capítulo dezenove.

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Encaro o papel a minha frente com tanta concentração que minha cabeça dói. A primeira prova que Kaldor aplica, a primeira prova que eu realmente tenho dificuldade de fazer. Olho para o lado, encontrando Lucas tão perdido quanto eu. Se meu melhor amigo super inteligente e filho do professor está com dificuldades, imagine eu. Já respondi todas as questões, exceto pela primeira, que apresenta uma sucessão de alternativas onde apenas uma está correta, mas não consigo achar diferença entre elas, parecem iguais com palavras trocadas.

Confiro as outras questões, certa de que as marquei corretamente. O tempo está correndo, faltam trinta minutos de prova. Nunca passei por isso, sempre fui a primeira ou a segunda a sair.

Releio o enunciado da primeira questão outra vez, sendo essa a única questão que eu não tenho idéia de qual seja a resposta, mas não consigo responder porque a voz de Kaldor se faz presente.

— Você com o celular, prova zerada. — Ele diz isso com calma, olhando para quem quer que seja. Não me viro para ver quem é, estou pouco me fodendo. Tenho problemas maiores.

Outra vez, leio a questão e as alternativas, pensando seriamente em desistir de viver por estar agarrada aqui há tanto tempo. Me viro quando Lucas se levanta, segurando a prova levemente virada para mim enquanto caminha até a mesa de Kaldor. Mesmo sem ter a intenção, procuro a primeira questão no ínfimo instante que ele passa por mim e marco a letra B, finalizando a prova. Lucas sempre fecha todas as provas, espero que pelo menos com essa questão não seja diferente. Tudo é tão rápido que quando Lucas está saindo pela porta, eu guardo minhas coisas.

Me levanto e caminho até a mesa de Kaldor. Seus olhos estão fixos em mim, de uma forma nada amistosa. Deixo a prova em cima de sua mesa e por estar de costas para a turma, abro um sorriso.

Ele não retribui.

Parece que tudo corre em câmera lenta quando Kaldor pega sua caneta vermelha e anota -5 pontos ao lado do meu nome.

Abro a boca para questionar, mas ele me interrompe:

— Você está liberada, boa noite.

Engolindo a surpresa e as lágrimas que queimam meus olhos, saio da sala. Lucas está na porta, me esperando com um sorriso que caí assim que ele me vê.

— O que foi? — Meu amigo pergunta caminhando até mim. — Você acha que foi mal na prova? Helena?

— Eu entreguei minha prova e ele escreveu menos cinco pontos perto do meu nome. — Sussurro com o rosto quente, as lágrimas perigosamente perto de cair.

— Como assim? — Lucas questiona tocando meu ombro. — Calma, talvez você tenha entendido errado.

Meu celular vibra no bolso e eu o pego com as mãos trêmulas, vendo o nome dele na janela de notificações.

Kaldor: Eu vi você olhar para a prova do Lucas e anotar a resposta na sua. Da próxima vez, vou anular sua prova como faria com qualquer outro, entendido?

Mostro a mensagem para Lucas, que suspira.

— Porra... — Ele aperta os olhos. — A culpa é minha. Eu vi que você não estava conseguindo responder a primeira e mostrei minha prova.

— Você me deu a oportunidade e eu usei. — Limpo as lágrimas teimosas que correm por meu rosto e respiro fundo. Odeio chorar, principalmente em público.

— Vem, vamos comer alguma coisa, depois a gente vê isso.

Eu assinto e Lucas passa um braço sobre meus ombros, me guiando em direção a saída. Continuo com vontade de chorar, mas reprimo tudo, guardando os sentimentos dentro de uma caixa forte. Me sinto culpada e com raiva. Sei que não é racional ficar com raiva de Eduardo, mas estou. Perdi cinco pontos de uma prova valendo vinte por causa de uma única questão, uma questão que eu poderia ter tentado a sorte ao invés de me queimar dessa forma. Por fim percebo que estou com mais raiva de mim do que dele.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Onde histórias criam vida. Descubra agora