— Onde você aprendeu a dirigir?! — Questiono quando Helena atravessa um cruzamento sem sequer olhar o sinal, que está vermelho. Estou tão desnorteado que sua direção perigosa não me causa medo.
— Num trator velho do meu avô, na roça! — Ele responde de forma irritada e eu fico impressionado porque ela não parece estar mentindo.
Ela continua acelerando pelas ruas desertas da cidade e eu fico contente por não haver ninguém andando por ali; ser acusado de um homicídio já é suficiente para a noite, não preciso de dois. Tenho certeza que mesmo bêbado e completamente trêmulo dirijo melhor que Helena, mas não digo nada porque enfim ela estaciona na frente de seu prédio, uma roda subindo na calçada.
Ela abre a porta e saí, mas eu estou bambo demais para fazer o mesmo. Apenas fico sentado no banco do passageiro, encarando minhas mãos sujas de sangue. Não sei se passam alguns segundos ou duas horas quando Helena abre a porta e abaixa a cabeça para me ver melhor.
— Vem, vamos entrar. — Ela pede, mas apenas encaro minhas mãos. Quase não consigo ver a cor pálida das minhas palmas, há tanto sangue que tudo está rosa e vermelho. Helena toca meu rosto e me faz olhar para ela. — Apenas levante e saia do carro, ok? Não pense muito.
Eu sei, no fundo, que ela está sendo gentil e doce para que eu faça o que ela pede, mas acabo por obedecer porque não consigo resistir ao seu tom falsamente preocupado. Forço minhas pernas a se mexerem e saio do carro, meu corpo está tremendo tanto que não consigo me firmar e se não fosse pelo amparo de Helena, teria caído. Ela bate a porta e passa um braço ao redor meu corpo, me apoiando enquanto me guia para dentro.
Movo um pé de cada vez para subir as escadas e o caminho até o apartamento dela demora o triplo do tempo normal. Por fim, quando conseguimos entrar, Helena tranca a porta girando a chave várias vezes. Sem dizer nada, ela torna a me guiar, dessa vez, para o banheiro.
Estou vazio, percebo. Todos os sentimentos se foram, me deixando oco por dentro. Até mesmo Helena é incapaz de preencher o vazio; noto isso quando ela começa a desabotoar minha camisa social e esse gesto que antes enviaria fogo por minhas veias não provoca nada. Ela puxa a arma da minha cintura e a coloca na pia, sequer consigo abrir minha boca e perguntar como ela conseguiu tira-la do cofre.
— Vamos lá, Eduardo. Acorda. — Ela pede, parecendo genuinamente preocupada. — Tire os sapatos, ao menos.
Me esforço mais para tirar os sapatos com os próprios pés do que me esforcei para subir as escadas, principalmente quando tenho que me abaixar para tirar as meias.
Está tudo tão, tão vazio.
Continuo tirando minhas roupas até ficar apenas de cueca e acho que isso é suficiente porque Helena me puxa para o box e abre o chuveiro. Me encolho quando vejo a água, sentindo frio apenas de imaginar-me debaixo dela.
— Está quente. — Helena diz baixinho, notando meu olhar.
Mesmo assim, não me movo. Estou sentindo frio, tanto frio que a qualquer momento começarei a bater os dentes. Helena suspira, mas tudo que eu vejo é a água correndo. Vou manchar a água com o sangue se entrar sob ela. Pelo canto do olho vejo Helena sair do box e tirar a calça jeans, depois a camiseta, exibindo seu corpo e o conjunto de calcinha e sutiã pretos. Ela não tira mais nada e retorna para perto de mim. Nem mesmo a imagem de seu corpo semi nú me desperta.
— Vem. Está quente. — Ela torna a repetir, mas dessa vez me puxa com ela em direção a água. Fecho meus olhos com força quando percebo que é tarde demais para evitar que ela me arraste para debaixo do chuveiro. A água realmente está quente, mas isso não aplaca o frio. — Viu? Quentinha.
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MONSTRO. | Professor × Aluna.
RomansaMONSTRO - Você Me Destruiu. O destino é imprevisível, a força que rege o mundo. No entanto, com Helena Campos, o destino foi mais que cruel. A faculdade de Direito é o lar de seus sacrifícios, onde tem que lutar para se manter, mas se tornou seu lu...