19º Capítulo

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Visão de Michael

Eu sempre fui um cara contido.
Sempre fui calmo. Nunca gostei de brigas ou de rompantes de raiva.

Mas quando eu vi Lucy saindo pela porta, quando ouvi o som do elevador e me vi totalmente sozinho naquele quarto e olhei no chão os lençóis ainda manchados de sangue, eu senti ódio.

O telefone sem fio na minha mão voou pelo quarto, acertando o espelho e trincando-o. Eu tinha vontade de esmurrar as paredes, de chutar as portas... acho que só não o fiz porque visualizei Joe fazendo isso, e eu não era ele.

Mas eu não podia acreditar que eu tinha precisado deixar Lucy ir embora... não depois do que eu fiz a ela.

Eu me sentia o pior dos homens.

Eu tinha sonhos com Lucy. Quando fiz minha proposta de namoro para ela, eu tinha em mente tudo o que eu havia prometido de fato: o noivado, o casamento, a família. Era o que eu queria.
Mas no primeiro rumor, na primeira tramoia que armaram para gente, eu deixei meu coração se inflamar. Eu realmente achei que ela era tudo o que o Dileo tinha dito, e quando ela me provocou, quando ela disse que ela iria embora e que nunca saberíamos... foi quase um desespero. Eu ansiei por ela de um modo que eu sei que foi só pelo sexo... Eu não tratei ela direito... eu achei que ela tinha mentido pra mim, achei que ela estava fugindo porque tinha culpa.
Agora eu estava sozinho, inundado em tristeza e em arrependimento, de mãos atadas.
Prisioneiro no meu próprio mundo.

_ Michael? Posso entrar?

Poderia querer ver qualquer pessoa. Menos Jolie.

Mas ela já estava com metade do corpo pra dentro do quarto que eu não tinha trancado a porcaria da porta, de novo.

_ Sim. - respondi.

Assim que ela entrou, sua expressão mostrou o caos em que o quarto se encontrava: minha cama improvisada no chão ainda estava revirada, os lençóis sujos, os cacos do vaso que Lucy tinha derrubado, o sangue da mão dela no tapete, o espelho trincado, o telefone quebrado no chão.

_ Eu tentei ligar, mas não chamou. - explicou.

_ Quebrei o telefone. - respondi.

_ Você está machucado?

Eu ri. Eu estava morto por dentro.

_ Não. Não estou.

_ Quer que eu mande alguém subir para arrumar o quarto? - perguntou.

Eu não tinha show naquele dia. Não sabia se tinha compromisso, mas se tivesse, não iria.

_ Não. Só quero ficar aqui. Tudo bem?

_ Posso mandar subir algo para você comer?

Comer? Nada desceria. Certeza.

_ Não. Só quero ficar sozinho. Só pede para o Miko vir aqui, por favor. - pedi.

Quando meu amigo chegou ao quarto, seu rosto, que já mostrava que ele sabia da partida de Lucy, só se agravou ao me olhar.

Eu devia estar péssimo.

_ Oi Mike. Como posso te ajudar, cara?

Entreguei um papel para Miko. Eram os endereços dos hotéis que a Lucy tinha marcado na lista. Ela devia estar em um deles.

_ Procura pra mim Miko. Ela não vai querer saber de nada, mas fica de olho, veja se é um hotel bom, se ela está num quarto decente... eu nem sei se ela pegou o dinheiro que o Dileo mandou ela pegar...

Miko sentou na beirada da cama. Ele estava com cara de quem ia me dar um conselho, mas eu não queria conselhos. Ninguém poderia me dizer o que fazer, não antes de andar nos meus sapatos e passar por cada maldita noite mal dormida pra ver como era.

Michael Jackson - Living the DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora