Duskwood: Entre Verdades e Mentiras

Capítulo Quarenta e Dois

"Por favor, não guarde nenhum segredo de mim"

Se passaram apenas alguns dias desde que Np voltou para a casa dos pais. Desde então ela se sentia mais leve, como se não tivesse um peso sob as costas.

Ela contou tudo ao pai e a mãe, exatamente tudo, inclusive que Hannah Donfort era a assassina de Jennifer. Iris desmaiou no primeiro momento que soube a verdade. Hannah Donfort tinha a visitado tantas vezes e se demonstrou tão empática e sincera...mas ela havia mentido! A hipocrisia podia ser perigosa...

George e Iris juraram que jamais contariam a ninguém sobre o envolvimento da filha no caso ou na tentativa de induzir Hannah ao suicido. Eles conheciam Np e sabiam que ela tinha passado por poucas e boas, além de que seu estado emocional nunca foi dos melhores...no entanto, ela não era uma assassina.

Ricky e Amy foram embora...Mas Hannah, ela teria de conviver com a verdade e o tormento da morte de Jennifer pelo resto da vida, pois quando Jennifer Manson morreu naquela noite do festival, levou consigo um pouco do pai, da mãe, da irmã e dos amigos...e do mesmo modo, todos eles morreram um pouco dentro de si.

Np estava tentando sorrir mais, deixar que a tristeza fosse embora, para que coisas novas pudessem surgir. Ela continuava conversando com Jessy, Dan e Cleo. No entanto, ainda não havia contado a nenhum deles a verdade, e nem pensava nisso, embora Jessy já tivesse perguntado quando poderia ir visitar Np.

-Eu vou embora - Luke disse de forma direta enquanto Np limpava o chão da loja.

-O que? - ela ergueu a sobrancelha.

-Sim, eu passei no vestibular e vou começar na próxima semana.

-Puxa...boa sorte então, primo! Sei que seus pais devem estar bastantes orgulhosos - ela sorriu.

-Sim, eles estão...vou alugar um apartamento perto da faculdade.

-É, parece que você cresceu mesmo - mostrou o polegar - estou orgulhosa!

-E você? Quer vir comigo?

-O quê? - Np não entendeu.

-Np...eu gosto de você! - Luke corou - e gosto há muito tempo! Se você pudesse me dar uma chance, eu ficaria muito feliz.

Np começou a rir de nervoso.

-Ei, isso não é engraçado! - retrucou.

-Eu sei que não...Luke, nós somos primos, eu sou mais velha que você e todo mundo sabe que eu sou problemática...Tenho certeza que seus pais não gostariam de um relacionamento entre nós. Eu não o vejo como um interesse amoroso...eu gosto muito de você, de verdade, mas acho que não daríamos certo. Você está prestes a entrar na faculdade, tenho certeza que vai conhecer muitas outras garotas e se apaixonar por elas.

-Np... - ele baixou a cabeça envergonhado - sabia que você não aceitaria, mas eu estava esperançoso mesmo assim.

-Então continue com essa esperança, tenho certeza que você vai encontrar alguém que seja muito melhor do que eu.

-Eu me sinto um idiota.

-Não se sinta, é bom que você tenha me dito isso, coisas guardadas machucam e pode confiar, eu sei bem dessas coisas.

Depois do expediente, eles se despediram e Np decidiu fazer uma visita ao túmulo de sua irmã, já que o dia estava claro ainda.

-Bem, eu descobri que seu pai realmente está morto e deixou tudo para o Phil. Ele tentou suicídio assim como eu...mas parece que conseguiu - Np estava sentada sobre a grama, como se estivesse conversando com um velho amigo.

Depois disso, ela olhou para as próprias mãos.

-Ah, o Luke se declarou pra mim hoje...como se a minha vida já não fosse complicada suficiente...Eu agradeci, mas neguei...aquele garoto deve ser feliz com outra pessoa...Ah, eu não quero que se preocupe, contei tudo a mamãe, e ao meu pai também...eu não consegui continuar com o meu plano, peço desculpas...É que toda vez que penso nisso, parece que estou me auto apunhalando e dói demais. Estou procurando dar uma passo de cada vez, embora ainda tenha muita raiva guardada. Bem...Jen...eu decidi que - ela se levantou - vou parar de vir te ver, você não está mais aqui e isso me trás lembranças ruins...Ah, eu vou com a mamãe na igreja amanhã, então...eu vou pedir pra Deus me ajudar a me livrar disso...Bem, acho que é melhor eu ir indo - Np sentiu os olhos lagrimejarem - eu escolhi viver ao invés de sobreviver, obrigada por tudo...

Np ficou ali, olhando para a lápide da irmã, não havia mais nada que pudesse ser feito. Ela sentiu uma brisa leve coçar o seu rosto, foi quando virou e viu que tinha alguém a esperando.