entrelinhas.

2.6K 286 9
                                    


Tudo que eu mais quero nesse momento, tudo que eu desejo acima de qualquer outra coisa, até mesmo do oxigênio que entra em meus pulmões, é uma dose de álcool. Quero beber até que minha visão fique embaçada, até que meu estômago se revire e eu caía numa inconsciência sem sonhos.

Quero tanto beber, que uso todo meu autocontrole para não sair dali em busca de uma garrafa de whisky.

— É verdade? — Lucas pergunta quando Eloy, enfim, abre a porta. Seu lábio inferior treme, seu rosto pálido está vermelho. Atrás dele, Samuel toca seu ombro, demonstrando apoio, mas não diz nada. Gosto desse menino. Meus olhos caem sobre Lilian e eu espero sua resposta, não posso tirar isso dela.

— Sim. — Ela diz limpando a garganta, seu corpo esguio tremendo por inteiro quando dá um passo em direção a Lucas. — Mas está tudo bem, você não precisa ficar assim.

Quero dizer a ela para não ensina-lo a esconder seus sentimentos, que não é saudável mentir a respeito da situação, que ele precisa colocar para fora, mas não digo. É a vez dela de lidar com a situação. Lucas se encolhe, parece estar fisicamente sentindo dor. Conheço a sensação.

— Vai ficar tudo bem. — Lilian repete, outro passo em direção ao nosso filho. — Por favor, não chore, não chore.

Odeio que ela peça a ele para não chorar, mas deixo que faça, não interrompo.

— Não gosto que você tenha sido machucada. — Lucas sussurra. — Isso me machuca também.

— Tudo bem você se sentir assim. — Respondo quando Lilian parece ter sido atingida por um soco. — É perfeitamente normal. Porque você não se senta e tenta organizar seus pensamentos?

Lilian caminha em direção a Lucas, parecendo decidida a se aproximar. Quando ela para, está há poucos centímetros dele, os olhos arregalados, as bochechas manchadas por lágrimas.

— Posso abraçar você? — Lilian pede em voz baixa, um soluço escapando de seus lábios firmemente cerrados. Samuel dá alguns passos para trás e eu coloco toda minha atenção naquela interação.

Quando Lucas assente, sinto meu coração acelerar no peito. Quando Lilian o abraça e Lucas não demora mais do que dois segundos para retribuir, minhas pernas ficam bambas. O alívio é tão grande que me choca.

Sou tão egoísta. Vejo meu filho, a pessoa que mais amo na vida, abraçando a mãe depois de tanto tempo sem vê-la e tudo que consigo sentir é alívio.

Alívio porque depois de catorze anos, a responsabilidade não é mais só minha.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Onde histórias criam vida. Descubra agora