Meu Diabo Favorito

Capítulo 65

— Pode deixar. Estamos bem perto de saber se tudo vai dar certo... da próxima vez que nos reunirmos em volta de uma fogueira será para comemorar nossa vitória.
— Isso aí, velha — a apertei.
— Você pode ser uma adulta mas ainda tenho direito de te dar umas boas surras se continuar com esse papo de velha.
— Posso te chamar de senhora madura, então?
— Também não — ela riu.
O clima do restante desta noite ficou estranho e silencioso entre todos nós, era amanhã o dia da entrevista e a tensão tomou conta de cada centímetro da mansão. Estávamos confiantes e ao mesmo tempo com medo, desejávamos que a hora chegasse logo mas também queríamos que o tempo corresse mais devagar.

Passei o restante da noite agarrada ao meu diabo, forçando ele a prometer que voltaria o mais rápido possível para mim. E então segunda feira chegou... era a hora de entrar no carro e ir até a sede da emissora para gravar e iniciar o nosso plano, agora não tem mais volta, é tudo ou nada. Somos nós contra eles. Contra todos. Lúcifer e eu entramos no veículo que nos esperava do lado de fora da mansão. Dessa vez quem iria dirigir era o motorista pessoal dele, o mesmo que eu já conhecia bem. Passamos toda a viagem de mãos dadas e ele me acalmou após perceber que minha mão tremia.
— Não precisa ter medo, eles não podem te fazer nenhum mal— ele a segurou firme.

— Não estou com medo de nenhum deles — olhei pela janela, ainda estávamos entre as árvores — meu único medo é não conseguir salvar você. Se qualquer coisa der errado, por menor que seja, eu não vou mais poder te ver pelo resto da vida.
— Mesmo se algo sair do controle você tem que continuar sem mim, por você, pela sua mãe e por todos que estão torcendo por nós naquela mansão.
— Eu sei...
— Relaxa, a gente planejou tudo junto então não tem como nada dar errado, eu sou o cérebro e você é... bem, você é você.
— Não vem não, eu sou muito mais inteligente que você.

— Foi o que eu quis dizer, Kaila.
Em menos de duas horas estávamos próximos do estacionamento da emissora N.O.W, a mais famosa em questões de audiência nacional. Pelo que fomos informados, a entrevista seria gravada e só iria ao ar a noite, caso as nossas provas fossem legítimas. Ao chegarmos no enorme edifício nos despedimos do motorista e seguimos para a grande entrada onde avistamos dois seguranças. No topo do prédio havia o enorme símbolo da emissora e eu ficava apreensiva a cada novo passo.

— Lúcifer, porque não vamos na delegacia apresentar o caso primeiro?— aquela pergunta estava me intrigando a algum tempo.
— A pirâmide controla tudo, Kaila. Eles abafariam esse caso o mais rápido possível, por isso precisamos fazer essa entrevista antes. Mesmo se me prenderem agora, a entrevista ainda vai pro ar e eles não vão conseguir abafar isso tão cedo. Primeiro precisamos apresentar os fatos ao povo, depois a justiça.
— Até que você sabe pensar — nos aproximamos dos seguranças.
— Eu estou sempre dois passos a frente, não se esqueça.
— Convencido.

Falamos com os seguranças o motivo de estarmos ali e um deles nos guiou até uma pequena sala aconchegante onde fomos recebidos pela coeditora do jornal. Tivemos uma boa conversa sobre tudo e o ponto chave pra ela se convencer a permitir a entrevista foi os exames de DNA e a história convincente. Ela era uma mulher experiente de meia idade, falava com profissionalismo e a todo momento parecia ler nossas mentes com seus olhos frios por trás da lente de seus óculos redondos.
— Espero que entendam que o que estão dizendo é algo terrivelmente sério — ela ajeitou os óculos — e eu vou ter que pedir a um dos meus agentes para acionar a policia imediatamente.

— Entendemos — Lúcifer falou.
— Mas assim como vocês eu também tenho os meus interesses próprios e uma notícia assim aumentaria ainda mais a audiência do nosso jornal. Então vamos fazer o seguinte, faremos a entrevista, acionaremos a policia e esperaremos os resultados dos novos exames de DNA feitos pela própria justiça, após isso divulgaremos essa entrevista esta noite. Lúcifer já havia me alertado sobre aquilo, que eles iriam esperar que a própria polícia confirmasse os exames de DNA e também que fizessem novos para testar a autenticidade. Era um procedimento cauteloso para garantir que de fato estávamos falando a verdade, a velha e chata burocracia.
— Tudo bem — concordei.

— E mais uma coisa, um pequeno capricho — ela continuou — se toda essa informação for mesmo verdadeira, o seu rosto irá estampar as capas das principais revistas e outros jornais, então peço que a sua próxima entrevista também seja conosco, como um contrato exclusivo, o que acha?
— Tudo bem, eu aceito.
— Ótimo, estamos todos de acordo então. Poderia me acompanhar?
Eu a segui pelos corredores elegantes e iluminados da emissora enquanto Lúcifer esperava na sala anterior. A todo momento eu me lembrava do treinamento e dos ensaios da semana passada, estava pronta para não cometer erros. Chegamos e uma área mais aberta repleta de câmeras apontadas para um sofá branco, atrás havia um papel de parede muito lindo remetendo a uma cidade noturna. Igualzinho aos papéis de parede que ficavam atrás dos apresentadores nos programas que eu assistia. Ela pediu para que eu me sentasse e esperasse mais um pouco, em alguns minutos entraram dois funcionários que gerenciavam as câmeras e por último uma entrevistadora que eu já havia visto por algumas vezes enquanto assistia ao jornal. Ela sentou ao meu lado segurando alguns papéis que eu julguei serem perguntas prontas. A luz do cenário diminuiu enquanto a bela moça ao meu lado se ajeitava no sofá.

— É isso, está pronta? — ela sorriu para mim.
— Acho que sim, só um pouco nervosa.
— Fique tranquila, isso só vai ao ar a noite. Nossa equipe vai editar tudo então não se preocupe com erros ou coisas parecidas. Qualquer coisa é só me avisar que eu faço a pergunta outra vez e você responde como se fosse a primeira vez, tudo bem?