Batalha

71 7 0
                                    

Eu não sabia bem o que ele queria dizer, ou não queria tentar saber. Não queria nem me dar ao direito de imaginar.

Depois do medley, vieram os melismas e a introdução. As batidas do pé dele no chão, ampliadas pelo microfone, que foram uma das maiores sacadas dele, na minha opinião anunciavam a música do álbum Off The Wall.

Logo no início da canção, percebi: ele dançava praticamente apenas do meu lado do palco. Claro, ele era muito profissional, então fazia todos os posicionamentos combinados, mas não era impressão, ele estava muito mais perto. E se eu não estava maluca - e eu podia estar, claro - ele dançava... pra mim?

Em uma de nossas muitas conversas, ele me perguntou sobre o show, pois eu disse que tinha visto muitas e muitas vezes o vídeo, de várias apresentações, e ele quis saber os pontos fortes e fracos. Foi difícil falar o ponto fraco... disse que Bad merecia ter uma coreografia. Eu queria ter falado também que ele, separando a briga em Beat it, era muito fake... ele não tinha jeito de bad boy nem com muito esforço, mas eu iria rir e acabei deixando pra lá. E como ponto forte, citei muitos, mas parei em Rock with you.
"É muito bom te ver dançando essa música... você dança sorrindo. É lindo de se ver!" , me lembro de ter dito.
Ele se lembrou do que eu disse. E ele me permitiu ver, de perto, todos os detalhes.

Eu estava fervendo por dentro, e num baita conflito interno.

E ele ainda não tinha feito Human Nature e nem Dirty Diana, só para constar.

"Estou perdida, meu Deus. Me faz sumir daqui. Eu não vou dar conta. Eu não sou forte suficiente.", eu clamava, ouvindo os primeiros toques de Human Nature começar.

", eu clamava, ouvindo os primeiros toques de Human Nature começar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Nesse momento do show, os backing vocals descansavam. O show era de Michael. A galera podia tomar uma água e relaxar, a não ser os meninos da coreografia que se preparavam para Smooth Criminal. Mas quem podia, estava ali atrás, tão paralisado quanto eu.

A partir do momento que eu tomei consciência de que Michael sabia onde eu estava, a sensação de que ele olhava para mim quando virava de costas aumentava. Mas para mim, era sempre muito difícil ter essas noções... eu tinha uma tendência a criar teorias, a exagerar as coisas. Bom, minha cabeça não era muito boa.

Mas no final de Human Nature, quando ele finalmente coloca o microfone no pedestal, eu vi, e aí tive certeza, porque eu o olhava embasbacada, e ele olhou apenas por meio segundo para minha direção, antes de fechar os olhos para seguir em sua coreografia, com um sorriso nos lábios.

"Meu Deus, ele está entendendo tudo errado...", pensei...

Não era para menos.

Meu corpo passava todos os sinais errados. Eu estava encantada. Eu o olhava com os olhos fixos, pupilas dilatadas, boca meio aberta. Ele me olhava e meu reflexo era olhar de volta e eu sabia que minha expressão não era de uma amiga que diz "parabéns amigo querido, belo show!", mas sim de quem diz "quero que esse show acabe logo para irmos embora".

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora