capítulo cinquenta e dois.

2.6K 247 70
                                    

Não frequentava bares há dois anos, nem mesmo para acompanhar outras pessoas. Ir para lugares onde ocasionalmente pode haver bebida é muito diferente de ir para lugares onde com certeza haverá bebida. Não fazia sentido estar cercado por álcool quando eu não bebia, mas agora, me sento no balcão afim de compensar todo tempo perdido.

— Uma dose daquele, por favor. — Peço apontando para uma garrafa no alto da prateleira. O nome é tão rebuscado, que apesar de falar três idiomas, não consigo sequer ler, quanto mais pronunciar. A bartender estreita os olhos, mas pega a bebida.

— É duzentos reais a dose. — Ela diz segurando o copo e a garrafa, os olhos fixos em mim.

— Então traga duas. — Respondo, dando de ombros. Gastar dinheiro não é um problema, é uma pergunta, é a resposta é sempre sim.

A mulher atrás do balcão aparenta estar na casa dos vinte e tantos, mas parece uma adolescente. Vestida um macacão preto e apertado, com os cabelos pintados de roxo e preto, e piercings que vão da sobrancelha até a boca, parece jovem e despreocupada. Ela coloca uma dose dupla na minha frente e eu vejo na plaquinha em seu peito que seu nome é Michelle.

Seguro o copo e giro o líquido âmbar dentro dele. É bonito, brilhante, gosto de observar a forma que toma ao rolar pelas paredes do copo.

Ergo o copo e apenas o cheiro do whisky faz minha boca salivar.

— Há quanto tempo? — A bartender pergunta parando com os braços apoiados no balcão, bem próxima de mim.

— O que? — Desorientado, nem a vi se aproximar.

— Há quanto tempo você não bebe? — Ela pergunta outra vez. — Conheço alcoólatras quando vejo e, sinceramente, nunca me meto na vida dos clientes, mas... Tem certeza? Se você devolver o copo, nem precisa pagar.

— Como você reconhece um alcoólatra? — Pergunto ainda segurando o copo, fitando o líquido âmbar.

— Primeiro, sempre pedem a melhor bebida do bar e dinheiro nunca é o problema. Se é pra voltar a beber, que seja em grande estilo. — Michelle conta inclinando a cabeça para o lado. — Segundo, o olhar atormentado. Eles olham para a bebida como você olhou, com desejo, mas também incerteza, só que a grande maioria bebe de uma vez, mesmo sentindo-se mal por isso. Você... Você parece só estar esperando que alguém te impeça.

Ergo os olhos do copo e olho para ela. Michelle tem um semblante triste, mas também esperançoso. É quase como se ela estivesse preocupada, o que é estranho, sou um completo desconhecido.

— Não, querida. Não estou esperando que alguém me impeça. — Respondo. — Estou esperando que alguém me salve.

Antes que ela possa responder, ergo o copo e bebo o líquido âmbar que parece rasgar minha garganta, de tão ardente. Sinto meu estômago queimar, assim como meus olhos; é forte, meio amargo, mas ainda assim um pedaço do paraíso na terra. É como se eu tivesse andando a pé por um deserto durante duas e agora encontrasse água em abundância, matando minha sede, meu cansaço e minha desesperança.

— E advinha? — Não consigo reprimir a risada irônica quando pouso o copo sobre o balcão, encarando a mulher completamente surpresa. — Ninguém vai vir me salvar.

Ela não acreditava que eu beberia, achava que suas palavras seriam suficientes, mas, se eu decepcionava até meus conhecidos, quem dirá os desconhecidos. É estranho perceber que a mulher desconhecida está triste por mim, ela tem mais empatia do que muita gente que convive comigo.

— O senhor quer mais alguma coisa? — Ela pergunta visivelmente consternada e engole em seco.

— Algo menos forte. — Peço. Se eu beber mais duas doses desse whisky, será como beber uma garrafa de vodka inteira e eu realmente não quero ficar bêbado tão rápido. Quero apreciar a bebida... E a minha desgraça.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Onde histórias criam vida. Descubra agora