22º Capítulo

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Eu não conseguia desviar meu rosto dele enquanto me colocavam aquela roupa esquisita de hospital.

Ele ainda estava desacordado. Ainda tinha plugues pelo peito dele e ele ainda tinha tubos de soro pingando em volta.

As coisas estavam mais calmas, mas não estavam bem.

_ Senhorita, ele teve uma melhora na frequência cardíaca e nos sinais neurais. Teve um sinal de consciência e começou a te chamar. É interessante que você esteja aqui, que fale com ele porque ouvir a sua voz pode estimular as regiões do cérebro relacionadas à audição e ajudar ao retorno à consciência, mas por favor, a senhorita precisa ficar calma e seguir nossas instruções caso tenha que se afastar, combinado? - perguntou o médico, um senhor grisalho, que parecia simpático, como um vovô bondoso.

_ Sim, sim. Eu entendi. Eu vou ajudar. Posso me sentar? Segurar a mão dele? - perguntei.

_ Sim, pode. Segure a mão dele. - respondeu.

Quando finalmente a equipe de médicos e enfermeiros se afastou, liberando minha visão, eu finalmente pude ver Michael.

Eu quis chorar.

Seus olhos estavam fundos, seu rosto vermelho, um pouco machucado no local em que o respirador tinha sido colocado. Em seu peito, manchas rochas eram aparentes, sinais de outros procedimentos médicos. Seus braços e mãos marcados em locais que já tinham recebido acessos para soro e medicamentos.

Segurei o choro. O som fraco, porém constante do monitor cardíaco me garantia que ele ainda estava ali. Eu não ia deixar o meu Michael, o Michael da minha realidade, terminar como o Michael da realidade da outra Lucy.

Me aproximei, sentando-me num banquinho baixo que foi colocado para mim. Tomei a mão dele entre as minhas e a beijei.

_ Hey! Michael? Estava me chamando? Cheguei...

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Visão de Lucy Ferreira

Broadway, Nova York, 2022

_ Hey! Lucy! Bom dia! Veio pra Nova York dormir?

A voz de Ed era como uma chave que me destrancava de um quarto onde eu estava presa.
Assim que abri meus olhos, me dei conta do sonho - se é que posso chamar de sonho - em que eu conversei comigo mesma. A Lucy, da realidade que eu tinha estado tempos atrás.

_ Oi! Bom dia! Não! Vim fazer muitas coisas na Broadway! - respondi, abraçando meu marido e me esforçando para tirar aqueles pensamentos da mente.

Nós tínhamos um roteiro turístico pronto para aquele dia, que englobava visitar o Madson Square Garden e o Central Park. A noite estava reservada para o ápice da viagem: MJ The Musical.

"Um belo gatilho depois dessa noite", pensei.

O dia, no entanto, foi sereno. Mesmo a visita ao teatro onde Michael fez seu último show - em minha realidade - não me deixou triste como achei que deixaria. O sentimento que eu tinha, na verdade, era de preocupação. Em minha mente, eu sabia que, na outra realidade, na outra linha do tempo, ou seja lá o que fosse, alguma coisa não devia estar saindo direito, caso contrário, eu não iria ter tido aquele sonho. Não depois de tudo. Eu tinha encerrado minha participação naquela trama, não tinha? Michael Jackson seria aquele homem que eu sempre amaria, sempre admiraria, mas como aquele amor platônico, que não se pode alcançar, que fica guardado numa caixinha no fundo da gaveta e que a gente fica satisfeita de saber que está ali, só isso. Ed era o homem que eu amava, isso estava claro para mim.

Mas então por que essa agonia voltara ao meu coração depois de mais de seis meses de pura paz?

_ Lucy? Isso é ansiedade por conta do musical? Você está esquisita hoje... - perguntou Ed enquanto almoçávamos.

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora