Era sexta-feira. Michael teria um show apenas no dia seguinte. Era perto da hora do almoço e ele ainda estava no meu quarto. Tinha apenas ido buscar Bubles antes que ele ficasse entediado demais.
Depois do momento mais tenso da conversa, enveredamos para questões mais leves, temas mais singelos...
Era absurdo o modo como a o papo fluía fácil. Simplesmente um assunto puxava o outro. Não nos interrompíamos. Michael era um excelente ouvinte, e isso era algo tão inusitado para mim... eu tinha uma sensação constante de que as pessoas me interrompiam, como se o que eu falasse não fosse interessante. A psicóloga dizia que era uma percepção causada pela baixa autoestima... eu já tinha chegado a contar quantas vezes eu era interrompida. Não era uma percepção.
Michael não fazia isso comigo.
Ele ouvia minhas frases até o final, pedia complemento do que eu falava, queria mais detalhes. E quando ele contava sobre algo, se preocupava em saber se eu estava entendendo, se ele estava sendo claro na explicação, no modo de expor seu pensamento.
O telefone do quarto tocou um monte de vezes, sempre com pessoas atrás dele para algum assunto. Ele dizia algo rápido, despistava, e voltávamos para a conversa._ Você disse que a música ficou ruim... Ruim como? - perguntou-me Michael.
Puxa, como eu poderia explicar isso para ele? Eu não era musicista, não entendia de notas, nem de composições... Eu só gostava muito mesmo de ouvir e de cantar.
_ Bom, as canções que vocês fazem agora, elas soam eternas. São letras e melodias que, puxa... Serão ouvidas para sempre! Elas não têm data de validade. São atemporais. Além do que, cada um de vocês possuem um estilo próprio: você tem o seu, o Prince tem o dele, a Madonna tem o dela, o Bruce Springstem o dele, Elton Jhon outro, e assim vai. Depois dessa geração, as coisas vão parecer todas... iguais... - expliquei.
Michael estreitou os lábios, decepcionado. Não conseguia imaginar como era para um cara como ele pensar um cenário triste como esse.
_ As gravadoras as vezes pensam muito no lucro... A arte fica sempre em segundo plano... - disse.
Eu ia dar um baita spoiler para ele agora?
Ia. Mas não ia segurar essa informação.
_ Esqueça as gravadoras. Ninguém mais vai comprar disco, ou CD, ou K7 muito em breve... Ou pelo menos daqui 20 anos, pelo menos... - iniciei e tentei explicar, brevemente, sobre os streams para ele.
Claro que os olhos de Michael brilharam...
_ Uau! Isso é incrível, e meio assustador também... - disse.
_ Bom, fique de olho nisso. Sei que você seria pioneiro... - comecei a dizer, mas parei.
Ele pegou a ideia do que eu ia dizer. Ele era um cara muito ligeiro.
_ Seria se eu estivesse vivo, não é?
_ Mas estará. Estará e agora vou te dar uma lista de artistas para você ficar atento, pois é uma galera talentosa e você pode produzir esse pessoal, ou mandar sabotar também, pode escolher... - comecei, em tom de brincadeira, pegando um papel e uma caneta que estavam no móvel logo atrás dele, mas Michael segurou minha mão.
_ Lucy, você disse no começo da conversa que não podia perder tempo, porque tem para onde voltar... Falou que tem um marido, uma filha pequena... Eu não quero te atrapalhar. O que mais eu preciso saber? - disse ele, de um modo muito gentil.
Michael segurava minha mão, e do modo como interrompeu meu movimento, me deixou numa posição muito, muito desconfortável... Meu rosto estava lado a lado com o dele. Se eu virasse o mínimo que fosse, estaríamos frente a frente, muito próximos..
VOCÊ ESTÁ LENDO
Michael Jackson - Living the Dream
FanficCONCLUÍDO Viver ou sonhar? Manter os pés no chão, na realidade que conhece ou arriscar o que não é palpável, mas pode vir a ser? Lucy não consegue mais manter sua mente na própria vida: seus pensamentos estão presos a uma outra época, numa outra dé...