borboletas [gabi cattuzzo]

parte 6

ponto de vista: vivi

Acordei antes dela e já adiantei minha higiene matinal. Agora estou na cozinha tomando café com as crianças e Samira. Laura tá terminando de preparar as torradas e Manu saiu bem cedo. As outras tão pela casa, fazendo coisas que não me importo.

— Aleluia sábado, né Henrique? — Fabiana levantou os braços, comemorando.

— É. Nada de escola! — o menino gritou.

— Nada de dever da faculdade! — Samira gritou, também estendendo os braços.

— Nada de vender flores com a chata da Valentina! — eu acompanhei, e em seguida todos nós rimos.

As risadas duraram até de repente, Gabriela aparecer. Eu fiquei séria automaticamente e Samira emitiu aquele som de quem prevê confusão.

— Bom dia. — a garota disse, e eu notei seu pijama.

Lilás e de seda.

— Bom dia. — todo mundo falou menos eu.

Mordisquei meu pão e evitei olhar pra ela.

— Como foi a primeira noite, Gabi? — Laura perguntou, amorosamente.

— Tudo bem. Não podia ter sido melhor. — Gabriela disse em tom de provocação, se sentando do lado de Samira.

— Que bom. E desculpa perguntar assim, mas você trabalha com o quê? Ou só estuda?

— Eu trabalho, sim. Mas quem sabe um dia eu faça faculdade, também. — ela respondeu.

— Ah, é? Que legal. E como é seu trabalho?

— Eu faço live, e também algumas publicidades no Instagram, de vez em quando.

— Live? Tipo ao vivo? — Laura continuou perguntando, e eu quis bufar.

— Sim. Na Twitch. Não sei se a senhora conhece-

— Por favor, senhora não. — elas riram. — Depois você me mostra essa tal Twitch, ok? Fiquei curiosa.

— Mostro, sim. — Gabriela aceitou, e eu fiz uma série de caretas discretamente.

Talvez não tanto, porque Henrique viu e começou à rir da minha cara.

— Que foi? — me fiz de sonsa pra ele, que então imitou minha postura.

— Henrique, que pijama lindo. — Gabriela chamou a atenção do pivete, na mesma hora ele esqueceu que eu existo.

— Brigado! — ele agradeceu.

— Gostou do meu? Eu amo lilás. — ela fez uma pose e riu depois.

— É bonito. Mas eu prefiro verde. — Henrique disse, apontando pra sua roupa.

— Eu tenho um verde, também. Com estampa. Você gosta de estampa?

— Gosto! — o menino abriu um sorriso enorme, e eu fiquei indignada.

Como ela conseguiu conquistar todo mundo tão rápido?

— Eu conheço a Twitch, Gabi. Mas só vi umas duas lives até hoje. — Samira falou pra ela.

— Sério? Eu adoro. De trabalho, virou um hobby. A gente podia ver uma live juntas.

Nessa hora eu levantei, coloquei minha louça na pia e saí rapidamente. Fui até a sala e aproveitei a televisão liberada pra me distrair. Abri o Youtube e comecei à ver uns clipes de músicas que eu curto.

Relaxa, Viviane. Relaxa...

Gabriela conseguiu me deixar com tédio até em casa. Não consigo pensar em nada mais de legal pra fazer. Após horas inúteis perambulando pela casa, volto pra cozinha e só tem a minha ex amiguinha e a Samira lá. Praticamente fim de tarde e elas ali ainda?

— Samira. — chamo-a.

— Oi. — ela se aproximou.

— Vamo sair pra algum lugar? Tá muito chato aqui, e hoje é sábado, lembra? — pisco de forma divertida.

— Boa ideia! Quer vir também, Gabi? — Samira olhou pra garota logo atrás dela.

— Não! — eu exclamei antes que ela respondesse. — Eu chamei só você.

— Ah, mas-

— Não tem problema, Samira. Eu vou sair, de qualquer jeito. Já tenho compromissos marcados. — Gabriela passa por mim sorrindo debochadamente.

Fecho os olhos com força.

— Calma, Vivi. — Samira toca no meu braço.

— E você, hein? Deu pra ser amiguinha dela, agora?

— Eu só fui simpática. Você queria que eu ignorasse ela, ou tratasse mal que nem você tá fazendo?

— ...Tá. — acabei aceitando os fatos. Realmente, não posso obrigar os outros à seguirem os meus princípios. — Ainda quer sair?

— Quero. Mas aonde vamos? — ela deu pulinhos de alegria.

— Hm...cinema? Barzinho? Confeitaria? — disse a última palavra com água na boca.

— Que tal cinema e depois barzinho? — Samira sugeriu e na hora achei ser uma ótima sugestão.

— Boa. Vou me trocar.

— Eu também. — fomos cada uma pra seu quarto.

Enquanto eu escolhia minha roupa, Gabriela apareceu na porta. Por um momento esqueci que ela também dormia aqui, e quis expulsa-la. Mas aí...

— Depois eu venho. — ela deu as costas ao me ver.

— Ei. — eu falei, fazendo com que ela parasse. — Faça seja lá o que você veio fazer aqui.

— Achei que era pra nos ignorarmos. — ela levantou uma sobrancelha.

— Achou certo. Mas eu só falei com você agora porque achei que era o correto. Já que o quarto também é seu, fazer o que...

— Acordou melhor, então? Menos insuportável? — ela foi até o armário e retirou dele uma bolsa de maquiagem.

— É que é difícil me acostumar com certas pessoas, sabe? — acabei pegando qualquer roupa de forma bruta.

Tava quase desistindo de sair.

— Sério, Vivi, você é muito infantil. — ela balançou a cabeça em negativo. — Tá pior que os filhos da Laura.

— Desculpa, Gabi, vou tentar ser mais madura daqui pra frente, tá bom? Acho que vou...forçar as pessoas à fazerem o que elas não querem e depois sair como a vítima. Assim como você. — joguei os cabides com força no chão e saí do quarto, indo em direção ao banheiro.