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Então gente, a partir desse capítulo as coisas começaram a ser explicadas, pode haver alguns gatilhos ruins, então muito cuidado ao ler, porque algumas temas abordados podem ser pesados pra alguns.

Leiam, comentem e logo estarei de volta! A meta continua a mesma

Aproveitem!

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Mara

A vida esses dois últimos anos só não foi pior porque há uma razão para acordar todos os dias. Mas confesso que apesar da Clarice ser um presente lindo e a luz da nossa vida, como diria o Arthur, sinto um vazio enorme corroer meu íntimo, ao mesmo tempo em que sinto uma esperança tão grande quanto.

Quando a Carla foi dada como desaparecida, tanto eu quanto o Arthur nos desesperamos, os dias foram passando e nada acontecia, nada mudava. Enquanto isso existia uma menininha que era a cópia perfeita do meu bebê, que aos poucos foi nos trazendo de volta, nos fazendo seguir.

Eu e o Arthur nos responsabilizamos por ela. Clarice é esperta, tem o cabelo loirinho, uma curiosidade sem tamanho, é sapeca e ama bichinhos. Ela tem toda uma estrutura, amor de todos os lados, mas ainda assim, vive perguntando pela mamãe dela, que eu e o Arthur fazemos questão de deixar lembrada em seu coração sempre.

Flashback On

C: Vovó, Mala! (ela caminha até meu quarto com o Chaplin aos seus pés) Eu vi a mamãe lá no qualto do papai.
M: Aonde, meu amor? Você mostra para a vovó? (pego sua mãozinha e vamos ao quarto do pai dela)
C: Aqui, vovó, vem ver (ela me mostra uma caixa embaixo da cama, cheia de fotos da Carla)
M: Você tem razão, meu amor. Essa é a sua mamãe! (retiro da caixa uma foto dela com a barriga a mostra, apenas de lingerie com um sorriso enorme, exato oito meses atrás)
C: Olha tem o papai também! (ela me mostra o Arthur refletido no espelho)

Flashback Off

Passamos o resto daquela tarde vendo as fotos e coisas que tinham naquela caixa.

Hoje de manhã, recebi uma ligação da 34ª delegacia da mulher me pedindo para comparecer lá e dizendo que até então eu não poderia contar a ninguém onde estava indo.

Saio de casa falando para Arthur que precisava fazer umas coisas no centro e não demorava a voltar.

Assim que entro na delegacia me levam a uma salinha e me pedem para aguardar, eu não sabia ao certo pelo que estava esperando, eu apenas estava lá. Alguns minutos depois vejo o porta se abrir, minha filha entra e corro ao seu encontro.

Arthur

A: Como assim ela apareceu, Mara? (vejo ela caminhar até a TV e a ligar no Jornal Nacional)

"Atriz e ex-BBB Carla Diaz é encontrada após dois anos de seu sumiço. A investigação ainda está sendo feita, mas tudo que se sabe até agora é que ela foi mantida em cárcere privado por todo esse tempo. Voltamos com mais informações."

Minhas lágrimas começam a cair uma atrás da outra e eu me amaldiçoou por ter permitido que ela passasse por algo assim, nem quero pensar em como tudo foi doído e difícil pra ela, não quero imaginar o quanto ela se sentiu sozinha, o quanto de medo que teve. Eu só queria encontrá-la agora e lhe mostrar que estou aqui e que tudo vai ficar bem.

A: Cadê ela, Mara? (pergunto inquieto)
M: Tá no carro, eu precisava que você soubesse de tudo antes de trazê-la para cá.
A: Você deixou ela sozinha? (falo enxugando as lágrimas insistentes)
M: Não! Depois de tudo, eu nunca deixaria só. Vou buscá-la.
A: Eu vou junto (me levanto afoito)
C: PAPAI, PAPAI! (escuto seu gritinho do quarto)
M: Fica aqui com sua filha, que eu trago a minha até vocês.

