capítulo vinte.

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A casa de Eduardo é silenciosa. Percebo isso depois de alguns minutos ali. No meu apartamento, sempre há um zumbido vindo dos apartamentos ao redor, por causa das paredes finas, corredores estreitos e os vizinhos do andar de cima. Aqui tudo é calmo, tranquilo, não se ouve nenhuma inquietação distante. O cheiro também é diferente, mais clínico, talvez até mais limpo. Tiro os sapatos e caminho pelo chão frio, meus pés agradecendo. Enquanto Eduardo providencia a água que pedi, em algum lugar do apartamento enorme, eu observo com mais atenção o lugar. Tudo é em tons de cinza, preto e branco, desde as paredes até o os móveis. O sofá grande é branco, com almofadas listradas, a mesa de centro tem a base feita de metal escuro e o tampo de vidro, com um vaso de flores em cima. As flores estão mortas, mas o que realmente chama atenção é a parede sul, repleta de fotos e mais fotos de Lucas, Eduardo e Eloy. Me aproximo mais, completamente esbabacada com a quantidade de retratos. Vejo Lucas em todas suas versões, desde bebê até agora. Os quadros são de tamanhos diversos, uns maiores e outros menores, mas estão organizados de forma alinhada. Noto um padrão quando há cada dez fotos, está uma foto de Lucas em um dos seus aniversários, soprando a vela da vez. Em todas elas Kaldor está ao lado dele com um sorriso enorme.

Ergo a mão e toco uma das fotos com a ponto dos dedos. É o aniversário de seis anos de Lucas, ele sorri para a câmera, seus dentes falhados mostrando sua felicidade. Kaldor está ao lado dele, também sorrindo, mas o diferencial dessa foto é o cenário. Antes todos os aniversários eram simples, com um bolinho. Agora, é uma festa de verdade, com um bolo de dois andares, balões, doces e vela grande. Imagino que tenha sido nesse ano que Kaldor começou a ganhar dinheiro de verdade.

Deixo a mão cair quando ouço passos vindo em minha direção e me viro com um sorriso. Eduardo traz uma garrafa de água em uma das mãos e na outra, uma sacola grande de papel.

— Te comprei um presente. — Eduardo diz com um sorriso pequeno, estendendo a garrafa de água. — Não sei se você vai gostar porque é aquele tipo de coisa que você vê e pensa que ficará ótimo em outra pessoa, mas não sabe se ela também vai achar isso.

— Tenho certeza de que vou gostar. — Afirmo sem conseguir conter minha minha curiosidade. Eduardo sorri e eu dou um longo gole na água gelada, que desce queimando por minha garganta.

Deixo a água de lado quando ele estende a sacola. Não consigo deixar de sorrir. Depois do Vade Mecum novo, é a primeira vez que recebo um presente só porque a pessoa lembrou de mim, sem nenhuma data especial espreitando. Sento-me no sofá e desfaço o laço que fecha a sacola de papel, abrindo-a. Com cuidado, coloco as mãos dentro da sacola e retiro o tecido sedoso que encontro. É um vestido. Tenho dificuldade de entender como vesti-lo, até que percebo que são duas partes. A primeira é um vestido preto, tubinho, apertado e tomara que caía com um decote em v. O material é grosso e a peça é curta. A segunda parte é um vestido longo de tule transparente, preto com alguns brilhos em prata. As mangas são longas e apesar de também ter um decote em v, não é tão pronunciado. As peças se completam.

— Bom... — Limpo a garganta, repentinamente emocionada. — É tão bonito, ficaria bom em qualquer pessoa, até em mim.

— Até em você? — Ele repete com uma risada baixa e se aproxima mais, até estar de pé ao meu lado. Eduardo segura meu queixo e ergue meu rosto, me obrigando a olhar para ele. — Querida... Você não faz ideia do quanto é linda.

Pisco algumas vezes para conter as lágrimas. Com ele, sempre posso dizer que ninguém faz o que ele faz. Ninguém nunca me deu um vestido bonito porque se lembrou de mim, ninguém nunca me levou para casa debaixo da chuva, ninguém nunca me deu um emprego bom porque acreditava na minha capacidade, ninguém nunca me fez sentir tão bonita quanto ele faz.

— Obrigada. — Deixo o vestido de lado e pulo em seus braços, abraçando seu pescoço com toda força que tenho. Kaldor me abraça de volta e eu rio quando ele me gira no ar, meus pés saindo do chão.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Onde histórias criam vida. Descubra agora