Faço o que Samuel sugere e acabo na porta de Helena. Odeio esse lugar; o bairro é perigoso e o prédio além de cair aos pedaços, não tem nenhuma segurança. Nem mesmo a porta de entrada tem tranca.
Estou na porta dela há quinze minutos, apenas parado como um completo psicopata, sem coragem de bater. Ouço a movimentação lá dentro, até mesmo sua voz quando ela conversa em inglês com alguém; como ninguém responde, imagino que seja uma ligação. No entanto, aos poucos começo a desvendar a conversa e me parece mais que ele está falando sozinha, apesar de não entender direito o que ela está dizendo com seu péssimo inglês. Quero ir embora e não passar por isso, mas tenho medo de ficar sozinho e acabar bêbado.
Num impulso de coragem, bato na porta duas vezes.
Ouço a movimentação, e sua conversa, cessar. Passos de aproximam da porta, que é aberta logo em seguida.
Helena para a minha frente e sua imagem quase me coloca de joelhos. Ela não veste nada além de uma camiseta preta que reconheço como minha. Pisco algumas vezes, completamente desorientado.
— O que você está fazendo aqui? — Ela questiona franzindo o cenho, um tanto irritada.
— Vim te ver. — Sou o mais honesto possível, mesmo que isso signifique ser patético. — Só precisava te ver por alguns instantes.
Observo cada detalhe dela, sabendo que pode ser a última vez. Corro meus olhos por toda sua pele que está descoberta, notando como é macia mesmo de longe. Suas curvas estão escondidas pela camiseta larga, mas posso lembrar vividamente de como ela é linda. Deixo de lado suas pernas desnudas e minha imaginação sobre ela sem roupa e encaro seu rosto. A pele pálida está corada pela irritação, seu cenho franzido, assim como a boca. Ela não suporta minha presença.
— Você já viu. — Helena diz por fim. — Já pode ir.
Balanço a cabeça, assentindo, mas não me movo. Imagino que ela vá fechar a porta comigo ali mesmo, mas ela desvia os olhos do meu rosto até minhas mãos; só então noto que estou ficando minhas unhas em minha palma com força e ainda assim não dói. Abaixo minhas mãos rapidamente e as enfio nos bolsos, constrangido.
— Você não pode aparecer na minha casa. — Helena diz, mas não está mais irritada, parece apenas resignada e triste. — Você me magoou, Eduardo. Você me machucou tanto que às vezes não consigo respirar, então você não pode vir aqui e me fazer sentir pena do seu estado, você não pode parar na minha porta e esperar que eu te receba de braços abertos. Você não entende? Você acabou comigo, cada parte de mim que era feliz e alegre agora é triste e escura. Eu não consigo fazer isso. Eu não consigo te perdoar ou o que quer que você queira. Nós acabamos, não há volta.
Fico em silêncio, afinal, ela está certa em tudo que diz. Estou errado em pressionar, em me colocar em sua vida quando eu mesmo fui culpado por tudo.
— Você pode vir aqui e se aproveitar do fato que eu ainda me preocupo com você, mas não vai mudar nada. Me ver, ganhar um abraço ou um beijo, não vai mudar nada. Eu nunca mais vou confiar em você, eu nunca mais vou ter um relacionamento com você e com o tempo, eu vou conhecer outra pessoa e ter uma nova vida, porque, de fato, nós dois acabamos. E quando isso acontecer, você é quem vai sofrer por ter criado expectativas.
— Você não entende? — Repito as mesmas palavras que ela disse há alguns segundos. — Qualquer migalha é melhor do que nada. Mesmo que você só esteja conversando comigo porque se preocupa, mesmo que seja por pena, eu prefiro isso à nada. Eu prefiro que você me ache patético e fraco do que estar longe.
Mesmo que seja por pena. Essa frase me destrói mais do que qualquer outra coisa e sequer acredito que acabei de dize-la, ou pior, que seja verdade. Se ela me der um pouco de carinho, mesmo que seja porque sou patético e ela sente pena de mim, já será grande coisa. É tão humilhante que sinto-me momentaneamente enojado. Durante minha vida, perdi muitas coisas, mas nunca, absolutamente nunca, perdi meu orgulho. Agora, ele também caí por terra.
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MONSTRO. | Professor × Aluna.
RomansaMONSTRO - Você Me Destruiu. O destino é imprevisível, a força que rege o mundo. No entanto, com Helena Campos, o destino foi mais que cruel. A faculdade de Direito é o lar de seus sacrifícios, onde tem que lutar para se manter, mas se tornou seu lu...