Camadas

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Quando voltei à multidão, fiquei incucada... achei que tudo estava muito longo...
Eu não tinha uma consciência plena de que era sonho. Eu só sentia que não durava muito. E ali, estava durando. Durando demais.

Vi Michael fazer quase um show completo.

Vi ele cantar Smooth Criminal, Lovely One, Working Day and Night, Beat it...
Mas foi quando começou Billie Jean que comecei a sentir um certo incômodo... como se a multidão me apertasse além da conta. Como se eu tentasse me mover e não conseguisse. Ver Michael ao vivo, no entanto, era tão impactante, que o incômodo era algo secundário. Meus olhos estavam nele, e, mais de uma vez eu achei que ele tinha me olhado.

E toda vez que isso acontecia eu achava que ia acabar...

Foi no final de Billie Jean, quando ele jogou o chapéu que eu acho que as coisas tomaram outro rumo.

Não sei se ele quis jogar o chapéu pra mim, tipo para me dar uma lembrança, ou se foi coincidência. Sei que o chapéu preto veio para o meu lado, apenas um pouco mais alto. Eu ergui a mão para pegar. Eu certamente conseguiria...

Mas tinha alguém atrás de mim que pulou para conseguir chegar antes.

E pulou por cima de mim e eu senti um impacto. Uma dor forte na cabeça e um tranco nas costas.

Eu desmaiei, eu acho.

Mas desmaiei num sonho, o que não tem muito sentido...







_ Lucy.

Abri meus olhos. Eu não sentia dor. Não sentia sono, nem cansaço. Eu estava...

Num jardim?

Eu estava com a roupa do show, mas agora eu estava limpa. Sentada em um banco rústico de madeira num enorme jardim florido e tinha um homem ao meu lado. Era ele que tinha me chamado.

_ Eu morri? - perguntei.

O homem riu. Um riso bondoso.

Eu não conseguia definir se era um homem novo ou não. Se era belo ou não...

_ Não. Você não morreu.

_ O que aconteceu? - perguntei.

_ O importante é o que vai acontecer, pois isso, você vai decidir. - disse ele.

Eu olhava em volta, olhava minhas mãos. Eu não conseguia mais discernir se aquilo era real ou não.

_ Eu estou sonhando agora?

_ Realidade ou sonho são irrelevantes agora Lucy.

_ O que é relevante, então?

O homem suspirou e de repente, diante de mim, eu vi minha filha, meu marido e minha mãe. Eles estavam ali, mas era como se não me vissem.

_ Essa é a sua vida. A realidade no tempo e no espaço na qual Ele te colocou nessa consciência, e nós sabemos que você é feliz aqui. - disse-me o homem, apontando para minha família.

_ Sim, eu sou. - respondi, vendo minha família interagir sem a minha presença.

Em um segundo, do lado oposto a minha família, Michael apareceu. Ele estava sentado em um outro banco do jardim, sozinho, com uma roupa comum, daquelas que a gente costuma vê-lo nas fotos: calça preta, camisa vermelha e chapéu.

_ Ali está o Michael. Ele vive a vida da melhor maneira que pode. Não toma as melhores decisões nessa realidade. O Senhor se entristece com o futuro dele.

Alguma coisa no tempo verbal estava errada para mim.

_ Você fala de Michael no presente. Ele... ele já... já morreu, não é? - perguntei, com o peito pesado.

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora