capítulo trinta e três.

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Encosto a cabeça no ombro de Eduardo e ele passa um braço ao redor do meu corpo, beijando meus cabelos. O vento vindo do mar é forte, mas isso não impediu os homens de fazerem um fogueira na areia próxima a casa. Bom, na verdade, o que não impediu foi a insistência de Eloy, porque nenhum dos três queria o trabalho. O calor do fogo é aconchegante, mas a presença do homem ao meu lado é o que me enche de felicidade.

Lucas está sentado em um tronco de árvore, Samuel ao seu lado, e eles parecem ter uma conversa profundas de mãos dadas.

— O que será que eles tanto conversam? — Eduardo sussurra em meu ouvido, notando meu olhar.

— Te conto quando descobrir. — Brinco. Não tenho a intenção de contar para Eduardo qualquer coisa que Lucas me conte. — Você realmente namorou Klaus?

Eduardo solta uma risada descrente.

— Não. Mais ou menos. — Me ajeito na manta para olhar para seu rosto. Ele não parece se importar em falar disso. — Nós éramos amigos, e às vezes, a gente ficava. Principalmente quando tinha bebida no meio. Mas, por nós sermos muito amigos e andarmos o tempo todo juntos, o pessoal do colégio tinha certeza de que éramos um casal. A realidade é que tínhamos alguns sentimentos, mas nenhum dos dois estava disposto a levar isso a sério. Ter um relacionamento era ter que passar por mais um inferno familiar e nós não estávamos dispostos. Por fim, eu comecei a namorar com Lilian, ele voltou para os Estados Unidos e quando a gente se reencontrou, estávamos calejados, sem tempo para relacionamentos do ensino médio, sem tempo para viver a vida. Eu tinha Lucas, ele tinha questões que precisava resolver.

— Então não foi um amor épico que você nunca conseguiu esquecer? — No final da frase, eu já estou rindo. Eduardo me olha como se eu fosse idiota.

— Você anda muito ciumenta. — Ele rebate e beija minha testa, seu braço se apertando ao meu redor. — Não, você é o meu amor épico.

Eu sorrio tanto que minhas bochechas doem e quando ele sorri de volta, meu mundo brilha.

— O que você quis dizer sobre inferno familiar?

— Sempre tão atenta. — O sorriso de Eduardo não é mais tão feliz, caindo até sua expressão ficar séria. — A família de Klaus é terrível, mas essa história é dele, não minha. E minha família...

Eduardo me puxa contra ele, me abraçando de uma forma que eu não consiga mais ver seu rosto e deposita um beijo em minha cabeça.

— Meu pai foi superintendente da polícia federal, minha mãe médica do exército. Ambos muito duros, sobre qualquer assunto. No entanto, minha mãe era pior. Apesar de ter batido em Eloy e eu durante toda a infância, quando ficamos adolescentes ela não conseguia mais, então, começaram os jogos emocionais, ou como Eloy chama: o terror psicológico.

“Ela dizia coisas horríveis sobre nós, sobre nossa personalidade, sobre nossa aparência. Minava nossa autoestima, nossa confiança, nossa vida. Eu pisava em ovos o tempo todo, tentando ao máximo não fazer nada errado, assim ela não teria motivos para me machucar. Mas ela sempre encontrava um motivo. Minhas roupas nunca estavam bem passadas o suficiente, meu cabelo nunca estava arrumado do jeito que ela queria. Tive que usar aparelho, mesmo tendo os dentes perfeitos, porque ela não achava perfeito o suficiente. Lembro que o dentista ficou pasmo. Ela também regrava comida. Era obcecada com corpos magros e perfeitos, então, Eloy e eu não podíamos comer demais. Na verdade, não podíamos comer sequer o suficiente. Ela pagava uma escola cara, então, tudo era pago. Ela não nos dava dinheiro para o almoço ou deixava que a gente trabalhasse para conseguir, afinal, ela não podia controlar nossa alimentação onde não estava nos vendo. Quando meu pai soube, pensei que ele brigaria com ela, mas ele não disse nada. No entanto... Eu passei a encontrar dinheiro na minha mochila todas as manhãs, assim como Eloy. Ele nos defendia em silêncio, e apesar de odiar isso naquela época, hoje sei que ele estava tão preso nas manipulações dela como seus filhos estavam.”

MONSTRO. | Professor × Aluna.Onde histórias criam vida. Descubra agora