— Minha mãe — me levantei novamente — então minha mãe está viva?
— Tome — ele me entregou outro papel e nele estava os dados de uma outra pessoa, uma mulher cujo o nome era Benedity Russefort.
— Benedity Russefort... — sussurrei para mim mesma.
— Sim, mas ela não usa mais esse nome por questões de segurança. Ela prefere ser chamada de Bety.
— Bety... a mesma Bety?
— A mesma Bety, eu pedi a ela que não te contasse nada até o momento certo. Não achou estranho a maneira que ela te tratou desde o dia em que pisou aqui? Ela me prometeu que não te contaria nada, mas me pediu para poder ficar próxima de você o máximo possível. Ela queria te ver, te tocar, te sentir. No dia em que te trouxemos para cá ela ficou a noite inteira acordada ao seu lado, não saiu nem um segundo sequer.
— Quando eu acordei ela estava comigo no quarto — sorrio ao lembrar, estou surpresa e ansiosa, estou numa mistura indescritível de sentimentos — eu sempre me senti segura perto dela desde o início. Eu preciso falar com ela agora mesmo...
— Você não está com raiva? — ele se levanta e anda até mim.
— É óbvio que estou, essas pessoas acabaram com a minha família, graças a elas eu passei boa parte da minha vida dentro de um orfanato.
— E quanto a mim? Eu sou um desses responsáveis por acabar com a sua vida.
— Não, eu seria uma hipócrita se pensasse isso depois de tudo o que me contou. Você é uma vítima assim como eu, até nisso somos parecidos. Todos os jovens desse projeto fênix são vítimas, eles são retirados de suas famílias e criados como marionetes. Os únicos culpados aqui são aqueles que promovem isso, eles sim são merecedores de todo o meu ódio. Lúcifer me abraça forte, fico sem entender nada.
— Estamos quase no fim, Kaila. Vou concluir o meu plano, iremos dar um basta nisso e quando tudo acabar você vai poder viver livremente com sua nova família. Agora vá ver a sua mãe, eu te conto o plano quando você voltar.
— Estou indo — devolvo o abraço e em seguida saio correndo dali. Passo pela porta do quarto, pela sala, pela porta que leva ao corredor e sigo apressada olhando para todos os lados. Ainda existem perguntas a serem respondidas mas nesse momento eu só preciso fazer uma coisa, encontrar a minha mãe. Irei pedi-la para me fazer tranças, irei pedi-la para me abraçar vezes mais, para escutar os meus segredos e me contar os seus. Irei fazer tudo aquilo que uma filha deve fazer com sua mãe, tudo aquilo que me foi tirado se encontra bem aqui nesta mansão. Minha nova família, minha mãe. Sinto meus olhos lacrimejando, não quero chorar agora mas estou feliz por recuperar um pedaço de mim. Me lembro de todas as vezes que fiquei sentada na cama do orfanato me perguntando o por que havia sido abandonada, quando na verdade eu havia sido tirada da minha família.
Todas as vezes que imaginava como seria sentir os braços de uma mãe e de um pai, aquilo doía, doía muito. E agora parte disso voltou para mim, a minha mãe passou todos esses anos pensando em mim, me procurando e agora me protegendo. Então esse é o verdadeiro amor de uma mãe, eu o recebi por todos esses anos mesmo sem saber. Desço a escadaria, olho em ambas as direções, sigo para a cozinha, para a sala de jantar, para a sala de lazer.
— Tia Kaila, por que está chorando? — Horrania me encara do sofá.
— Não é nada, eu só estou feliz. Você sabe onde a Bety se meteu? — pergunto parada no hall.
— Precisa de algo, senhorita? — a voz dela ecooa a minha direita. Me viro e a vejo parada no corredor que leva até a sala de jantar. Fico congelada ao vê-la, minhas mãos tremem.
— Eu...
— Por que está chorando — ela anda rápido até mim e desliza suas mãos quentes sobre o meu rosto, limpando minhas lágrimas com os dedos — o que houve?
Parece que a minha voz sumiu, a mistura de sentimentos me deixou estagnada e só consigo olhar para ela enquanto cada parte do meu corpo fica fraca. E então eu a abraço forte, forte como nunca antes havia abraçado ninguém.
