15º Capítulo

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Visão de Lucy

Quando Michael se colocou no palco, a frente do canhão de luz que fazia o efeito de sua silhueta, eu senti um frio percorrer toda minha espinha. Eu cheguei a Wembley pronta para lidar com suas roupas usadas, e estava extremamente feliz com isso, mas agora eu estava prestes a entrar no palco, a contracenar com Michael diante de um mar de pessoas e de ser conhecida por elas.
Mas naquele momento, o que me deixava mais excitada, mais elétrica, era a energia do palco. Quando ele iniciou, a voz em alto e bom tom, cantando à capela, seguida pela sequência de bateria, foi como se meu coração batesse junto.
Eu não sabia quem estava ao meu lado. Eu não via e nem ouvia mais ninguém, até que senti alguém segurar minha mão.

_ Vamos Lucy, deixa eu ficar aqui antes que o olhar de alguém te fulmine.

Era Bush. Eu era grata a Deus pela presença dele ali: eu devia estar preocupada, deveria ter verificado os saltos dos meus sapatos, as costuras do vestido... mas estava tão encantada que não tinha feito nada daquilo, mas ele fez.

_ Obrigada Brush. Mesmo.

_ Vá! Sua vez. Arrase!

Me posicionei e esperei a deixa da música. No meu coração, fiz uma oração rápida... Deus sabia que eu jamais tinha pretendido aparecer daquela forma. Não era minha pretenção. Mas os acontecimentos me levaram até ali, e eu queria fazer o melhor.
Michael merecia o melhor.

Quando senti a luz me atingir eu sabia que não teria mais volta.
E não, não estou falando sobre aquele número especificamente.
Eu sabia que minha vida jamais poderia ser a vida de uma mulher comum. Eu não poderia jamais pensar em ir a um mercado, sair e tomar um sorvete ou fazer as unhas no salão de beleza mais próximo. Eu não seria mais Lucy Fergunson, seja lá quem eu fosse. A partir do segundo que aquela luz caiu sobre mim, eu seria, oficialmente, atrelada a Michael para o resto de minha vida.
Porém, quando ele, num giro rápido, virou-se para mim, olhando-me com uma expressão travessa e um sorriso nos lábios, não consegui me entristecer por isso: eu seria uma sombra? Talvez sim, mas não encontrava sinal de tristeza no meu coração por isso.
Enquanto eu passeava no palco, fazendo, ainda, a parte que era comum, era possível ouvir os gritos da multidão. Eu não tinha certeza se alguém conseguiria me reconhecer pela foto do jornal, já que a produção de Karen era algo transformador, mas quando começamos a "nossa" versão, a intensidade dos gritos aumentou.
Na nossa versão havia mais toque. Ao chegar ao refrão, Michael se aproximava e segurava em minha cintura enquanto dançava. Eu mantinha minha pose de indiferença, com braços cruzados e cara de brava. Quando ele me soltava, eu segurava delicadamente seu queixo, como se eu o repreendesse, para em seguida caminhar para o fundo do palco novamente.

_ Meu Deus!!! Que lindo isso!! - gritava Karen, assim que me escondi entre as caixas de som, protegida na penumbra.

_ Foi bom? Daqui deu pra ver? - perguntei, secando o rosto na toalha que ela me deu.

_ Maravilhoso! Achei que ia rolar um beijo!

_ Não ainda... - eu respondi, baixinho.

_ Como? - ela perguntou, atônita.

_ Ainda não acabamos! - gritei, indo me posicionar na lateral, pedindo escolta para Bush.

Eu amava aquela coreografia... na verdade, era uma grande ironia eu estar ali, com aquele vestido preto, aquela bota e pulseiras. Eu amava aquele vídeo. E o pior é que nem me recordava de tê-lo visto tantas vezes assim. Era como se fosse algo anterior a mim... eu simplesmente sentia que amava e estar ali, vivendo-o, era uma realização. Eu já me sentia assim quando dançávamos no quarto do hotel, mesmo eu estando de moletom e camiseta. Agora, sentia-me no topo do mundo. E meu mundo era Michael.

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora