18º Capítulo

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Eu tinha um mundo para explicar, mas nenhuma palavra parecia conseguir sair da minha boca.

Michael me olhava de um modo tão triste, que eu só chorava ainda mais, o que fazia tudo ser ainda pior.

Minha mão não parava de sangrar, então eu não conseguia simplesmente ir embora.

Tudo estava um caos.

_ Acho que tem que colocar gelo. Vou pegar no frigobar. Coloca a mão debaixo da torneira da pia para vermos o tamanho do corte, e se vai precisar de pontos... - disse ele, de um modo calmo e frio, enquanto se levantava e me ajudava a fazer o mesmo.

Eu só fui fazer o que ele mandou, ainda com um turbilhão em minha mente, sem saber se dizia a ele ou não tudo o que Dileo tinha me falado. Ao mesmo tempo que me parecia correto manter sigilo e simplesmente deixá-lo achar que eu estava indo embora, esquecendo inclusive a história de bilhete de despedida, o que evitaria qualquer desejo dele vir atrás de mim e manchar sua reputação com minha história, de outro me vinha...
Me vinha a lembrança da minha história.
Eu não tinha uma história.
Não deveria ter.
Deus falou que eu não teria. Ele mesmo disse que apagaria tudo...
Se eu saísse da vida de Michael, tudo voltaria ao seu curso, como foi nas outras realidades, como o mensageiro me mostrou.
Ele continuaria a ser um homem extremamente famoso, mas seria também só, e estando só, seria vulnerável a tudo e a todos.
E esse seria o seu fim.

Michael ainda estava pegando o gelo enquanto todas essas fichas caíram de uma única vez.

_ Michael! Eu preciso te explicar! - gritei apressada, como se Dileo ou Jolie fossem entrar a qualquer minuto pela porta.

Michael chegou, e eu tinha certeza que seus olhos estavam marejados.

_ Você estava indo embora Lucy... eu não entendo...

Ele pousou o gelo em minha mão, sobre o corte que não era tão grande, mas que já não era prioridade.

_ Dileo ligou e eu atendi. Ele disse que descobriram coisas sobre mim, que o que descobriram não era bom, que eu tinha que ir embora.

Michael franziu as sobrancelhas.

_ Descobriram? Quem descobriu?

_ Eu não sei. Ele não disse. Ele só falou que eu devia ir logo, antes que os jornais descobrissem, porque, se quando tudo viesse a tona eu ainda estivesse aqui, os tabloides iam acabar com você.

_ E aí você começou a juntar as coisas? - perguntou, um pouco cético.

Michael tinha uma expressão que misturava raiva e incredulidade.

_ Eu... eu me desesperei! Ele foi muito enfático em dizer que eu devia ser rápida, para aproveitar que você estava dormindo e ir logo... só que, pensando agora, não pode ser, porque...

_ Porque Deus falou que ia apagar o seu passado. - completou Michael.

Mas completou com uma voz tão fria quanto o gelo que já queimava a minha pele. Fria ao ponto de quase parecer irônica.

_ É. Ele falou. Então não podem ter descoberto nada. - respondi, olhando para ele, sem saber o que sua expressão queria dizer.

Sem saber se diante de mim eu tinha dúvida ou confiança.

Michael ficou em silêncio. Foi até sua mala, pegou algo que me parecia um kit de primeiros socorros, fez um curativo na minha mão com um extremo cuidado. Quando terminou, apenas me olhou e disse:

_ Vou ligar para o Dileo para entender o que está acontecendo.

Michael trocou-se, escovou os dentes e foi fazer a ligação. Eu fiquei ali, parada no banheiro, sem saber o que se passava na mente de Michael.

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora