Engano

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Século XX - 1988

Realidade desconhecida


Visão de Lucy


A volta para casa foi estranha. Não desconfortável, mas estranha.

Depois de passarmos muito tempo, talvez mais de uma hora, abraçados, nos consolando por algo que queríamos (eu não sabia bem se queria totalmente) e não podíamos viver, voltamos para o carro. Na volta, estava exausta, e senti minha cabeça pender para o lado algumas vezes, até que ele me aninhou em seu ombro.

_ Pare de ser durona, pode encostar. Não vou te morder. - disse.

Eu queria ficar ali, mas toda vez que eu me aproximava fisicamente de Michael, sentia uma culpa gigantesca me invadir: eu iria me sentir extremamente mal se Ed fizesse algo parecido com qualquer outra garota.

"Senhor... faz esse menino ter entendido o que precisa entender... me faz acordar em casa...", foi meu último pensamento, antes de apagar no ombro de Michael, com ele fazendo carinho em meu cabelo.

Mas eu não acordei em casa.

_ Vamos lá dorminhoca? Chegamos. - disse a voz inconfundível.

Eu ainda estava em 1988.

_ Oi... Essa era a parte boa de ser criança: quando o pai carregava a gente do carro para casa... - resmunguei, levantando-me.

Quando chegamos no corredor dos quartos, Michael fez questão de deixar-me em minha porta.

_ Amanhã será um dia cheio... Eu tenho um compromisso no café da manhã, então acho que só te vejo no show. Vou pedir para o Miko te levar, aí você fica no backstage, assim pode assistir ao show e ninguém vai cair em cima de você. - prometeu-me, com um sorriso singelo no rosto.

Devolvi o sorriso. A culpa me consumindo. A paixão também.

_ Certo. Bom, pode me dar uma função, se quiser. Estou muito à toa. Será que a Jolie não precisa de alguma ajuda?

_ A Jolie geralmente prefere trabalhar sozinha...  E eu quero te dar uma função, mas você já está ocupada. - respondeu-me, lançando-me um olhar tímido e triste, mas com uma pitada de provocação.

Fechei os olhos e suspirei... Meu coração tinha ido à nocaute.

_ Boa noite Michael. Descanse bem. Quero assistir um show incrível amanhã.

Ele segurou minha mão e deu-me um beijo no rosto, de modo respeitoso. Começou a se virar para ir para seu quarto e disse:

_ Você verá. Estarei inspirado.


Mais uma vez eu orei para voltar para casa. Mais uma vez meu pedido foi negado.

Eu não podia me queixar.

Por tanto tempo eu sonhei em poder estar com Michael, em poder ter a chance que eu estava tendo e a chance me foi dada. Será que eu não podia imaginar que isso ia acontecer? Será mesmo que eu pensei que ia conseguir conviver com ele, estar com ele, sem me apaixonar? Eu já tinha ouvido alguém que o conheceu, não me lembro quem, dizer exatamente isso: "é muito difícil uma mulher que conviveu com Michael não ter se apaixonado por ele em algum momento"..., por que eu pensei que comigo seria diferente?

Na verdade, acho que eu jamais pensei que ele poderia olhar para mim de alguma forma que não fosse simplesmente como para uma fã. Eu não tinha nada de especial. Absolutamente nada. Sem contar as minhas esquisitices, meu jeito distante... Ele sempre tão gentil... Destoava tanto de mim. Jamais imaginei que o fato de eu saber tanto sobre ele seria algo que ele acharia interessante, atrativo. Sim, eu conseguia antecipar algumas coisas. Já tinha visto ele conversando com Miko sobre coisas corriqueiras, e conseguia perceber quando ele ia dizer que não concordava só pelo modo como ele mexia as mãos ou como movia os lábios. Também dava para notar quando estava para ter uma ideia pelo modo como os olhos dele começavam a se abrir, as sobrancelhas a se erguer e ele tombava ligeiramente a cabeça e levava a mão ao queixo. Pequenos detalhes que uma garota com TEA* como eu, que tinha nele meu hiperfoco, decorara ao longo dos muitos anos, por meio dos vídeos.

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora