Saindo

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_ Lucy! Lucy! Você perdeu a hora? - perguntava minha mãe, chacoalhando meu ombro.
6h. Droga!

Felizmente eu morava muito perto do trabalho. Logo, não chegava bem a me atrasar totalmente, mas já iniciava a manhã totalmente perdida...

A manhã passava num sopro. E isso me incomodava demais.
Eu gostava de ser professora. Amava ensinar, preparar as aulas, fazer o melhor, ver a molecada aprender.


O problema é que eu sentia como se tivesse coisas mais urgentes a resolver.
E eu tinha?

_ Tudo bem Lucy? Estou achando você meio apagadinha? - perguntou minha coordenadora durante o recreio.

_ Nada Vany, tudo bem... só cansada. - respondi, com minha desculpa habitual.

Eu estava ficando com medo... eu tinha compromissos, uma família, uma casa para pagar, filha, vida! Não podia me dar a esse luxo de viver de sonho e perder o emprego! Viver pensando no que fazer se eu realmente estivesse num show da Bad tour em Wembley em 88. Até porque, mesmo se estivesse, com milhares de pessoas, quem ia garantir que ele ia me ver, me notar? De que outro jeito eu poderia conseguir falar com ele...

"Pronto! Já viajei! Droga!", praguejei em meus pensamentos, percebendo que tinha esquecido de ir ao banheiro no intervalo das aulas perdida de novo nas minhas histórias.


_ Boa noite. - disse eu, finalmente para minha mãe, encerrando minhas obrigações sociais depois de colocar minha pequena na cama.
Eu já tinha trabalhado. Ido a academia. Feito tarefas da faculdade. Corrigido tarefas de alunos. Dado banho e cuidado da pequena. Tomado café e dado atenção ao marido.
Agora me sentia livre para minha atividade favorita do dia...

_ Filha... dorme cedo. Não fica no telefone, nem assistindo nada não, para não perder a hora. - pediu minha mãe.

_ Eu não fico mãe... - respondi, com sinceridade.

Mas também sei que não dormia imediatamente, não totalmente.

Assim que fui para cama, preparei meu celular com o máximo de despertadores que podia, com os toques mais insuportáveis. Eu tinha que acordar no dia seguinte.

Mas naquele momento, tudo que eu precisava era dormir e voltar para 1988. O show já ia começar.






Eu nem me dei conta da cantora que abriu o show... muito menos tomei conhecimento das pessoas que estavam ao meu lado. Muita gente desmaiava antes de começar... eram 100 mil pessoas. Nem todo mundo dava conta da adrenalina.

Quando o palco começou a ficar escuro e fumacento, eu sabia o que esperar. Sabia tudo. Sabia o figurino, onde ele estaria, a ordem das canções, a coreografia, tudo.

Mas foi como se eu não soubesse absolutamente nada.

Quando Michael surgiu, do meio do nada no centro do palco, meu coração queria pular para o palco com ele.

Naquele universo maluco dos meus sonhos eu já tinha estado com ele muitas vezes, mas era sempre novo, o sentimento era sempre outro, a cada nova história era sempre como se fosse a primeira vez, porque era!

Wanna Be starting something levava todo mundo à loucura e ali na frente praticamente só era possível balançar os braços. Eu ria tanto! Eu tinha um sorriso tão grande no rosto que sentia minhas bochechas doendo. Quantas vezes eu quis ter uma máquina do tempo que me transportasse direto para um show da Bad Tour e eu estava ali, diretamente dentro do meu hiperfoco, vendo-o com aquele visual incrível, aquele figurino icônico! Eu só conseguia sorrir e cantar... e assim foi, durante todas as canções... mesmo aquelas que nem todas as pessoas sabiam cantar muito bem - pois era "novas" - e eu as entoava a plenos pulmões, como Another part of me. Até que a Sheryl Crown sumiu no canto do palco e Michael abaixou a cabeça... aí eu já sabia o que vinha.

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora