Capítulo 57

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— Kaila, vá para dentro da mansão — o Lúcifer verdadeiro agora estava a alguns metros da gente, próximo ao chafariz. Agora percebo como eles possuem a mesma maneira de falar, o que significa tudo isso? Apesar do rosto ser diferente os dois possuem a mesma vibe. Um de branco e outro de preto, essa era a maior diferença entre eles e só o que eu conseguia fazer era olhar de um lado a outro.
— O que está acontecendo aqui? Quem é ele? — perguntei novamente.
— Apenas entre — Lúcifer caminhou até mim e parou de frente para o de branco. Ambos ficaram se encarando olho no olho enquanto o de branco sorria, parecia estar se divertindo.

— Qual deles é você? — Lúcifer de preto perguntou.
— Já se esqueceu de mim, irmão? — Lúcifer de branco continuou sorrindo.
— Não sei quem é você. Mas sei que é um deles, como achou este lugar e porque está aqui? — Lúcifer de preto fez outra pergunta.
— Um deles? É assim que você se refere aos seus iguais?
— Diga logo o que quer.
— Eu não quero nada, estava de passagem e decidi visitar um amigo de infância, ou seria melhor te chamar de irmão? Esqueceu mesmo de mim, projeto 666. Esqueceu da sua promessa? — Lúcifer de branco parou de sorrir, agora ambos se encaravam com um olhar sério e eu continuava perdida naquilo tudo. Devia entrar assim como Lúcifer me pediu, mas quero saber quem é este homem e por que ele está aqui.

— Promessa? — Lúcifer de preto ficou com o olhar perdido, era como se aquilo tivesse o levado para longe, para o seu passado — Impossível.
— Não, muito possível — Lúcifer de branco começou a dar passos, contornando a gente enquanto seus olhos frios percorriam cada centímetro de nossos corpos — finalmente está se lembrando.
— Você morreu naquele dia.
— Eu morri? Ou você me matou? Não se lembra da sensação de segurar a faca contra o meu peito enquanto minhas roupas brancas eram banhadas em sangue?
Espera, as roupas dentro do caixote, aquelas manchadas, então eram as roupas deste homem? Lúcifer me disse que matou o seu melhor amigo, mas então como ele ainda está vivo?

— Se é mesmo você, então sabe que as coisas não aconteceram assim — Lúcifer de preto o seguiu com os olhos.
— Você me matou quando desistiu da sua promessa. Olha só pra você, curtindo a vida ao lado da sua amada. Se divertindo, transando também, eu suponho. Ela é mesmo uma gracinha — ele me olhou novamente de cima a baixo — eu adoraria provar um pouquinho.
Nesse momento Lúcifer de Preto avançou sobre o de branco que deu passos para trás, abrindo os braços e rindo.
— Cale a boca.
— Calma maninho, não quer me esfaquear de novo, quer?
— Eu fiz o que você queria que eu fizesse naquele dia.
— Ah eu sei. Mas e você? Fez o que nós dois queríamos? Fez aquilo que prometeu?

— Não tem um dia sequer que eu não me lembre de você — Lúcifer de preto encarou o chão — passei anos lamentando a sua perda e você aparece vivo. Como?
— Depois que levaram o meu corpo os médicos perceberam que o meu coração batia bem devagar. Decidiram terminar de me matar mas o Gourmet interviu. Então me mandaram para outra instituição em outro lugar do mundo. Da pra acreditar? O Gourmet tinha aquela cara estragada e parecia ser frio e impiedoso, mas no fundo ele amava a gente, ele amava as suas crianças.
— Se esteve vivo por todo esse tempo, por que não me procurou?
— Eu não podia, estava ocupado ganhando a confiança dos chefões e eu não fazia ideia de onde você estava. Sabe como é difícil encontrar um Lúcifer? Todos cobrem bem o seus rastros e você cobre melhor ainda.

— Então como me achou?
— Uma pessoa me disse a direção. Então eu comecei a te observar e notei que estava diferente, agora sei o motivo — Lúcifer de branco apontou para mim — uma garota. É sério? Sabe o que eles vão fazer com você e com ela quando descobrirem? Ah eu vou adorar assistir as milhares de sessões de tortura que sua namoradinha vai passar bem na sua frente. O Lúcifer, o projeto prodígio de número seiscentos e sessenta e seis, descumprindo as regras por conta de buceta — ele voltou a rir. Mas sempre num tom ameaçador.
— A nossa promessa ainda está de pé, eu nunca a abandonei.
— É mesmo? Então prove e eu irei pensar no seu caso, pensar se te entrego para eles ou não.

— Ela — Lúcifer de preto apontou para mim — ela é o plano. A peça que precisávamos para desencadear a destruição da organização Fênix. Algum dia eles vão voltar, eles sempre voltam, mas vai demorar muito e essa vai ser a nossa vingança.
Eu? Eu vou destruir a organização que cria os Lúcifers, como? Por que eu?
— Ela? — Lúcifer de branco riu — uma garotinha idiota vai destruir a organização? — ele zombou — me diga como.
— Kaila, entre — Lúcifer pediu.
— Mas...
— Confie em mim. Apenas entre.
— Tudo bem...
Prometemos confiança um ao outro então o mínimo que posso fazer é cumprir com isso, mesmo estando curiosa para saber o que mais eles vão conversar. Apertei firme o pelúcia e passei por ambos sem olhar para trás, mas sei que o de branco está me olhando, sinto o peso do seu olhar em minhas costas. Passo pela porta da mansão e vejo Bety vindo em minha direção.
— Bety, você deixou aquele homem entrar aqui? — foi a primeira coisa que perguntei.

— Eu não tive escolha, se eu o impedisse seria muito suspeito.
— Você o conhece?
— Não, os membros do projeto Fênix nunca entram em contato uns com os outros, é uma das regras.
— Espera... você sabe sobre os Lucifers?
— É complicado, Kaila — ela colocou as mãos em meu rosto — Você está bem? Ele fez alguma coisa?

— Não, eu não estou bem — afastei suas mãos — estou dentro dessa caixa de segredos e mentiras que vocês me contaram. Sempre dizendo que eu não posso saber disso ou daquilo, e agora tem esse outro Lúcifer. Estou cansada disso tudo — entreguei o pelúcia a ela — tome, leve para Horrania, isso é uma ordem — passei por ela e comecei a subir os degraus da escada. Talvez eu tenha sido um pouco grossa demais, me viro para olha-la uma última vez e ela esta chorando enquanto me encara, por que o choro? Eu nem fui tão rude assim.
— Faço o que faço por que te amo, é tudo pela sua proteção — é só o que ela diz.

Termino o meu trajeto e me sento no chão escorada na parede de um dos corredores. Um aperto forte invade o meu coração e levo a mão até o peito, nesse momento meus dedos tocam algo sólido. Era a chave pendurada em meu pescoço, a chave que revela tudo o que eu preciso saber. A puxo do peito arrebentando a correntinha e a jogo no corredor, fico ali encarando-a por alguns segundos, presa em meus pensamentos e em minhas dúvidas. Talvez esse seja o momento de descobrir por mim mesma qual é o segredo que aquelas pessoas estão escondendo de mim. Acho que já confiei demais, preciso saber... me levanto, pego a chave e ando em direção ao covil do diabo. Este é o momento que colocará a verdade em jogo, este é o momento que irá mudar tudo a minha volta...

Meu Diabo FavoritoOnde histórias criam vida. Descubra agora