— Obrigado por não desistir de mim, mãe — enfim as palavras saem e naquele momento não era apenas eu quem derramava lágrimas, ela também.
— Me desculpe pela demora — ela devolve o abraço — eu te procurei por todos os dias da minha vida, eu queria ter cuidado de você, te segurado no colo e contado histórias para você dormir.
— Eu sei de tudo agora, eu sei da dor que eles te fizeram passar e eu prometo que vou ajudar o Lúcifer a destruir todos eles.
— Kaila, Bety — Lúcifer nos chama — Podemos nos sentar para conversar?
Paro de abraçar a minha mãe mas não tiro os olhos dela, não quero perde-la de vista novamente.
— Sim, podemos — respondo.
— Eu sei que vocês precisam desse momento juntas, mas existem coisas que devem ser feitas antes de vocês enfim ficarem livres para viver como mãe e filha.
— É — Bety concorda enquanto segura a minha mão — ainda temos que finalizar o plano, depois disso tudo estará acabado.
Adentramos na sala e nos sentamos no sofá, eu ao lado da minha mãe e Lúcifer no sofá a nossa frente.
— Qual é o plano? — pergunto.
— Vamos ter que esquecer a parte das suas aulas, não temos mais tempo para elas — Lúcifer começou a falar — essas aulas eram para te preparar para o que vem. Eu queria te deixar completamente apta para ser a agir como uma dama da elite.
— Por que? — pergunto, finalmente saberei o motivo de ter que fazer aulas e subir níveis.
— O plano consiste em devolver aquilo que te foi roubado, o império do seu pai, que agora está em minhas mãos. Sendo bem direto, tudo vai voltar para você, mas se não estivesse preparada de nada adiantaria pois eles arrumariam uma maneira de te derrubar. Por isso as aulas, por isso eu te levei ao limite várias vezes. Mas toda vez que eu te levava ao limite, você revidava e revidava. Gritava, xingava e me desafiava cada vez mais. Foi então que eu percebi que não precisávamos de uma dama da elite, precisávamos de uma dama rebelde. Foi por isso que eu diminui as suas aulas, mas agora não temos tempo nem para elas, você vai ter que encarar a pirâmide sendo você mesma. A Kaila atrevida. A dama rebelde.
— E como vou fazer isso?
— O plano é bem simples, vamos marcar uma entrevista com o jornal local e você irá revelar tudo. Sobre a pirâmide, o projeto Lúcifer, a história do seu pai e sobre as famílias que se beneficiam disso. Você vai reivindicar o império que o seu pai construiu para você. A legítima filha Wight.
— Mas que provas eu terei de que tudo o que eu disser é verdade? Eles vão querer provas, certo? — fiz outra pergunta e ele sorriu, pelo visto já tem tudo em mente.
— Para provar que você é filha legítima, você fará um DNA. Nós temos um frasco com o sangue de Antony, o seu pai. Conseguimos um dos frascos do sangue que ele tirou na época em que foi adotar o Mathias. Quando comprovarem que você é mesmo uma Wight, eles chegarão até mim, o usurpador. E então terão mais uma prova de que o projeto Fênix é mesmo real e que tudo o que você disse na entrevista era verdade. E não podemos nos esquecer da sua mãe, Bety também é uma prova viva de tudo isso. Quando a noticia for ao ar, o mundo inteiro saberá dos segredos da pirâmide e eles vão cair um a um.
— O que acontece quando eles chegarem até você?
— Certamente serei preso. Mas não por muito tempo, quando o topo da pirâmide souber que um dos Lúcifers se voltou contra eles, irão me matar.
— Não — cerrei os punhos sobre as pernas — eles não podem te matar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Diabo Favorito
Romance#20 Em Romance! "Nem Deus Poderá Salva-la Dos Meus Desejos Mais Sombrios" Kaila vê sua vida virar de cabeça para baixo após receber um pergaminho misterioso vindo de um sujeito que se diz ser o próprio diabo. Descrente e sem muita escolha, ela assin...