Meu Diabo Favorito

Capítulo 45

— Elas estão longe — falei erguendo a cabeça para encarar a roupa jogada no chão lá em cima do carpete. Eu devia ter me vestido antes de vir para a cama.
— Elas estão logo ali, aproveite e traga as minhas também.
— Então se vire para lá ou feche os olhos — apertei forte o cobertor contra o peito.
— Sério isso? — ele virou a cabeça para me encarar mas eu evitei seu olhar.
— Sim, não quero que me veja.
— Kaila, isso é mais constrangedor para mim do que para você. Nunca pensei que me rebaixaria tanto.
— Você o que? — cerrei o punho para dar um soco em seu peito desprotegido mas ele me segurou e me puxou para poder me beijar.
— Estou brincando — o diabo sorriu —você é muito estressadinha, sabia?

— Parece que tomar um chá de Kaila despertou o seu humor — fiquei com a cabeça em seu peito, será que ele tem um coração aqui dentro?
— Um chá de Kaila? — ele começou a rir e como o seu corpo ficou tremendo eu não consegui ouvir seus batimentos — você quis dizer um suquinho de uva?
— Pois voce estava bem ofegante em cima desse suquinho de uva — tentei morde-lo mas ele não deixou. Passou os braços em volta do meu corpo e me apertou contra si mesmo e quando eu percebi já havia dormido.

Quando abri os olhos a cena foi a mesma, eu estava com a cabeça sobre o seu peito, seus braços me abraçavam e agora o quarto estava bem iluminado pela luz do dia. Fiquei ali sem fazer nenhum movimento brusco, apenas o observando dormir e por alguma motivo sinto que posso fazer isso o dia todo. Mas o momento durou pouco após  perceber que ainda estava sem roupas, precisava me vestir rápido antes dele acordar. É uma preocupação muito idiota, afinal ontem mesmo estávamos transando, mas a questão é que não estou acostumada a ficar nua com alguém então isso ainda me causa um grande desconforto. Ou talvez eu não tenha confiança em mim mesma e nem na minha aparência... que seja, bem devagar retiro seus braços de cima de mim.

Ele suspira mas não acorda, lentamente vou me esgueirando para longe e finalmente consigo levar os pés para fora da cama. Fico de pé nua sob a luz do quarto e olho para trás, Lúcifer ainda está dormindo, meu plano foi um sucesso.
Ando até o carpete que fica no centro do quarto e pego as minhas roupas que estavam caídas sobre ele. Começo a vestir a calcinha e após colocar peça por peça estou vestida novamente com meu pijama quentinho e confortável. Agora só faltam as pantufas, me viro para procurar e me deparo com o diabo sentado na cama me encarando com cara de sono. Ele aperta os olhos e olha de um lado para o outro, será que está tentando entender se já acordou ou se ainda esta dormindo?

— Então foi tudo real — ele finalmente falou — pensei que tinha sido um pesadelo — em seguida sorriu.
— Desde quando está acordado?
— Desde que se levantou.
— E por que não disse nada filho da puta?
— E perder esse showzinho matinal? Acho que não.
— Preciso ir — falei enquanto voltava a procurar as pantufas — tenho que me arrumar pois a Cho vem a qualquer momento, hoje é a segunda aula. Você sabe onde foram parar as minhas pantufas? Não consigo encontrar.
— Eu te levo elas depois, não vai precisar de pantufas na aula — ele levantou-se e eu desviei o olhar, fingindo ainda procurar algo.
— Ok — andei até a porta e por algum motivo ela estava entre aberta — a gente não fechou essa porta ontem? — perguntei enquanto ele se vestia.

— Não me lembro, fechamos?
— Deixa pra lá.
Sai do quarto e cruzei a pequena sala indo em direção a outra porta. Meu próximo passo foi ir para o meu quarto e apesar de ainda estar sem janela, encontrava-se muito bem arrumado. Escovei os dentes, troquei de roupa, coloquei meus sapatinhos de salto e fiquei treinando por alguns minutos. Andando de um lado para o outro, indo de corredor em corredor. E só depois desci para tomar café da manhã, mais tarde vou dar uma nova explorada no Tablet, faz algum tempo desde a última vez que o liguei. O usava mais para me localizar dentro desta mansão mas agora não preciso mais, decorei todos os lugares acessíveis e até mesmo os não acessíveis.
Andei pelo corredor que levava até a sala de jantar e pelo caminho passei por dois funcionários que me cumprimentaram sorrindo. Por que estão sorrindo?

Eles sabem de algo? Alguém contou o que eu estava fazendo na noite passada? Não, deixa de ser paranoica Kaila. Ninguém sabe e mesmo se alguém souber IDAI? Ao chegar na sala de jantar peguei alguma coisa para comer e fui para a sala de estar, Horrania estava assistindo desenhos e o seu cachorro estava deitado no chão prestando atenção no que passava na TV assim como sua dona. Teve algo que eu percebi no exato momento em que passei pelo Hall, nos pés de Horrania haviam pantufas grandes e aconchegantes, mas não eram pantufas quaisquer, eram as minhas pantufas.
— Horrania onde você conseguiu isso? — apontei para os seus pés.
— No quarto do tio Lúcifer, fui acorda-lo hoje cedo mas ele estava dormindo tão fofinho que eu decidi não desperta-lo.

— E... o que mais você viu por lá? Notou algo estranho?
— Estranho? — a menina me encarou — acho que não, tudo estava como sempre. Tirando a senhora Tia Kaila, é a primeira vez que encontro você sem roupas no quarto do tio Lúcifer.
Andei rápido e sentei ao seu lado, olhei em todas as direções para ver se ninguém havia escutado aquilo.
— Minhas roupas se molharam com a chuva então tive que tira-las — inventei uma mentira qualquer. Como ela é apenas uma criança não deve entender nada mesmo.
— Suas roupas estavam bem secas no chão do quarto, tia Kaila — Horrania falava sem nem ao menos tirar os olhos do desenho animado.