Capítulo 47

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— Claro, a Kaila santinha. Mas me conte, como foi?
— Quer mesmo me matar de vergonha né...
— Quero — ela continuou rindo enquanto eu ficava cada vez menor devido a vergonha — como deve ser sido dois virgens se pegando.
— Espera aí... — que história era aquela de dois virgens??? — Você disse dois virgens? Então quer dizer que ele nunca havia transado com nenhuma garota antes?
— Puta merda, agora eu falei até demais — Bety se lamentou mas já era tarde demais.
— É por isso que eu te amo Bety — lasquei um beijo na bochecha dela e saí saltitando pelos corredores a procura do diabo para usar as novas informações ao meu favor. Estou até mesmo parecendo a Horrania com seus planos macabros de criança. Subi para o segundo andar mas nada de encontra-lo. Fui até o seu covil, vazio...

Entrei em seu quarto e como estava deserto me peguei pensando no caixote em baixo da cama, a chave em meu pescoço ficou até mais pesada naquela situação. Mas eu prometi esperar, prometi confiar então não irei quebrar essa promessa a menos que seja realmente necessário. Dei meia volta e esbarrei no diabo. Isso me fez perder o equilíbrio e acabei caindo no chão.
— Quer me matar do coração? — perguntei enquanto ele estendia a mão para me ajudar a levantar.
— O que está fazendo aqui? — ele perguntou, ríspido e com uma cara nada amigável.
— Te procurando.
— E o que você deseja falar comigo?

— Primeiro vamos nos sentar — o puxei para o sofá — antes vai me dizer o por que está com essa cara de cu — antigamente seria muito mais fácil apenas brigar ou discutir, mas agora que sei que ele luta um conflito dentro da própria mente, acho que entender e saber o que está acontecendo se tornou a opção mais sensata.
— Não tem nada pra dizer, eu só estou cansado. Tive que resolver alguns problemas envolvendo alguns funcionários. Nada mais.
— Você tem algum emprego? — essa é a primeira vez que aquela pergunta veio a minha mente.
— Eu tenho um império aos meus pés. Por que me daria o trabalho de ter um emprego?

— Então você tem alguma empresa ou coisa do tipo? Você é um CEO?
— Não, na maioria das vezes um CEO trabalha para o dono de uma empresa, isso quando o próprio dono não se intitula de CEO. Eu estou acima disso. Mas tenho o meu próprio CEO que cuida de tudo na minha ausência, ou sendo mais específico, uma CEO. Morgana possui esse cargo dentro do meu império.
— Caramba... por isso ela tem aquela presença dominante. Mas me conta — puxei os pés para cima do sofá — sobre o que é o seu império? Perfumes? Comida? Roupas?
— Seus pés são mesmo bem gordos — ele mais uma vez veio falar dos meus pobres pés descobertos. Pulei do sofá e fiquei parada em sua frente.
— Esqueça os meus pés. Eu vim dizer que dominei a minha postura, o que acha disso? Eu aprendo muito rápido.

— Sei que aprende — ele inclinou a cabeça no sofá e ficou de olhos fechados. Parecia cansado, era a primeira vez que o via assim, pelo visto alguém teve o dia mais agitado que o meu. Passado alguns segundos ele voltou a posição inicial e ficou me olhando e sorrindo — por que parou de falar? Continue me contando o que aprendeu hoje e como foi o seu dia.
— Você parece exausto... seria melhor ir dormir um pouco — sugeri, não adiantaria nada atormentar alguém que mal conseguia ficar de olhos abertos.

— Eu prefiro escutar a sua voz — ele bocejou e em seguida caiu de lado deitado no sofá. Segurei suas pernas e as posicionei sobre o móvel, em seguida busquei um dos cobertores e o enrolei nele. Quem diria que até o diabo precisava descansar. Sem fazer barulho deixei o local e fui para o meu quarto tomar um banho bem demorado, troquei as roupas do dia, escovei bem os dentes. Me certifiquei de que a coroa de tranças ficassem perfeitas e desci para o primeiro andar onde esbarrei com Horrania correndo atrás do seu cachorro que pelo que entendi, havia mordido um de seus brinquedos e isso deixou a menina furiosa.

Durante o jantar pensei em acordar Lúcifer mas decidi que era melhor deixa-lo dormir um pouco. O clima lá fora continuava frio mas não chovia forte como na noite passada, agora era uma chuva leve com apenas algumas pancadas de ventos, relâmpagos e trovões. Bety jantou ao meu lado e tivemos uma boa conversa sobre qual era o nosso clima favorito, assim como eu ela preferia o tom de cores do outono, mas também não dispensava uma boa chuva de inverno.
— Eu vou contar uma história de terror — Horrania bateu as duas mãos na mesa.
— Lá vem ela — falei rindo.
— E o que a pequena pestinha sabe sobre histórias de terror? — Bety parecia curiosa. Qualquer um notava que aquela menina não era normal.

— Sei algumas coisas — ela ficou de pé na cadeira — era uma noite muito fria — Horrania gesticulava enquanto falava — a fazenda estava silenciosa e todos os animais já haviam ido dormir no celeiro. Menos a galinha e o galo, estes dois não podiam dormir pois eles sabiam — mais uma vez bateu as mãos sobre a mesa — eles sabiam da promessa que haviam feito ao lobo do outro lado da cerca. Eles prometeram uma dúzia de ovos ao lobo mas não entregaram nenhum e por isso não podiam dormir, sabiam bem de que o lobo iria vir para cobrar a promessa e que todos os outros animais estavam em perigo por culpa deles. Então na maciota da madrugada o lobo veio e matou todos. E fim.

— Mas que diabo de história é essa? — Bety começou a rir.
— É uma história sobre quebrar promessas, não é mesmo Tia Kaila — a menina me encarou. Não é possível que ela tenha inventado tudo isso apenas para me lembrar de sua chantagem.
— Claro — concordei — mas faltou um segundo ponto de vista nessa história — me levantei, era a minha vez de contra atacar — já que o lobo foi burro e matou todos os animais, ele ficou sem recursos e ovos pelo resto do ano e acabou morrendo de fome. Lamentando a escolha precipitada que tomou ao não perceber que dependia dos animais para continuar vivendo na vida mansa. Então eu acho melhor o lobo pensar bem na proxima vida dele ou vai ficar sem nada outra vez.
— Sensato — ela entrelaçou ou dedos — por hora vamos deixar a história assim.

Após mais algum tempo rindo e conversando, nós três nos despedimos e cada uma seguiu o seu rumo pela mansão. Encontrei com Lúcifer novamente em seu covil mas dessa vez ele estava bem acordado e renovado. Parece que o cochilo lhe fez bem.

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