Droga de costume de deixar a porta aberta...
Lucy já tinha me alertado algumas vezes para trancar a porta do quarto, porém, foram tantos anos dividindo quarto com meus irmãos, ou sendo acompanhado por amigos durante as viagens, que nunca me preocupei com isso, além do fato de sempre ter alguém precisando falar algo comigo, perguntar alguma coisa, resolver algum problema... e ficar me levantando da cama o tempo todo para abrir a porta seria um baita incômodo.
Porém, não um incômodo maior do que ser flagrado numa situação difícil de explicar, ainda mais pela assistente, não muito simpática.
Lucy estava irritada e eu, tentava por panos quentes na situação.
_ A Jolie é de confiança sim. Eu tenho certeza. - eu argumentava, diante de uma Lucy bastante incrédula.
_ Michael, uma das coisas que eu mais vi, sobre o que eu mais fui alertada, foi sobre você ser traído por pessoas que confiava. Eu não gostei da cara dela... Ela, aliás, não gostou nada de mim... - disse Lucy.
Jolie era extremamente competente e profissional. Dileo algumas vezes já tinha insinuado de que ela "me dava mole", como ele dizia, mas eu a achava tão polida, tão educada, que não via assim. Mas obviamente a reação dela reforçou as suspeitas.
_ Bom... eu tinha pedido pra ela ir levar o Bubles para casa para mim, então ela tem bastante coisa para resolver dos dias que ficou fora, isso vai deixá-la ocupada algum tempo...
_ Ah, sim, e agora você me promoveu para sua assistente pessoal? Achei um cargo bem interessante. E pelo jeito que estávamos na hora que ela entrou aqui, imagino que meu disfarce agora esteja realmente perfeito. - disse Lucy, erguendo as sobrancelhas, num sorriso irônico.
Só ela para rir de algo assim.
Decidimos que o mal já estava feito, e diante disso, só nos restava seguir adiante, esperando que nada de ruim acontecesse, apesar de Lucy passar a ficar atenta a qualquer sinal de que Jolie pudesse aparecer.
No dia seguinte, eu tinha uma reunião agendada para tratar de questões da promoção e de lançamento do filme Moonwalker. Eu esperava um grande lançamento no Natal, que abrangia EUA, Europa e América do Sul, mas Dileo vinha me sinalizando alguma resistência da Warner... e eu precisava ver isso eu mesmo, ainda que detestasse este tipo de negociação.
O filme já estava fora dos prazos que eu queria. Originalmente minha ideia era que saísse junto com o álbum, um ano antes. Agora, parecia que nada sairia como eu tinha planejado.
E eu me lembrava que Lucy - a outra Lucy - tinha me alertando que isso iria acontecer, e eu ainda tinha teimado que ela estava errada.
Ela estava serena agora, escrevendo algo, sentada na escrivaninha. Eu queria poder levá-la comigo a esta reunião... sentia-me protegido ao lado dela. Mas apenas justificar sua presença era um trabalho árduo, uma tarefa para qual eu não tinha argumentos.
_ O que você está fazendo ai? - perguntei, para tentar me distrair.
Lucy levantou os olhos, surpresa com minha intromissão, como se eu a tivesse tirado de seus pensamentos. Ela sorriu timidamente, revelando um papel com uma caligrafia bonita. Nele tinha algumas informações, como se fosse uma ficha...
_ O que é isso? - perguntei.
_ Bom... eu estou tentando escrever algum passado pra mim... sei lá... tentando imaginar uma história, alguma justificativa para eu simplesmente não ter família, não ter um histórico escolar, não ter fotos de formatura, ou nada assim.
Peguei o papel. Ela tinha colocado seu nome no topo da folha. Depois vinham algumas informações, na verdade, várias opções...
1.Órfã, criada em um orfanato até os 18 anos - interior do Missouri.
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Michael Jackson - Living the Dream
أدب الهواةCONCLUÍDO Viver ou sonhar? Manter os pés no chão, na realidade que conhece ou arriscar o que não é palpável, mas pode vir a ser? Lucy não consegue mais manter sua mente na própria vida: seus pensamentos estão presos a uma outra época, numa outra dé...