Capítulo 90

46 7 0
                                    

Nora Becksen on

Meus pulmões ardem como se tivessem mais de 100 quilos em cima do meu peito, sinto minha garganta se fechar assim que o rosto de Jason aparece, me encarando enquanto me aperta com mais força. Todos os momentos em que eu o beijei, que fizemos amor, que rimos, todos eles passam em seus olhos como um filme ruim, e é isso que mais me machuca. Eu não consigo entender como me enganei tanto assim, como pude confiar em um monstro? Dormi ao lado dele por centenas de noites, droga, eu deixei James por ele... Seu olhar fica carregado de ódio e os dedos se afundam mais, até eu ouvir algo se quebrando, meu pescoço.

Acordo aos gritos e com o choro alto, implorando para que ele pare. Meu pai entra correndo no quarto e logo está ao meu lado. Continuo chorando.

- Nora, filha... você está assim há quase um mês, todas as madrugadas, sem falta. Porfavor querida, procure ajuda. Deixa eu te ajudar.

Limpo as lágrimas de minhas bochechas.

- Eu não preciso de ajuda, só preciso esquecer.

Ele suspira ao ouvir a resposta exatamente igual às anteriores.

Ele beija o topo de minha cabeça.

- Tente dormir, eu te amo.

- Também te amo.

Fungo o nariz e coloco novamente minha cabeça no travesseiro. Meus dedos viajam até meu pescoço, eu ainda sinto sua presença aqui, como se seus dedos nunca tivessem deixado minha pele desde aquela noite, como se meu ar ainda estivesse entrecortado. É como se depois daquele dia eu tenha esquecido como respirar, não consigo voltar a respirar normalmente, é como se eu estivesse sufocando o tempo todo.

Me levanto e vou até a sacada, o vento gelado atinge minha pele como microagulhas. Olho para o céu, junto minhas mãos e sussurro.

- Deus, se está aí mesmo, porfavor me ajude. Me ajude a esquecer...

Me viro e pego os remédios que me receitaram. Tomo eles mas ainda assim não consigo dormir. Coloco uma calça de couro preta, botas over e um moletom preto com pedraria nas mangas.

Mando uma mensagem para Maxie e deixo um bilhete para meu pai. Pego minha bolsa e entro em meu carro.

- James te viu sair? -pergunto assim que ele entra no carro-

- Viu, mas eu disse que ia em um amigo meu. Você tem certeza de que quer ir lá?

Não respondo.

Eu não tenho certeza. Mas preciso do meu ar de volta.

Falta apenas 1 hora para a penitenciária abrir para visitas. Pedi ao meu advogado uma visita particular.

20 minutos...

Maxie pega em minha mão fria e acaricia os nós dos meus dedos.

12 minutos...

Abro a grande porta de ferro pronta para desistir e ir embora. Olho meus dedos com pequenas cicatrizes brancas.

5 minutos...

Passo pela revista e então aguardo levarem Jason até a sala.

1 minuto...

- Nora Becksen!

- Aqui.

- Você pode acompanhar seu advogado.

Tento soltar o ar preso em minha garganta mas volto a sufocar assim que coloco meus olhos nele,  a porta é fechada e somos só eu e ele. Seus ombros então ainda mais largos e o olhar mais assustador que em meus sonhos, é como se eu estivesse diante de um monstro.

- O que você quer aqui, Nora? -diz ríspido mas com sarcasmo-

- Não pronuncie meu nome, nunca. -tento dizer o mais firme possível-

Ele apenas ergue o olhar até mim e me analisa. É uma pessoa totalmente diferente que está nessa cadeira. Eu me sinto traída todas as vezes que lembro o que ele fez comigo, é como se eu fosse esfaqueada pelas costas a todos os minutos do dia.

- Já pronunciei tantas vezes, pelo que eu me lembre, você gostava. Ainda mais quando você estava nua na minha cama. Você ainda se lembra? -ele diz com um sorriso perverso lateral- Se lembra da sua pele se arrepiando apenas com um toque meu e... -e então ele para de falar e ri-

Travo meu maxilar.

- Mas vou respeitar seu pedido, você realmente combina mais com... -ele finge pensar e depois sorri- vadia!

Meus olhos secam, ardem e o ar fica mais pesado. Eu não tenho tempo de processar, em um segundo eu estava em pé o encarando e no outro eu estou de joelhos na mesa, estapeando-o, o arranhando o quanto posso e dizendo muitas coisas desconexas.

- Eu te odeio! Eu odeio você, seu lixo!!!

Ele ri.

Começa a gargalhar.

- Você não me odeia, e sabe disso. Você não está aqui porque me odeia, está aqui porque ainda me ama. Seu frágil coração não consegue processar isso. Você me ama, Nora. -ele diz sorrindo-

Dou um tapa forte em seu rosto, sua bochecha sangra.

- Você estragou minha vida, sua vadia desprezível. -seu tom é carregado de puro ódio-

Sou eu quem deveria estar pingando raiva.

Dessa vez as lágrimas começam a escorrer quentes por minhas bochechas.

- Você! Você quem está estragando minha vida, seu monte de merda!!!! Eu te odeio, eu te odeio!

Começo a bater nele novamente, sinto os nós de meus dedos ralarem, o que apenas me faz lembrar daquela noite e ficar ainda mais pocessa.

Meu choro fica alto, se misturando com meus gritos e sua risada; um verdadeiro filme de terror. Meu advogado entra, começa me puxar pela cintura e minhas mãos vão até o pescoço de Jason, não enxergo mais nada. Apenas fico focada em criar forças para... para... para que ele fique sem ar e não eu. Eu queria ele morto, para que assim ele devolvesse o ar que está roubando de mim.

Sou tirada de cima dele e me sento no chão do lado de fora, posso escutar sua risada. Choro nos braços de Maxie.

- Eu só quero respirar de novo...

Sussurro isso repetidas vezes.

Me desvencilho dos braços de Maxie e ando com ele ao meu lado até meu carro. Ele dirige e para em frente o apartamento dele e de James.

- Você quer entrar? -diz-

- Não. Obrigada por me acompanhar, Maxie. -respondo e o encaro enquanto aperto suas mãos-

- Pode contar comigo, Nora. Eu nunca vou te julgar.

Suas mãos vão até meu cabelo, ele sorri carinhosamente e desce do carro. Fico alguns minutos parada lá na frente, quando meu celular toca. Um pequeno sorriso escapa dos meus lábios ao ver que é Sam.

Love and photographyOnde histórias criam vida. Descubra agora