capítulo extra.

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⚖️                  Não me conformo em morar num lugar que facilmente se transforma em uma lagoa quando chove. Como uma cidade pode ser tão mal planejada a ponto de termos que interromper nossas atividades mais cedo parar não ficarmos presos num alagamento? Conforme a chuva começa a cair torrencialmente, eu corro em direção ao estacionamento, me amaldiçoando por ter deixado o carro tão longe.

Por um lado a chuva é até boa. Lucas está em casa com uma gripe terrível; se eu conseguir sair da Castelli antes do alagamento provocar um engarrafamento, posso chegar mais cedo e cuidar dele. Por outro lado, a chuva é horrivel. Eu amava frio e chuva, até que tive filho e percebi que esse clima era um chamariz para gripes e resfriados.

Mesmo tendo corrido para o carro, estou todo molhado quando entro no veículo. Percebo que é uma perda de tempo esperar chegar em casa cedo; com certeza vou pegar um engarrafamento horrível.

Dirigindo devagar pelas ruas que já se enchem de água, eu avisto uma figura baixa e esguia caminhando rápido na calçada. Demoro a perceber quem é a garota, mas quando percebo, demoro ainda mais para me lembrar o nome dela.

Mariana?

Céus.

Tento me forçar a ir embora e não oferecer carona porque Deus sabe que não posso mais me envolver com uma nenhuma aluna, mas penso no meu filho e em como ele fica extremamente resfriado quando toma chuva e meu coração mole me faz nivelar o carro à calçada.

Juliana?

— Entra! — Grito e a garota para abruptamente, pulando de susto. Seus olhos arregalados caem sobre mim e ela parece um filhotinho de gato ensopado.

Madalena?

Mesmo hesitando por um segundo, ela abre a porta e entra no carro.

HELENA!

O grito mental que dou quase me surda por um momento, mas felizmente me recordo do nome dela. Será essa a garota que Lucas tanto fala? Helena parece aturdida, me encarando como se fosse melhor continuar na chuva que destrói a cidade lá fora.

— Você está ferido. — Ela diz com a respiração ofegante, seus olhos em minha mão no volante. Noite passada eu tive um pesadelo e mordi meu dedo durante o sono até que arranquei sangue; não quero que ela veja isso, que ninguém veja isso.

— Onde você mora? — Pergunto para mudar de assunto; gostaria de poder esconder minha mão.

— Pode me deixar no ponto de ônibus. — Ela diz como se isso fosse a melhor coisa que poderia acontecer a ela.

— O mundo está desabando em água, Helena. — Sou obrigado a lembra-la. Essa mulher é louca? — Onde você mora?

Percebendo que não desisto fácil, Helena passa seu endereço, um bairro decadente onde não coloco meus pés há anos. Céus, onde estou me metendo?

Aliás, eu deveria saber que essa garota moraria em um lugar assim. Helena é uma farsa; elegante e de aparência rica na faculdade, mas uma relés diarista durante o dia. Não que isso mude alguma coisa na forma que a vejo, até me faz respeita-la, mas é um grande contraste.

Paramos num engarrafamento que parece não ter fim, a chuva caí tão forte que não vejo nada, a água formando uma cortina ao redor do carro. Desligo o motor já sabendo que não sairemos dali tão cedo e tento pensar em algo para dizer, mas tudo que vejo são suas roupas molhadas. Há um antes e um depois na minha vida; antes e depois de Lucas. Antes de Lucas, eu olharia para essa mulher toda molhada e não veria problema algum; depois de Lucas, eu me preocupo que ela vá ter um resfriado e acabar morrendo porque depois de virar pai entendi o quanto um resfriado pode ser perigoso.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Onde histórias criam vida. Descubra agora