capítulo três.

5.5K 502 208
                                    

quanto mais comentários,
mais capítulos.

Tenho pesadelos durante a noite e acordo sem nenhuma dica do que eram, só sei que meu coração bate acelerado e estou toda suada. Imagino que seja do passado cruel que meu cérebro se recusa a lembrar, me deixando apenas com pistas do que aconteceu. Ninguém me contou muita coisa quando perceberam que eu havia sido permanentemente danificada, que minha mente havia me abandonado e me feito esquecer dos fatos importantes.

Algo ruim aconteceu, Helena. Mas já passou, você está segura.

Passo o dia chateada por não ter nenhuma faxina, mas estou aliviada por ter dinheiro extra. Eduardo havia sido generoso no dia anterior e eu tinha recebido seiscentos reais quando pensara que só teria duzentos. Passo a tarde estudando, mesmo não tendo provas. Ao contrário dos meus colegas, não estudo um dia antes do teste e sim em todos os momentos que tenho tempo, assim, quando o dia desesperador chega, só reviso e tiro boas notas.

A noite chega e me arrasto para a faculdade; geralmente é o ponto alto do meu dia, mas não consigo tirar de mim a sensação de impotência. Penso em ligar para os meus avós, perguntar sobre as coisas que esqueci, mas repenso quando chego na universidade. Eu quero mesmo me lembrar disso? Sinto que não. Minha mente não teria falhado por algo pequeno.

Me sento ao lado de Lucas, que está adiantado, por mais estranho que isso pareça. Ele sempre chega junto com os professores ou alguns minutos atrasado, mas hoje é diferente.

— Comprei dois vades novos. — Lucas diz concentrado em seu desenho indecifrável. — Chega amanhã.

— Legal. — Dou de ombros. Meu Vade Mecum está desatualizado, três anos atraso em relação ao novo, já que quando comprei, um ano atrás, já era de segunda mão. Lucas ergue os olhos e abre um sorriso tímido.

— Um para mim e outro para você.

Surpresa me enche. Um para mim? Será que ele fez isso porque viu aula passada que o meu está desatualizado ou porque tem algum interesse oculto?Desconfiança me enche, mas a empurrou para longe. Lucas é um garoto legal, tem dezesseis anos e se importa com as pessoas.

Não é?

— Você não gostou? — Meu amigo pergunta pressionando os lábios, parece desconsertado e um tanto quanto constrangido. Lentamente um leve rubor toma suas bochechas pálidas.

Eu me inclino entre as mesas até ficar bem perto dele, meu corpo estendido no estreito corredor que separa nossas fileiras, e busco falar baixo para que os outros não ouçam.

— Lucas... — Começo, mas perco a coragem. Ele é o único amigo que tenho, não quero perde-lo caso ele esteja querendo algo comigo, ou pior, esteja apaixonado. Também não quero arriscar que ele fique indignado com uma pergunta indiscreta como aquela, mas é tarde demais porque ele parece ler em meu rosto o que estou pensando. Seu rosto fica ainda mais vermelho e ele balança a cabeça de forma quase imperceptível.

Lucas se inclina em minha direção e toca os lábios na minha orelha; me arrepio instintivamente, mesmo que o que seja singelo e inocente. Nunca tive aquele tipo de contato, mas ainda assim sinto falta. E também sinto medo, como se aquilo despertasse algo ruim dentro de mim.

— Comprei o livro porque vi que o seu está antigo. — Sussurra. — Eu não... Eu...

Quase posso ver seu rosto ficar totalmente vermelho, mesmo sem olhar para ele. É o que acontece quando ele gagueja.

— Eu não gosto de meninas. — Lucas diz tão baixo que mal posso ouvir, mas quando compreendo sua afirmação, arregalo olhos.

— Ok. — Digo baixinho, sabendo que ele está envergonhado e que deve confiar muito em mim para me contar algo tão íntimo. — Obrigada por confiar em mim.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Onde histórias criam vida. Descubra agora