— Vou com vocês! — Grito quando chego nas escadas e vejo Samuel, Lilian e Lucas pegando seus casacos no cabideiro.
Eduardo assente quando meus olhos caem sobre ele, mas posso ver o leve traço de decepção em sua face. Sei que ele quer que eu fique, que lhe apoie, mas me conheço o suficiente para saber que não aguento passar por isso, e que tampouco mereço.
— Não sei porque a pressa toda. — Lucas murmura sonolento, parecendo prestes a cair a qualquer momento. — Não podíamos ir depois do almoço?
Meu amigo segura a maçaneta ao mesmo tempo que a campainha toca.
Uma batida de coração talvez dure um segundo ou dois, não sei com certeza, mas uma batida de coração é o tempo que leva para Lucas abrir a porta sem sequer olhar pelo olho mágico, completamente alheio a tensão que se instaura em todos os membros e células de nossos corpos.
— Você estava me esperando na porta?! — Uma voz anasalada soa na entrada, é animada, quase gentil.
Termino de descer as escadas com cuidado, movimentos calmos e calculados até estar próxima à Eduardo. Eu queria me retirar, fugir com Lilian e os meninos, mas se todos ficariam, eu tampouco me afastaria. Eduardo não parece me notar; seus olhos estão atentos, seus músculos tensos e a expressão falsamente livre de qualquer sentimento.
— Eu nem sabia que você viria. — Lucas responde com uma risada abaixa e abraça a avó. É uma interação rápida e corriqueira, até mesmo fofa. Quase rio comigo mesma. O que eu esperava? Que ao invés de abraçar o neto, ela lhe desse um tapa na cara?
— Você estava de saída? — A mulher pergunta entrando na sala. Não vejo o pai de Eduardo em lugar algum.
Seria bom saber seu nome, mas como não sei, a apelido de Velha. Ela não parece ser velha, mas para ser mãe de Eduardo e Eloy, não deve ter menos de cinquenta e cinco. Velha tem a pele branca, lábios finos, cabelos marrons sem nenhum fio branco. A pele de seu rosto é claramente esticada por procedimentos estéticos, mas o que chama mais atenção são seus olhos verde água. Essa cor não é usual, nunca vi ninguém com os olhos assim e só consigo supor que sejam lentes. Velha para no centro da sala e olha ao redor, suas íris estranhamente verdes caem sobre cada um de nós. Eduardo continua imóvel e com a expressão neutra, Eloy tem um sorriso forçado nos lábios e braços cruzados. Lilian estreita os olhos, as sobrancelhas arqueadas em desafio, a postura altiva. Samuel parece extremamente confuso, Lucas preocupado, e eu só queria ser Lissa, que está escondida em algum canto da casa, ou Julia, que pegou o carro e foi embora logo que soube da chegada da Velha.
Os olhos da Velha caem sobre mim, curiosos e críticos. Ela varre meu corpo, estreitando os olhos para minha sandália. Será que ela também acha que o vestido pedia um salto?
— Uau. Que grande reunião familiar. — Velha comenta com um sorriso engessado. É completamente arrepiante que não surjam linhas de expressão quando ela sorri. — Meus dois filhos, meu neto, e vários agregados.
— É um prazer rever você, mãe. — Eloy diz de forma a apaziguar o clima tenso, mas sua voz é tão falsa quanto a cor dos olhos de sua mãe.
— Lilian. — Mesmo tentando disfarçar, há descaso na forma como ela diz o nome de Lilian. — Teve uma boa vida longe do meu filho e neto?
Ela sabe sobre Lilian, é impossível que não saiba, é notícia no país inteiro e seu marido foi o primeiro a ser informado. Logo percebo que suas palavras falsamente amenas são de uma crueldade enorme.
— A única parte boa foi não ter que ouvir sua voz. — Lilian responde com rispidez.
Mordo a parte interna da bochecha para não rir. Essa foi boa.
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MONSTRO. | Professor × Aluna.
RomanceMONSTRO - Você Me Destruiu. O destino é imprevisível, a força que rege o mundo. No entanto, com Helena Campos, o destino foi mais que cruel. A faculdade de Direito é o lar de seus sacrifícios, onde tem que lutar para se manter, mas se tornou seu lu...