo trabalho?
— Ficaria surpresa com a minha resposta, então vamos deixar as coisas assim. Apenas curta a viagem.
Continuamos seguindo a diante, rua por rua, quarteirão por quarteirão e aquele trajeto eu conhecia muito bem. Era o mesmo que eu fazia para ir pro trabalho e do trabalho pra casa. Foi então que Lúcifer estacionou o veículo próximo a uma árvore e na calçada do outro lado estava o apartamento onde eu morava.

— Por que? — perguntei, encarando aquele lugar e me recordando da humilhação que passei naquela noite. A mesma noite onde todos os meus poucos pertences foram jogados pela janela.
— Por que agora está em seu nome. E adivinha? Os antigos donos estão lá dentro esperando o comprador misterioso chegar para pegar as chaves.
— Está em meu nome? Você comprou esse lugar?
— Sim, e passei pro seu nome — tome — Lúcifer pegou alguns papéis que estavam ao seu lado e me entregou — são os documentos que comprovam que o apartamento agora é seu. Mas não é só isso, suas novas contas bancárias também já foram criadas e os dados serão enviados para o seu Tablet, o seu saldo atual é de mais de setecentos milhões. E isso não é nem metade do que vai receber quando tudo isso acabar. Este é o meu presente para você, Kaila. Parte da sua liberdade.

— Eu tenho setecentos milhões? — perguntei enquanto folheava os papeis, ali dizia que a propriedade havia sido passada para Kaila Wight mas não dizia quem havia passado.
— Tem. Agora vá pegar as chaves do apartamento.
— Você vem comigo? — apertei a papelada contra o peito.
— Não, isso é algo que você deve fazer sozinha.
— Ok — abri a porta do carro e saí. Do lado de fora fiquei alguns segundos parada encarando o apartamento do outro lado da rua enquanto o meu coração disparava. Aquele apartamento representava bem mais do que meu antigo abrigo, representava a morte da pessoa que um dia sofreu nas mãos das pessoas que se sentiam superiores. Eu devo fazer isso e devo dar um fim ao meu passado, deve ser por isso que Lúcifer não quer me acompanhar, devo enfrentar esses monstros sozinha, os meus monstros.

Então vamos, sem demora. Só preciso dar um passo de cada vez, eu consigo pois sou forte. Ando pela calçada até chegar na faixa de pedestres, olho para ambos os lados, não há movimentação de veículos. Cruzo a faixa e chego a outra calçada, foi bem ali onde as minhas coisas caíram, olho pra cima e encaro a janela fechada, pelo visto ninguém alugou o meu antigo quarto ainda.
Continuou andando até chegar na entrada do apartamento, esta da direto no balcão da recepção e o lugar continua precário como sempre foi. Atrás do balcão esta Carla conversando com seu marido gordo. O mesmo gordo que ajudou a jogar minhas coisas fora. Gordo esse que eu não faço a menor ideia de qual seja o nome. Eles logo me viram entrar e se viraram para mim.
— Eu não acredito — Carla falou no seu típico tom debochado — olha quem voltou, sentiu saudades?
— Não de você — respondi ao me aproximar do balcão.

— Veio pagar o que ficou devendo? — o marido gordo se intrometeu na conversa.
— Não devo nada a vocês, não depois do que fizeram comigo.
— Então o que veio fazer aqui — Carla me olhou de cima a baixo — saiba que estamos ocupados esperando o novo dono do apartamento chegar e não temos tempo pra perder com gente fracassada igual a você. E duvido muito que o novo dono vá hospedar pessoas que não podem pagar nem papel higiênico. Ambos riram como se fosse o último dia de suas vidas.
— Vocês parecem felizes. Gostaram da quantia que lhes foi pago por essa espelunca? — perguntei, indo no mesmo tom de deboche e eles não gostaram nada.
— E isso é da sua conta por um acaso? — Carla mais uma vez me olhou com desprezo.

— Digamos que literalmente é da minha conta — larguei a papelada sobre o balcão — eu sou o comprador desse lugar. O dinheiro que está fazendo vocês rirem iguais a duas putas gordas saiu diretamente do meu bolso. Eu, Kaila Wight exijo agora mesmo que me entreguem as chaves e que deixem esse lugar levando apenas a porra da roupa do corpo. E acreditem, eu não vou pedir duas vezes.
Ambos se entre olharam sem entender nada e Carla começou a folear a papelada.
— Impossível — ela me encarou indignada e sem acreditar no que estava acontecendo. Fui tomada por uma sensação muito boa de superioridade e vingança, eu podia gritar de alegria mas precisava manter a pose séria.

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