capítulo doze.

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Ele dirige com maestria, suas mãos sempre firmes no volante, seus olhos nunca se desviando da rua. Um motorista responsável, percebo. Kaldor me passa confiança, o que é estranho. Não sou acostumada a confiar em pessoas autoconfiantes.

Eduardo estaciona o carro emparelhado ao meio fio, frente ao meu prédio, e desliga o motor.

— Quer entrar? — Pergunto quando o silêncio se torna ensurdecedor. Eduardo não responde, apenas pousa seus olhos sobre mim. Sua face angustiada havia se dissipado, mas ele ainda parece aéreo. Isto me preocupa. Lembro-me da noite em que ele dormiu comigo, do motivo dele ter me procurado. Não quero que ele fique sozinho. — Eu gostaria que você ficasse.

Ele hesita, claramente indeciso, mas assente depois de um instante. Quero perguntar, novamente, se ele está bem, o que o deixou tão chateado, mas resisto. Gostaria que fosse apenas curiosidade, mas é a mais pura preocupação.

— Porque essa porta fica aberta? — Ele pergunta quando só empurro a porta de entrada do prédio.

— Não sei, não tem chave. — Dou de ombros enquanto ele me segue pelas escadas sujas. Não é um bom lugar, eu sei, mas não gosto da forma que ele olha ao seu redor, como se tudo fosse totalmente horrível e indigno.

Meu prédio não é seguro, nem bonito, mas vale a pena. O custo é baixo, os vizinhos não fazem bagunça e a senhora do andar de cima me chama para almoçar todo domingo. É um lugar familiar, sem brigas ou gritos.

Ainda em silêncio, destranco a porta do meu apartamento quando enfim chegamos ao terceiro andar.

— Agora que você tem um trabalho formal, pode pagar por um lugar melhor. — Kaldor comenta quando tranco a porta atrás dele. Respiro fundo, não quero uma discussão, apesar de me sentir irritada. — Aqui é...

— Eu já entendi. — Corto. — Você não gosta daqui, você acha ruim. Ok.

Ele fica momentaneamente surpreso com minha resposta dura, suas sobrancelhas se arqueando ao me avaliar.

— Você não entende? — Ele questiona parecendo estar falando de algo extremamente óbvio que não estou enxergando. — Não é questão de gostar, é questão de segurança. Esse lugar não é seguro.

— Kaldor... — Suspiro me sentindo cansada. — Você é paranóico.

— Sou. — Ele concorda prontamente. — Mas, não estou exagerando quanto a isso.

Dou as costas a ele quando reviro os olhos. Nunca fui do tipo descuidada, mas também nunca liguei para segurança. Me contento com a realidade. Se alguém quiser me machucar, será aqui ou em um condomínio de luxo. Sou mulher, já nasci acostumada à insegurança.

— Eu gosto da sua casa. — Ele comenta se sentando no colchão. Olho para ele desconfiada. Kaldor está tirando o relógio dourado do pulso e colocando-o ao seu lado, no chão. — É sério. Não tem poluição visual, é tudo limpo, espaçoso. Gosto disso.

Ele tira uma fina corrente do pescoço, a pequena cruz dourada reluzindo quando ele a coloca perto do relógio e descalça os sapatos e as meias.

— Você percebe que é porque não tenho móveis, certo? — Questiono ao me sentar ao lado dele. — Não sou excêntrica, sou pobre.

Kaldor ri.

— Eu sei. — Concorda ao cruzar as pernas sobre o colchão. — Então, agora que você está trabalhando, vai mobiliar seu apartamento?

— Vou comprar uma cama. — Abro um sorriso animado. A última vez que dormi numa cama foi quando fui visitar meus avós, durante as férias. — E um colchão de verdade.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Onde histórias criam vida. Descubra agora