ponto de vista: vivi
Manu pediu três pizzas pro jantar. Depois de insistir bastante, acabaram me deixando escolher um dos sabores. Até então, a preferência de escolha era dos filhos da Laura e as outras meninas mais novas.
— Quantos anos tem a moradora nova? — Fabiana pergunta com a boca cheia e suas mãos sujas de molho de tomate.
— Bem mais que você, com certeza. — Manu respondeu, gargalhando em seguida. — Só falei com ela pelo telefone, mas parece ser nem muito nova, nem muito velha. Tipo a Vivi.
Todos olharam pra mim. Engoli um pedaço de mussarela rapidamente pra responder aquilo.
— Mas e eu? Por acaso sou velha? — Samira falou antes que eu conseguisse.
— Não, é que... — Manu enrolou na resposta.
— Alguém sabe se tem um colchão que nenhuma alma viva usa aqui? — questionei.
Desde que li o bilhete, fiquei pensando. A responsabilidade de conseguir cama pra garota nova não devia ser minha, só porque eu vou dormir no mesmo cômodo que ela. Certo?
— Eu acho que tem no quartinho de limpeza. Só que tá meio sujo, você vai ter que limpar.
— Eu? — dei risada, achando uma graça (e um absurdo). Quando percebi que todo mundo continuou sério, desmanchei meu sorriso. — E a dona da casa? Ou a Laura, que gosta tanto de limpeza-
— Vivi, eu tenho dois filhos pra criar. Sem contar, meu trabalho. Você vai ter que se virar sozinha, afinal, a colega de quarto da menina vai ser você. — Laura me interrompeu.
— Mas...
— Eu te ajudo. — Samira se prontificou.
— Valeu. Pelo menos, isso. Eu nem sei como se lava colchão. — me encostei na cadeira.
— Muito menos eu. Mas deve ter um tutorial no YouTube, né Manu? — Samira olhou pra Manu, que juntou as sobrancelhas.
— Sei lá, gente. Mas lavar colchão é fácil. Vocês vão saber. — ela respondeu tudo e ao mesmo tempo nada.
Foi quase inútil. Ou totalmente.
Depois de comermos, Samira e eu fomos até o quartinho de limpeza. Assim que abrimos a porta, demos de cara com aquele colchão enorme, apoiado na parede. Acabamos por rir, de tão óbvio que era.
— Vem, me ajuda à carregar. — ela se adiantou em tirar aquilo do lugar.
— Carregar pra onde, mesmo? — pergunto, torcendo pra ela não me achar uma idiota.
— Pro quintal. Lá tem a mangueira, esqueceu? E ainda vai dar pra estender no varal.
— Entendi. Ok.
Carregamos o monumento (mais pesado do que aparentava, talvez pela sujeira) até o lado de fora da casa. Samira jogou o colchão no chão e eu segurei a mangueira. Após abrir a torneira, começamos a lavagem, alternando a vez de cada uma passar o sabão e distribuir a água.
— É, espero que seque antes que a novata chegue. — Samira disse quando enfim terminamos.
Ela apoiou o braço no meu ombro, exausta. Respirei fundo e fiquei imaginando como seria dividir o quarto com outra pessoa. Bom, não deve ser tão ruim assim. Desconhecidos podem ser legais, de vez em quando. Quem sabe a garota seja ultra mega divertida, ou no mínimo de boa, que nem a Samira.
Como quase todos os dias, teve fila pra entrar no banheiro. Como uma pensão pode ter apenas um banheiro? É inacreditável. Já tentei mudar meus horários de banho pra não enfrentar esse tipo de coisa, mas nunca deu certo.
Dessa vez, eu consegui pegar o terceiro lugar. Tô atrás da Manu, que tá atrás da Laura.
— Laura, você já deu banho nos seus filhos? — pergunto à ela.
— Já, inclusive eles tão dormindo. Então falem baixo. — ela diz, de costas e com sua toalha pendurada no braço.
— Como os dois já tomaram banho e eu não vi? Em que mundo eu vivo? — reclamei mais alto do que devia.
— Também quero saber. — Laura comenta, fazendo Manu dar uma risadinha baixa.
Quando ela viu minha reação, tocou na minha mão delicadamente e me olhou como se me entendesse.
Depois de esperar bastante, felizmente consegui me banhar. Não posso julgar a demora do banho dos outros, porque tem horas que não há nada melhor que uma ducha de uma hora.
A água quente descendo pelo corpo parece uma sessão de terapia.
Só fui arrumar meu quarto depois de enrolar um pouco. Não tinha muito o que fazer, na verdade. Só deixar espaço para as novas coisas que o ocupariam. Deitei na cama e suspirei. Cansada pra caralho, mas até que tranquila.
Mudanças são bem-vindas, né? Só espero não me arrepender de ter dito isso.
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borboletas [gabi cattuzzo]
Fanfictiononde viviane mora em uma pensão e a nova moradora é sua ex amiga, gabriela.