Quando entro em casa, uma onda de apatia corre por mim. O lugar é pequeno, mesmo para uma kitnet. O chão é branco, como as paredes que estão manchadas de todo tipo de porcaria. O dono havia dito que me daria um desconto todos os meses se eu não exigisse uma nova pintura que apagasse os rastros dos antigos moradores e como o dinheiro estava — e ainda está — escasso, aceitei. Ainda assim, é triste olhar para as manchas de tinta, cigarro e sangue seco.
A cozinha é a única parte da casa separada do resto; há um portal, sem porta, e o restante fica a esmo. De frente para a porta da cozinha e a porta de entrada, há uma longa sala onde repousa meu colchão inflável e meu guarda roupas. Quando fui compra-los, percebi que só teria dinheiro para um e eu sempre gostei de ter minhas roupas bem passadas, então, ter onde pendura-las me fez escolher o roupeiro ao invés da cama. O banheiro fica do outro lado e fiquei grata de morar sozinha quando percebi que aquela porta não fechava.
Eu havia deixado tudo e me mudado para uma cidade bem maior quando consegui a estimada bolsa de 70% de desconto oferecida pela Castelli, a faculdade mais renomada do estado. 70% era o desconto máximo, concedido aos mais inteligentes, àqueles com grande nota no Enem. Meus avós haviam feito de tudo para pagar os 30% restantes e essa era a única coisa que podia pedir deles. Ali, eu tinha que me virar em mil, trabalhar como uma escrava para pagar o aluguel, as contas, comida e me vestir. Tinha começado do início, sem nada, mas eu estava há tanto tempo no início que me perguntava se algum dia chegaria no final.
Felizmente, Lucas havia oferecido um salgado além do suco e eu aceitei sem me fazer de rogada. O orgulho já havia ficado para trás depois de dias passados com o estômago vazio e agora eu não estava com fome o suficiente para ter insônia.
Tiro minhas roupas, pendurando a calça de alfaiataria no roupeiro, junto com a camisa social branca, ambas compradas na Shein na liquidação de natal. De calcinha e sutiã, me jogo no colchão, o corpo todo extasiado por enfim descansar.
Aperto os olhos com força. Já passa das onze, eu havia sobrevivido mais um dia.
Um dia de cada vez, repito mentalmente, um dia de cada vez.
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O dia amanhece quente e seco, provocando um misto de raiva e desespero quando tenho que caminhar inevitavelmente até o outro lado da cidade. Não tenho dinheiro para o ônibus, então, a caminhada toma uma longa parte do meu tempo e chego atrasada no destino final. A mulher que me recebe na entrada de um prédio residencial me olhar de cima a baixo, estudando meu rosto e minhas roupas puidas.
— Você está atrasada. — Ela ressalta secamente.
— Sinto muito. — Afirmo trocando o peso do corpo de um pé para o outro. Ela suspira, visivelmente irritada, mas me deixa passar.
— Quero a área de festas limpa até às onze. — A mulher exige, sem por favor, sem educação. Engulo em seco para não responder como queria e faço que sim com a cabeça. — O material de limpeza está no armário do outro lado.
Entro no modo automático quando caminho até o armário e não paro de seguir em frente nem mesmo quando a humilhação queima nos meus olhos. Preciso do dinheiro, repito para mim mesma, preciso do dinheiro. O lugar é enorme, cheio de mesas redondas com cadeiras ao redor, pista de dança, palco e enorme espaço aberto.
Respiro fundo, sem saber por onde começar, mas ainda assim, começo.
Limpo a área de festas o mais rápido que consigo, esfregando sob as mesas para retirar os chicletes grudados, varrendo e limpando até que meus dedos estão feridos e o chão perfeitamente encerado. O suor corre por minha testa, meu coração bate acelerado pelo esforço. O lugar enorme estava uma zona, mas depois de uma hora e quarenta minutos, reluz pela limpeza pesada.
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MONSTRO. | Professor × Aluna.
RomanceMONSTRO - Você Me Destruiu. O destino é imprevisível, a força que rege o mundo. No entanto, com Helena Campos, o destino foi mais que cruel. A faculdade de Direito é o lar de seus sacrifícios, onde tem que lutar para se manter, mas se tornou seu lu...