2º Capítulo

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1988
Realidade desconhecida
Visão de Lucy

Michael me dizia coisas que eram difíceis demais para acreditar, mas ao mesmo tempo, eu simplesmente não lembrava de absolutamente nada da minha vida inteira.
Era como se eu tivesse nascido na fila daquele show de Wembley.
E o mais assustador: isso não me incomodava em nada.
Eu não sentia nenhuma saudade, nenhuma falta de ninguém, nenhuma curiosidade. Nada.
Michael tinha me dito sobre eu ser casada em outra realidade, sobre ter uma filha. Isso me gerava estranhamento. Nada mais.
Eu sabia da outra realidade, sobre outra linha no espaço tempo, sobre o cronos e o kairós. Sabia porque o mensageiro tinha me contado, quando apaguei logo após a pancada no show. Foi lá que eu soube de tudo o que Michael sofreu...
E aquilo me doía só de lembrar...
Me dava uma dor profunda pensar numa realidade em que Michael tinha sido acusado de... meu Deus... molestar uma criança? Isso era tão absurdo! Tão insano! E como se não bastasse essa acusação se repetiu!
O mensageiro me mostrou as consequências disso pra ele, a humilhação que ele precisou passar, as fotos que ele precisou fazer da primeira vez, o acordo que teve que aceitar, depois o vício em remédios... me mostrou o vitiligo piorando, me mostrou o lúpus acabando com as cirurgias e fazendo ele precisar de mais reconstruções... me mostrou tudo... e eu não sei como o mensageiro fez, mas era como se eu tivesse vivido aquilo tudo!
Sim, eu vi as coisas incríveis também... vi vídeos, vi shows, canções... não era como sentar e ter assistido. Era como se ele tivesse colocado a fita cassete e gravado tudo numa velocidade super rápida na minha mente! Era muito massa!
Mas... chegou uma fase... tão triste... mas tão triste... eu lembro que não queria olhar, mas o mensageiro dizia que era importante, que eu precisava ver. Acordos financeiros ruins, contratos mal feitos, coisas que ele assinou e não deveria, pessoas que o enganaram. Ele magro. Muito magro... um show, um retorno. Algo que era para ser bom, virar um pesadelo. Ensaios, ensaios, ensaios. Michael se fechando num quarto, se recusando a sair, pessoas ameaçando derrubar a porta para tirá-lo de lá. Ele ensaiando sem nenhuma condição. Ele implorando para dormir... ele dormindo... ele não acordando.
Eu me lembro de implorar para o mensageiro não me deixar ver mais.
Mas ele disse que eu tinha que ver, ver e sentir cada detalhe porque só assim, só entendendo o que era viver num mundo que maltratou Michael até aquele ponto, eu poderia ajudar a protegê-lo de fato.

 
Aí me lembro de acordar na enfermaria do estádio. E daí em diante tudo fica turvo, meio embaçado... lembro de flashes, alguns pontos de conversas, lembro de eu e Bush mexendo nos figurinos, lembro da Sheryl me provocando, lembro de eu olhar para os olhos de Michael e ficar me sentindo encantada toda vez. Lembro de abraçá-lo forte, de ser abraçada, de uma sensação de atração tão absurda entre nós...
E aí ele me diz que não tivemos nada porque eu disse que era de outra realidade e que eu era casada?

Não que eu desacreditasse totalmente... nem podia me dar a esse luxo.
Eu estava de volta ao meu quarto. Precisava tomar um banho. Ainda nem sabia direito se eu ia dormir aqui ou com Michael... talvez passasse lá quando saísse do chuveiro.

Enquanto sentia o conforto da água quente caindo sobre mim, pensava nas possibilidades que estavam abertas agora... Afinal, Michael tinha dado a entender que não tínhamos tido nada até então porque eu era, de certa forma, casada.

"Mas isso quer dizer que podemos ter alguma coisa?", eu me perguntava.
Independente do que fosse, uma coisa não tinha mudado: nos conhecíamos há apenas 8 dias. Para ele, dias mais vívidos do que para mim, já que nossas conversas eram agora cheias de borrões e falhas, como se eu assistisse a uma fita cheia de cortes. Eu tinha, no entanto, um sentimento profundo de...

Eu não sabia dizer... eu só sabia que era horrível não estar perto dele.

_ Lucy? - ouvi uma voz inconfundível me chamando do quarto.
Eu tinha deixado a porta aberta?

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora