Acordo mais cansada do que estava quando desabei em sono profundo. Não sei que horas é e demoro vários instantes para perceber onde estou.
A luz forte no teto está diretamente sobre meu rosto e coloco a mão nos olhos para tentar tampar a claridade.
— Helena, querida! — A enfermeira exclama quando eu me sento na maca, as memórias anteriores voltando com tudo. Tive um colapso. Respiro fundo. — Como você se sente?
— Nova em folha. — Murmuro descendo da maca. — Obrigada por perguntar.
— Você teve uma grave desidratação, querida. — Ela continua falando enquanto procuro pela sala minhas coisas. Não encontro minha bolsa, nem meus livros.
— Estou bem. — Torno a repetir, dessa vez, minha voz saí mais firme. — A senhora viu minha bolsa?
— Está com o professor Kaldor. — Ela informa com os olhos castanhos cheios de preocupação. Beatriz Muniz já está na casa dos cinquenta, mas é tão jovial e esperta quanto uma pessoa de trinta. Se não fossem os cabelos brancos e as rugas proeminentes ao redor de seus olhos e boca, eu não perceberia sua idade. Respiro fundo outra vez. Tudo que eu menos quero é ver Kaldor, explicar os roxos e o desmaio, mas pelo visto, não tenho outra escolha.
— Vou encontrá-lo, então. — Digo com um sorriso pequeno. — Obrigada, senhora Muniz, não foi nada demais. Estou bem, de verdade.
— Se cuide, Helena. — Beatriz pede quando percebe que não conseguirá me manter aqui.
Saio da sala sentindo meus braços doerem como nunca, principalmente num ponto logo abaixo da dobra do cotovelo. Em meios aos hematomas, há um pequeno adesivo redondo; provavelmente a agulha do soro estava ali e agradeço a Deus por ter desmaiado
Decido que posso ficar sem minha bolsa até a manhã seguinte. Guardei algum dinheiro no bolso e acho que consigo ir para casa sem precisar encontrar Kaldor. Não quero vê-lo. Me sinto pequena e vulnerável em sua presença e não gosto disso. Assim como não gosto do fato dele te r me visto tão desprotegida, de ter sentido pena de mim. Lutei por anos para não ser digna de pena, não quero que isso mude agora.
Ouço passos atrás de mim e respiro fundo. O corredor está vazio, o fluxo de alunos diminuiu consideravelmente já que passa da dez da noite. Alguém coloca a mão nas minhas costas e não preciso olhar para o lado para saber que é Eduardo caminhando ao meu lado; sinto seu cheiro, algo forte e amadeirado.
— Helena. — Kaldor diz meu nome como um aviso e eu paro de andar, me virando para ele. Seu rosto está impassível, sem expressão, mas há um brilho de preocupação em seus olhos, o que me surpreende.
— Onde estão minhas coisas? — Pergunto quando vejo que ele só carrega o código penal consigo.
— No meu carro. — Kaldor responde como se fosse óbvio. — Vem, vou te levar para casa.
— Não preciso que você me leve para casa. — Não preciso que você se sinta obrigado a cuidar de mim, não preciso que você sinta pena de mim. Você não percebe que é humilhante? — Só... Me dê minhas coisas.
— Não foi uma sugestão. — Ele diz com arqueando as sobrancelhas. Kaldor olha para os lados e se aproxima mais, sussurrando: — E acho que você quer seu sutiã de volta...
Sinto meu rosto queimar. Eu havia me esquecido completamente daquele maldito sutiã, da forma que o havia perdido. Não quero relembrar, quero fingir que nunca aconteceu, mas ele está aqui, parado bem na minha frente, me olhando como se esperasse arrancar uma reação de mim. Apenas balanço a cabeça, concordando, e volto a andar. Não quero olhar para ele mais do que o necessário, não quero que ele veja o quanto estou me sentindo suja.
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MONSTRO. | Professor × Aluna.
RomanceMONSTRO - Você Me Destruiu. O destino é imprevisível, a força que rege o mundo. No entanto, com Helena Campos, o destino foi mais que cruel. A faculdade de Direito é o lar de seus sacrifícios, onde tem que lutar para se manter, mas se tornou seu lu...