Às vezes eu rio; outras eu choro. Às vezes fico em profundo silêncio, outras não consigo conter os sons que saem por minha garganta; risos, soluços, arquejos.
Minhas mãos suam e o couro do caderno escorrega em meus dedos; meus olhos ardem, às vezes secos demais, outrora molhados. Leio e releio as cartas, me atento a cada detalhe das fotos coladas nas folhas.
Perpasso minhas digitais sobre as imagens, descobrindo como Helena ficou grávida. Mesmo quando estava quase no fim da gestação, sua barriga não estava tão grande, mas ainda assim, ela havia engordado, suas bochechas tinham ficado maiores, seus seios inchados. No começo das fotos, tiradas em sua maioria nos espelhos da casa, ela tinha uma expressão séria, quase resignada. Ao longo dos meses ela passou a sorrir, tocar a barriga, usar vestidos...
A mudança mais impressionante, no entanto, foi em seus olhos. Mesmo por fotos, eu pude acompanhar como Helena gradativamente se tornou mais madura, mais adulta. Antes ela ainda tinha traços de uma garota, mas ao decorrer da gravidez, e principalmente agora, ela se transformou em uma mulher.
— Eu não acredito que a Castelli não foi capaz de contratar um professor de penal decente. — Acabo dizendo, não conseguindo parar de olhar as fotos de Pedro. Estive em silêncio por tanto tempo que agora minha voz falha.
— É isso que mais te chamou atenção? — Helena pergunta e eu ergo os olhos, encontrando-a sentada no chão, próximo a porta, com a babá eletrônica na mão. Seu rosto está pálido, seus olhos arregalados, cheios de receio.
— O fato de você ter transado com outro também. — Murmurei, dando de ombros. — Bom saber que...
Eu deixo a piada de lado, balançando a cabeça. Não vou fazer nenhuma piada sexual enquanto a mãe do meu filho me olha completamente desolada.
— Eduardo... — Ela suspira e deixa a cabeça cair para trás, encostando-a na parede. — Você... Você viu? Eu odiei saber que estava grávida, eu odiei Pedro antes mesmo de...
— Eu odiei Lucas. — Eu deixo o caderno de lado e deixo de ignorar Helena, deixo de mascarar meus sentimentos. Helena deve perceber minha máscara cair, porque seus olhos se tornam mais amplos. — Odiei ter que me casar aos dezessete, odiei ser pai. Odiei, Helena. Me ressenti do meu filho, não o quis. E então ele nasceu... E meu Deus, de repente, não havia mais vida antes dele. Não havia mais o Eduardo que não era pai, que não amava Lucas incondicionalmente. Você nunca odiou nosso filho, Helena. Você odiou o que ele representava, uma extensão de mim, o seu maior trauma crescendo dentro de você. Se você esperava que eu te culpasse, se você mesma se culpa, não deveria.
— Talvez... — Ela olha para cima, engole as lágrimas, e balança a cabeça. — Talvez se eu não tivesse o odiado, odiado você... Ele teria nascido na hora certa ou...
— Sério? — Eu me coloco de pé. Mesmo transtornado, tomo cuidado para deixar o caderno perfeitamente seguro na cama. Esse é o bem material mais importante que tenho agora. — Sério que Pedro nasceria no tempo normal de uma criança, mesmo sendo um milagre? Mesmo que você sequer pudesse gera-lo? Você tendo aceitado ele desde o início não mudaria nada, Helena. Seria assim de qualquer forma; foi uma gravidez de risco, você nem poderia tê-lo.
— Porque você está irritado? — Helena questiona, estreitando os olhos. Seu peito sobe e desce rapidamente, o rosto mais vermelho que o normal. — Porque você está com raiva de mim, se não acha que sou culpada?
— Porque eu me sinto... — Respiro fundo. Fiz terapia por anos e anos, mas era sempre voltado ao alcoolismo ou ao meu consumismo excessivo. Eu nunca mergulhei de verdade dentro de mim, apenas expressava o básico. Eu nunca consegui contar o que tinha feito e agora que consigo, minha terapeuta me auxilia de uma forma muito mais profunda. Eu a odeio por isso. Não quero profundidade, quero voltar a falar do vício por álcool, da minha vontade incontrolável de comprar e comprar até me afundar. — Eu me sinto...
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MONSTRO. | Professor × Aluna.
RomanceMONSTRO - Você Me Destruiu. O destino é imprevisível, a força que rege o mundo. No entanto, com Helena Campos, o destino foi mais que cruel. A faculdade de Direito é o lar de seus sacrifícios, onde tem que lutar para se manter, mas se tornou seu lu...