Capitulo 50

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— Cale essa boca seu saco de foca — tentei morder seus braços mas eles estavam muito longe da minha boca e a única opção foi desistir e me dar por vencida.
— Acalmou? — ele beijou a minha nuca.
— Sim. Me solte e verá.
— Não sou besta, o que te falta em tamanho lhe sobra em astúcia. Está ficando tarde, sabia? Pensou no que eu te disse?
— Pensei e minha resposta é NÃO. Eu não vou dormir na casa da árvore com você — vamos ver como ele reage a isso.
— Tudo bem — Lúcifer me soltou — então eu vou sozinho. Te vejo amanhã — ele começou a andar em direção a porta.

— Só isso? Cadê a insistência seguida de ameaças?
— Sem ameaças por hoje.
— Acho que o chá de goiaba te deixou frouxo hein.
— Chá de que? Pare de dizer essas coisas idiotas.
— Você parece gostar dessas coisas idiotas, sempre ri.
— É.. acho que você tem razão. Eu gosto. Enfim, vou indo.
— Eu vou junto. Só porque estou curiosa para ver como a casa é por dentro, nada mais.
— Então vamos.
Deixamos o covil e todo o percurso pelo corredor foi bem silencioso. Fiquei alguns passos atrás apenas seguindo-o e acabei de perceber algo notável. Ele ainda estava sem blusa.
— Não vai vestir algo? — me apressei e fiquei ao seu lado.
— Tenho roupas lá. Quando chegarmos eu procuro algo confortável.

— Você sempre tem tudo planejado né
— Óbvio, Kaila. Eu sou treinado para estar sempre dois passos a frente das pessoas.
— Convencido e arrogante.
— Sou. Faltou dizer bonitão
— Bovirjão.
Chegamos na escada.
— Faça silencio — ele pediu — não seria apropriado acordar todo mundo a essa hora.
— Está com medinho de que nos vejam fugindo na noite?
— Você não vai querer mais pessoas no seu pé igual a Horrania, vai?
— Não. Horrania já vale por muitos.
Descemos degrau por degrau e andamos até a porta principal da mansão. Esta estava trancada mas Lúcifer tinha a chave. Ele abriu e ambos saímos em meio a chuva que estava lá fora.
— Pronto — ele voltou a trancar a porta enquanto eu observava a chuva, o céu, o chafariz e as árvores próximas. Todas molhadas e tendo suas folhas arrancadas pela brisa gelada.

— Vamos ir na chuva? — fiz uma pergunta muito, mas muito idiota.
— Não, vamos ir na casa da árvore — ele não perdeu tempo ao fazer uma de suas piadinhas bestas.
— Retardado, quero saber se vamos ter que nos molhar — ficamos ali parados observando o tempo.
— É só a gente correr.
— Você não tem capas de chuva? Ou guarda-chuvas?
— Acho que não — ele enfiou as mãos nos bolsos da calça.
— Você é rico mas não tem nem guarda chuva?
— Você é pobre e tem medo de chuva? Vocês não vivem basicamente nas goteiras? — Por algum motivo aquilo me fez rir, me fazia lembrar das milhares de goteiras daquele apartamento velho onde eu morava.

— Isso é preconceito, sabia? Pode ser cancelado se disser isso em público.
— Vem — ele segurou a minha mão e me puxou para para chuva. Começamos a correr de mãos dadas e o meu cabelo rapidamente ficou todo molhado, Bety vai me matar quando ver. Rodeamos a mansão até chegarmos até a portinhola metálica que dava acesso ao jardim do éden.
— Estou encharcada por sua culpa — falei em meio ao som de chuva e trovões.
— Idai? — ele abriu a portinhola e quando eu tentei passar ele me puxou e me beijou — é só chuva, não vamos morrer por conta dela.
Voltamos a correr entre o Jardim, mas sem soltar as mãos, ele ia na frente, me guiado entre as dezenas de flores e rosas. A terra molhada emanava um cheiro gostoso que me lembrava a infância, coisas boas, mudanças...

Chegamos até a área aberta onde a grama era perfeita e lá estava ela, a casa na árvore, apenas me esperando para ser explorada. Por alguns segundos ficamos ali parados de mãos dadas observando-a enquanto a água da chuva escorria por nossos rostos encharcados. Era a primeira vez que eu corria de mãos dadas com alguém em meio a um temporal, sinto que posso fazer isso todo dia... se for com ele...
O momento cinematográfico foi interrompido por um estrondo que fez a terra tremer. Aparentemente um raio havia caído em algum lugar nos arredores da mansão e eu dei um pulo de susto.

— Vamos morrer aqui — gritei largando sua mão e correndo em direção a árvore. Comecei a escalar degrau por degrau e fazer aquilo era mais empolgante do que eu havia imaginado, era como se eu fosse uma escoteira — não olhe pra minha bunda — reclamei ao perceber que o diabo vinha logo atrás de mim e olhava pra cima.

— Não sei que bunda — ele riu e minha vontade foi de chutar sua cara e o derrubar daquela altura.
Cheguei até o fim do trajeto e andei pelo piso de madeira da varanda da casa. Tudo ali era imenso, bem maior que os quartos do meu antigo apartamento. Tive que esperar Lúcifer terminar de subir para que ele acendesse as luzes já que eu não sabia onde elas ficavam.
Foi fascinante, haviam luzes de todas as cores espalhadas por todos os galhos daquela árvore gigante. Havia uma cadeira de balanço na varanda, algumas plantas, decorações e uma porta redonda feita de madeira talhada a mão. Lúcifer empurrou a porta e entrou na frente enquanto eu observava a cena dali de cima, era possível ver toda a mansão e também os seus arredores.

Um vento forte balançou os meus cabelos e como eu lembrei que tenho muito medo de altura, achei melhor entrar na casa também. Apesar de que cair dali seria impossível já que a varanda era rodeada por um parapeito feito do mesmo material que a porta. Entrei e me deparei com uma extensa área repleta de coisas distintas, havia um carpete no chão, um lustre no teto e a parte de trás da casa havia uma enorme janela de vidro que revelava uma vista vasta do horizonte e das luzes da cidade.

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