Ela sai e eu fico atônito, até ouvir minha filha me gritar novamente.

A: oi minha princesa, o que foi? (Chego no quarto e a encontro assustada, sentada na cama com os olhinhos cheios de lágrimas)
C: eu... Eu... (Ela para por alguns segundos e enxuga as lágrimas, chego próximo dela e a puxo pro meu colo) eu sonhei com a mamãe! Ela tava cholando papai, a mamãe pecisa da genti! (Como ela poderia saber que a mamãe dela precisava da gente? A agarro ainda mais)
A: calma meu amor, foi só um sonho ruim! Mas o papai tem uma surpresa pra você! (Ela levanta o rostinho e sorri)
C: cal? Eu adolu sulplesas! (Ela bate palminhas e me olha empolgada)
A: daqui a pouquinho você descobre mocinha, a vovó Mara que vai trazer!

Ela se deita em meu peito e ficamos agarrados até que sinto seu corpinho ficando mais pesado e percebo que ela dormiu novamente, me viro e a coloco na cama, depois saio em direção a sala, mal chego e a porta se abre.

Ela estava ali, muito mais magra, com os olhos fundos, a aparência bem descuidada, mas continuava linda, tentei me aproximar, mas ela deu passos para trás até se encostar na parede e abraçou a si mesmo, eu percebi que era melhor ficar longe por enquanto, não sei o que ela passou, mas se um dia encontro com o filho da puta que a tirou de mim e a deixou assim, nem sei o que sou capaz de fazer com ele.

A Mara a levou até o quarto dela e depois voltou pra sala.

A: por que ela está assim? (Pergunto afoito andando de um lado para outro)
M: ainda não sabemos ao certo o porquê, a única coisa que sei é que os médicos falaram que ela precisa de tempo e tratamento pra voltar a se sentir segura com a gente! (Meu coração se aperta ouvindo aquilo)
A: com a gente? Mas nós nunca faríamos mal a ela!
M: nunca mesmo! Mas alguém fez e a deixou assim, ela precisa de cuidados agora, de paciência, amor e ser acompanhada por uma equipe especialista em traumas decorrentes dessas situações!
A: onde ela estava?
M: encontraram ela perto daqui, dois quarteirões acima do nosso! (Comi assim ela estava tão perto?)
A: eu não vou me perdoar nunca! (Abaixo a cabeça e começo a chorar)
M: isso não foi sua culpa meu filho, não foi culpa de ninguém, só de quem a pegou! Mas a gente vai conseguir encontrar quem fez isso com ela e ele vai pagar! Se acalma!
A: eu não devia ter desisto de procurar por ela Mara! Eu não devia ter aceitado tão fácil que ela simplesmente foi embora! (Ela me abraça e eu a aperto forte, precisava juntar meus cacos)
M: não pensa nisso agora, nós vamos ajudar ela a ficar bem e se Deus quiser em breve a teremos de volta, a Carla que a gente tanto ama continua ali, ela só precisa de um tempo e do nosso amor e isso eu sei que ela terá de sobra.
A: sempre! Vou dormir, amanhã a gente conversa! Boa noite sogrinha!
M: boa noite meu filho, eu vou dormir no quarto da Clarice hoje!
A: tudo bem!

Antes de ir realmente ao meu quarto, passo pelo quarto da Mara e observo minha mulher dormir, ela ainda era minha, mas eu não sei se isso ainda era bom o suficiente pra ela, me aproximo e toco seu rosto devagar, ela se mexe e fico com medo que ela acorde, então me afasto, ela ressona e dorme tranquilamente e eu só consigo me culpar por tudo que ela viveu! Como eu queria ter a protegido de tudo! Como me dói não saber por tudo que ela passou.

Saio do quarto da Mara e vou para o meu já com as lágrimas escorrendo sem parar pelo rosto, deito em minha cama, abraço um travesseiro e choro até dormir.

ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora