Capitulo 51

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Em um dos cantos tinha uma cama de tamanho médio, em outro um criado mudo, mais a frente estantes de livros e uma poltrona aparentemente confortável. Um pequeno fogão, armários e guarda-roupas, cortinas prateadas e o teto acima da cama era feito de vidro, dando vista para o céu nebuloso e tomado pela chuva. Me senti perdida em meio a tantas coisas em um único cômodo.
— incrível — falei indo de um lado a outro, explorando, mexendo nas gavetas, nos guarda-roupas e em tudo o que via pela frente. Haviam alguns pelúcias jogados pelo chão e alguns desenhos feitos a mão colados em algumas partes da parede.

— Se impressiona com muito pouco — o diabo andou ate um dos guarda roupas e pegou duas toalhas, uma pra ele e outra pra mim, seguido de pijamas confortáveis — troque-se.
— Na sua frente? — perguntei, segurando a toalha e o pijama. Pijama esse que só agora eu percebi que era uma espécie de fantasia de urso marrom, com capuz de orelhinhas e tudo mais — um pijama de fantasia?
— Eu sei lá — ele começou a revirar o guarda roupas outra vez — mas que coisa de idiota, só tem pijamas de animais aqui.
— Você vai ter que usar também, que pena eu não ter uma câmera agora — zombei enquanto ele insistia em procurar algo para vestir que não envolvesse animais.

— Inferno, eu devia ter trago algo.
— Pare de reclamar, agora vire-se para lá e nem pense em espiar — ele me obedeceu e eu rapidamente fui trocando aquelas roupas molhadas. Ele fez o mesmo e em alguns minutos estávamos parados um de frente para o outro, eu usando pijama de Urso marrom e ele de leão.
— Que patético — Lúcifer voltou a reclamar.
— É até fofo, vamos, coloque o capuz de orelhinhas, quero ver.
— Nem fodendo.
— Anda, vai te proteger do frio — fiquei na ponta dos pés para poder segurar o seu capuz e posicionar em sua cabeça — pronto, que neném mais fofinho — comecei a rir da sua cara de desaprovação.
— Pegue os cobertores, faça algo que não seja me irritar.

— Um grande leãozinho rabugento — procurei os cobertores e não foi difícil achar, cruzei todo o cômodo carregando tudo sozinha enquanto o diabo apenas ficava sentado na cama assistindo a tudo, mas não era só isso, parecia estar pensando em algo distante. Eu até me preocuparia mas vê-lo naquela fantasia de leão me fazia rir toda vez que olhava.
— O que foi Kaila, perdeu alguma coisa na minha cara? — ele percebeu que eu estava encarando demais.
— Calma Simba. Pare de ser tão reclamão e me ajude a abrir os cobertores.
— Eu não sou de ajudar ninguém — ele cruzou os braços.

— Ah claro, as vezes eu esqueço que você cresceu com funcionários limpando sua bundona — joguei os cobertores em cima dele.
— Largue de ser invejosa — ele começou a abrir os cobertores — eu sei muito bem que você usava casacos em dias de chuva.
— Ah eu usava? — de onde ele tirou essa informação falsa?
— Sim, casacos de pele de ratos. Ratasacos — como imaginei, ele só queria me provocar como de costume.
— Pare de dizer idiotices, essa palavra nem existe.

— Se eu quiser ela existe. Eu mando colocar no dicionário. Ratasaco. Casaco de rato usados por Kaila.
— Você acha que só por que tem dinheiro pode fazer tudo o que quer? — deitei no canto da cama.
— Óbvio. Dinheiro é poder.
— Dinheiro não é tudo.
— E o que é tudo? — ele perguntou enquanto se deitava ao meu lado — Você entrou nisso tudo por que queria dinheiro, lembra?
— É.. — ficamos deitados um de frente pro outro — mas percebi que preciso de muito mais do que apenas dinheiro.
— Tipo o que? O que seria mais importante do que uma conta milionária?

— Todo o resto — fiquei de barriga pra cima, encarando o teto de vidro sendo banhado pela chuva — eu preciso de tudo isso, da Horrania sendo uma pestinha, da Bety agindo como se fosse minha mãe, da Morgana dando conselhos como uma prima e estou me apegando até mesmo na Cho, apesar das broncas que ela me dá. E também tem você...
— E o que eu sou pra você, Kaila? Onde eu me encaixo nisso tudo? — o diabo fez uma pergunta cujo a resposta ele mesmo já sabia.
— Você não tem importância alguma — resmunguei.
— Menos mal então, seria uma pena se você estivesse apaixonada por mim. Uma plebeia gostando de um rei? — ele riu.
— Mesmo você não sendo importante — continuei — eu quero que você fique quando tudo isso acabar. Quero que permaneça na minha vida, quero que todos vocês permaneçam. Quero continuar morando aqui — pronto, falei. Devia me expressar melhor em relação ao que sinto mas não sei fazer isso.
— Tudo isso é seu, Kaila — senti seus dedos deslizando pela minha bochecha e me virei para encara-lo.

— Meu? Tipo a mansão também?
— Sim. Vai tudo ser passado para o seu nome quando tudo isso acabar. Então cabe a você decidir se essas pessoas podem ou não continuar ao seu lado dia após dia.
Enfim outra ótima notícia, então eu posso continuar nesta família maluca que eu consegui. Me sinto bem mais tranquila agora.
— Então você também vai continuar aqui? — perguntei.
— Você é muito inteligente algumas vezes, mas em outras consegue ser bem ingênua — do que ele está falando afinal?
— Por que diz isso? Você não quer ficar aqui com todo mundo? — não quer ficar aqui comigo, era essa a pergunta que eu devia ter feito...
— É mesmo essa pergunta que você quer fazer? — Lúcifer pareceu ler a minha mente.

— Hm... Você não quer ficar aqui comigo? — Agora sinto que vou explodir de vergonha.
O Diabo ficou em silêncio me olhando e só o que fez foi encaixar ainda mais o seu corpo no meu e me beijar.
— Boa noite, Kaila.
Então é só isso que ele consegue dizer, Boa noite Kaila? Pensei que significasse um pouco mais, mas pelo visto não devo ser tão importante assim. Que vontade de encher esse cara de socos... me sinto uma idiota agora, falando essas coisas pra receber apenas isso de retorno. Se não quer ficar perto de mim quando tudo isso acabar então é só dizer, não precisa ficar enrolando. Penso em dizer mais alguma coisa para confronta-lo mas ele já dormiu, foi rápido. E o pior, está me abraçando, devia empurra-lo e joga-lo no chão, é isso que merece.

Meu Diabo FavoritoOnde histórias criam vida. Descubra agora